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A educação no reino de Óz

06/11/2019 | Por: Estadão | 3235
Foto: ABMES/ Edgar Marra

Ao longo da minha vida como educador, observei que alguns teóricos preferem entender a educação do ponto de vista meramente cognitivo, cerebral. Para eles, educar seria dotar a mente humana de conhecimentos que propiciam uma vida melhor e mais ilustrada. É o que eu chamaria de “modelo do balde”: enchemos de pedrinhas o cérebro do aluno, até que lá não caiba mais nada. Paulo Freire, de forma crítica, chamaria esse modelo de “educação bancária”: meros depósitos mentais, sem nenhum valor a não ser a sua utilidade prática. Mas seria apenas essa a tarefa de educar? Em tempos de Inteligência Artificial, será que no futuro os algoritmos não farão esse papel?

Outros, mais sintonizados com o espírito humano, falariam que a Educação precisa também incluir o coração, mexer com os sentimentos dos alunos, faze-los aprender a gerir suas emoções, em toda a diversidade que simboliza a rica experiência humana.

A Educação, para esses, seria como um “holofote”: ativado, nosso coração iluminaria o caminho, indicando a melhor direção para levar uma vida produtiva e feliz. Mas só as emoções são suficientes para criar cidadãos no mundo de hoje? Não estaríamos confundindo nossas paixões e desejos com o que realmente importa para levar uma vida produtiva?

Eu quero falar aqui de uma terceira visão sobre a educação, uma visão complementar às outras duas, que é a educação do caráter: educar é fazer brotar no espírito dos alunos os valores que guiarão sua vida, em todas as direções. Uma educação de valores é também uma educação espiritual, fazendo-nos conectar com o que está além da mera matéria, do mero pensamento, da mera emoção. Uma educação de valores é a educação da transcendência, por excelência. Eu chamaria, a esse, o modelo “holístico” da Educação, um modelo capaz de unir mentes, corações e valores na construção de um ser humano mais completo e mais realizado.

Lembro, para ilustrar essa visão multidimensional e holística da educação, a parábola do Mágico de Óz, na célebre estória imortalizada por L. Frank Baum em seu livro do século passado, e lembrada por todos os que se encantaram pelos desafios de Dorothy na busca por si mesma.

No caminho para o Reino de Óz, Dorothy encontrou três anti-heróis: o Espantalho, o Homem de Lata, e o Leão Covarde. O Espantalho queria ter um cérebro. O Homem de Lata ansiava por um coração. E o Leão Covarde lutava para ter coragem.

A todos três faltava algo: a um, um cérebro, a outro, um coração, a um terceiro, um ímpeto de coragem. Pois aqui estão as três dimensões de uma educação verdadeiramente holística: precisamos de educadores que integrem o correto pensar, o correto sentir e, principalmente, o correto agir. Alunos precisam de cérebros fortes, mas também de corações generosos e de boas doses de coragem para transformar seus sonhos em realidade. Razão e emoção, guiadas por atitudes e valores corretos, é o que precisamos.

Somente assim poderemos desfazer os mitos do Mágico de Oz, e conquistar a plena realização que, de fato, buscamos aqui na terra, essa que chegará, na tradição judaica, com a vinda do Messias. Enquanto isso, nos cabe, como educadores, preparar o mundo, fazer o que chamamos em hebraico de Tikkun Olam, o conserto do mundo, e o caminho para isso é a Educação. Com cérebro, coração e coragem, vamos juntos construir uma educação digna do país que desejamos.


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