Mardele Eugênia Teixeira Rezende*
Especialista em Direito Trabalhista e autora de livros na área
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Quando surgiu o assunto “eSocial”, logo me interessei. Minha situação era confortável: já não atuava mais como Gerente de Recursos Humanos. Isso significava que poderia estudar o projeto eSocial com calma, isenta da obrigação de implantá-lo, mas não do dever de passar minha experiência para outros gestores.
Saber que poderia contribuir com quem enfrenta uma rotina digna de super-heróis nas organizações foi outro fator que me motivou. Mas não faria isso sozinha! Para unir outras formas de pensar fazendo com que o meu objetivo se materializasse, convidei dois colegas para ministrar treinamentos e escrever sobre o eSocial. Um deles trabalha na implantação do projeto junto à FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais). Além de conhecer muito de tecnologia da informação, ele tem um talento enorme para lidar com pessoas. Ricardo Alexander é “o cara”. Marilene Silva possui vasta experiência na área de Recursos Humanos, e atua como uma espécie de conselheira do trio. A publicação do livro “eSocial prático para Gestores” (Ed. Érica/Saraiva) foi em maio, e a segunda edição já está a caminho.
Para quem ainda não está por dentro do assunto, é bom ficar atento, pois de alguma forma o eSocial irá impactar na sua rotina e no seu futuro, pessoal e profissional. Podemos afirmar que este é o maior e mais complexo módulo do SPED - Sistema Público de Escrituração Digital. Nesse projeto, o governo visa unificar o envio de informações prestadas pelos empregadores em relação aos seus empregados. No nosso livro ressaltamos os impactos para os trabalhadores, organizações e governo; explicamos o projeto e elencamos os passos necessários para sua implantação e gestão.
Neste artigo, ressalto sobre uma armadilha que acarreta prejuízos enormes para os empregadores, e na implantação do eSocial essa perda poderá tomar proporções ainda maiores!
Investir nos “sistemas e processos” para adequação ao eSocial e deixar o investimento nas “pessoas” para depois, ou mesmo minimizá-lo, poderá acarretar prejuízos inimagináveis. Para entender melhor, passo a exemplificar cada um desses pilares e instigar você, leitor, com algumas perguntas.
Os processos são atividades ordenadas, e quanto mais enxutos e ágeis, mais fáceis de serem executados. Tarefa árdua, principalmente para grandes organizações, afinal, quanto maior, mais complexo é o seu funcionamento e mais processos existem entre seus sistemas. Em tese, não existe um produto ou um serviço sem um processo por trás. Sobre “processos” no momento de se fazer a adequação ao eSocial, responda:
- O processo de admissão dos empregados na sua organização atende a legislação vigente?
- Em quanto tempo um candidato aprovado estará apto a iniciar suas atividades?
- Quais informações pedem o eSocial e qual é o prazo de envio do arquivo de admissão?
Já os sistemas são como um quebra cabeça. Cada peça tem um objetivo e o momento certo para ser utilizada. Não podem ser trocadas de posição ou encaixadas em qualquer lugar ou momento. Para o eSocial, por exemplo, será preciso identificar se o sistema de folha de pagamento possui todas as informações e atende a todos os campos do leiaute fornecido pelo governo. Neste momento, temos que obedecer a uma sequência de informações que inicia no cadastro dos dados do empregador. Em seguida devemos verificar se todas as regras estão corretas (cargos, horários, proventos e descontos, etc). Depois enviamos o status dos empregados ativos para o portal do eSocial, e em seguida, os dados do empregador e das políticas e regras internas.
Essa sequência lógica de informações permitirá que o governo saiba a situação atual do trabalhador em relação ao seu empregador, e qualquer alteração deve ser enviada posteriormente. Tudo isso, no prazo legal. Só assim é que conseguiremos enviar as informações de pagamento para cada empregado e ter a validação do eSocial.
Além disso, será preciso identificar e adequar outros sistemas envolvidos no processo do eSocial dentro da organização, por exemplo, os da área de Segurança e Medicina do Trabalho.
Falamos dos “processos” e dos “sistemas”, mas não falamos de outra parte importante: as “pessoas”. Os primeiros podem ser até copiados, já as pessoas são diferenciais para qualquer tipo de negócio.
- Será que o investimento no desenvolvimento das pessoas acompanha o que se investe em sistemas e processos?
Quanto mais treinadas e envolvidas, mais as pessoas serão assertivas com relação aos processos e sistemas. O investimento em pessoas é capaz de transformar atitudes reativas em proativas e é este perfil que o eSocial pede.
Faço parte de um grupo de profissionais que observa a atuação da nova geração onde a diminuição do comprometimento na relação empresa x trabalhador é evidente. Muitas vezes constatamos esse novo perfil junto aos nossos filhos. A rotatividade já é uma estratégia desses jovens, que cobram apoio e feedback proveitoso, em vez de punições e represálias.
- Como adequar os processos antigos de RH ao eSocial e ao novo perfil desses profissionais?
São apenas algumas reflexões, que não esgotam o tema, mas servem para evidenciar a importância da tríade “processos, sistemas e pessoas” na implantação do projeto eSocial.
Sabemos que essa nova obrigação legal tem sido marcada por dúvidas e receios. Podemos dizer que o governo entregou um limão para os empregadores, agora, temos que transformá-lo em uma limonada. O cenário preocupa, pois, somado às dificuldades técnicas para implantação do eSocial, está a situação econômica do país. Mas não há motivo que justifique a inércia dos empregadores. O “dever de casa” precisa ser feito. E você, quer tirar nota dez nessa tarefa? Então fortaleça a tríade “processos, sistemas e pessoas” e transforme o eSocial em oportunidades de melhoria!
* Mardele Rezende será expositora no seminário que a ABMES realizará no dia 09 de agosto sobre o tema "Os impactos do eSocial: o que muda na rotina das IES". Faça sua inscrição para saber mais sobre o projeto. Clique aqui!




