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Juros mais altos e novas exigências deixam vagas em aberto no Fies

19/08/2016 | Por: Jornal NH | 1846
Foto: Agência Brasil Fies é o principal financiamento público para jovens cursarem a universidade

Para muitos brasileiros, o acesso à universidade só é possível por meio de programas como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), que cresceu mais de 7% entre 2010 e 2013. Na época, o Fies oferecia juros de 3,4% ao ano. Mas de acordo com levantamento do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp), esta realidade mudou. Atualmente, com taxa de juros a 6,5% e inúmeras exigências, quase a metade das vagas oferecidas por meio do programa em todo o País deixaram de ser preenchidas. Na região, a situação aparentemente não mudou muito para o segundo semestre. De cinco instituições de ensino superior, quatro informaram que está previsto para o segundo semestre um total de 316 financiamentos pelo Fies, sendo que ao menos 83 deles já foram encaminhados.

Entidades ligadas à educação e às universidades argumentam que as novas regras do Fies, como o rigor no processo seletivo e a diminuição no valor a ser financiado, estão entre as causas das vagas ociosas. Foi o que ocorreu com a aluna Raquel Spengler, 22 anos. “Fiquei empolgada em poder começar a universidade e vi no Fies uma boa alternativa, mas o sonho durou pouco. Quando comecei a fazer o cadastro percebi que muita coisa tinha mudado. Pediam um monte de documentos e no fim o valor que eu conseguiria financiar não chegaria a 60%, o que ficou inviável”, lamenta.

Feevale

Dificuldades enfrentadas por acadêmicos como Raquel são perceptíveis para universidades da região, como a Feevale, em Novo Hamburgo. No primeiro semestre deste ano, 23 vagas do programa ficaram em aberto na instituição. “As exigências e os prazos dificultam a contratação. Uma das mudanças mais significativas é a redução do percentual financiado, pois o saldo a pagar pelo aluno para a instituição é alto e inviabiliza a adesão ao programa”, analisa a gerente de atendimento Financeiro e Financiamento Estudantil da Feevale, Samanta Reichert. Ela conta que para o segundo semestre, a universidade foi contemplada com 107 vagas, das quais 78 candidatos já realizaram a matrícula.

Falta dinheiro para o financiamento

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), Janguiê Diniz afirma que a redução do número de vagas vem acontecendo desde o início de 2015, por meio de portarias do Ministério da Educação, para amenizar a falta de recursos. A pasta também estipulou normas que restringem o acesso dos estudantes ao programa, o que gerou aumento no número de vagas ociosas. Em julho, o ministro da Educação, Mendonça Filho, chegou a admitir que o Fies estava ameaçado pelas restrições orçamentárias, ao justificar medida provisória editada pelo presidente interino Michel Temer que prevê que parte da remuneração aos bancos, o equivalente às taxas administrativas, seja custeada pelas instituições de ensino, numa economia de R$ 400 milhões ao governo. Em nota, o Ministério da Educação informa que o orçamento previsto para o Fies neste ano é de R$ 18,7 bilhões. A pasta destaca que uma das novidades deste processo seletivo é a abertura de portaria para ocupação das vagas remanescentes.

Sinepe credita vagas ociosas às exigências e à crise

Segundo as novas regras, que passaram a valer este ano, a renda mensal não pode ultrapassar três salários mínimos. Para obter 90% da mensalidade, por exemplo, é preciso ter renda de meio salário. Para o presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe), Bruno Eizerik, esta é a principal razão para o grande número de vagas não preenchidas. “O governo colocou teto no valor que a pessoa ganha. Assim, para os candidatos que têm renda um pouco maior, o financiamento não chega a 40%, 50% do curso. Também não podemos esquecer que isso tem relação com a crise econômica.”

O que dizem as instituições da região

Unisinos

De acordo com o gerente de Ação Social, Nestor Pilz, a universidade recebeu 136 vagas que estão sendo distribuídas entre São Leopoldo e Porto Alegre. “A procura pelo Fies continua acontecendo, mas o perfil dos candidatos mudou em função dos novos critérios para acesso ao financiamento. Assim como ocorre nas outras universidades, na Unisinos também não foram preenchidas todas as vagas ofertadas no primeiro semestre”, relata, sem detalhar o número de vagas preenchidas.

Ulbra

Segundo a diretora financeira da Associação Educacional Luterana do Brasil (Aelbra), mantenedora da Ulbra, Ângela Enilda Vidal Ferreira, os alunos estão optando pelas linhas de crédito de forma particular, já que muitos não conseguem se encaixar nas novas regras impostas pelo MEC. “Eles querem o Fies, mas muitas vezes não conseguem sequer concluir o cadastro no Sisfies devido às regras que alteraram e então procuram a instituição na busca de outras alternativas. Também por não terem Enem ou nota mínima, acabam não conseguindo se cadastrar”, menciona.

Faccat

As Faculdades Integradas de Taquara (Faccat) dispõem de 65 vagas para o segundo semestre deste ano. O maior número de vagas do Fies é para os cursos de Engenharia de Produção, Psicologia e Enfermagem. A procura continua intensa desde 2015 para todos os cursos, mas a oferta de vagas é pequena para atender toda a demanda.

Ftec

Somente na unidade da Ftec de Novo Hamburgo, no primeiro semestre foram ofertadas 28 vagas pelo Fies, sendo que cinco não foram ocupadas. Neste segundo semestre, a oferta foi reduzida para oito vagas na unidade, sendo que destas ainda há cinco disponíveis. “A procura pelo financiamento ainda é grande por parte dos alunos, mas a ocupação das vagas é limitada diante dos requisitos impostos pelo Fies, que ao serem selecionados, em muitos casos, não conseguem comprovar a documentação exigida pelo programa, o que ocasiona a sobra considerável de vagas”, informa a instituição, em nota.