Fernando Domingues*
Diretor de Inovação do Grupo Eniac
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É motivador ouvir cada vez mais educadores e gestores de instituições de ensino que têm adotado práticas de inovação em aprendizagem em suas salas de aula e escolas, respectivamente. Nos últimos meses, dos colegas da área de educação que tive contato, foi uníssona a preocupação destes em evoluir o modelo de sala de aula e trabalhar com metodologias e estratégias pedagógicas que sejam mais engajadoras e eficazes para os estudantes. Os meios de atingir esses objetivos tem sido diversos. Vejo muitos adotando novas tecnologias educacionais (em 2016 nos tornamos case da Google for Education e desde lá temos recebido no Eniac visitas de muitos colégios e universidades do Brasil), outros investindo em laboratórios e espaços de aprendizagem inovadores, mas, principalmente, instituições implementando metodologias ativas de aprendizagem através da capacitação docente.
Em meio a esse cenário promissor, o questionamento que levanto para instituições de ensino, gestores e educadores, é: será que investir em ações como essas, de forma isolada, é o bastante para alcançar os objetivos que almejamos? Temos sempre que ter em mente que inovação é um meio, não um fim, assim sendo, aonde queremos chegar ao investir e apoiar processos de inovação? Será que essas minhas iniciativas são o bastante ou elas são o que posso nesse momento? Será que essa é a melhor inovação para se chegar a esse resultado?
Em minhas pesquisas e estudos, tenho me enveredado pelo campo da gestão da inovação. Essa área se dedica ao desenvolvimento de mecanismos para acompanhar e gerir os processos de inovação. Desde a exploração em busca de novos métodos, processos, produtos, passando pelas etapas de ideação e alocação de recursos, até a implantação e medição de resultados que são seguidos por um processo de aprendizagem que leva à melhoria da inovação e do processo de implantação. A gestão da inovação prevê a concepção de pensar a inovação como um processo sistêmico, complexo e que envolve aspectos organizacionais – como a alocação de recursos e gestão da implantação – e institucionais – como cultura organizacional e aspectos regulatórios.
Ao analisar as inovações que nossas instituições de ensino têm adotado sob essas lentes, percebemos que, de forma geral, falta gestão em nossos processos de inovação. Percebemos que muitas vezes as metas que almejamos alcançar através dessas inovações não são bem definidas, mas, em geral, o que mais se observa é que esse objetivo não captura os objetivos estratégicos da instituição como um todo.
Logo, o maior desafio, nesse momento, para as instituições de ensino que estão investindo em inovação, é gerir essas como um processo organizacional sistêmico. Isso significa alinhar os níveis estratégico, gerencial e pedagógico em direção aos objetivos determinados, do qual as inovações acadêmicas são o meio de atingi-los.
De forma geral, nossas instituições têm endossado iniciativas isoladas, na maioria dos casos, adotando um conjunto de ações, mas, em geral, tem se discutido pouco um planejamento estratégico de inovação acadêmica que defina realizações nos níveis estratégico, gerencial e pedagógico que se complementem e apoiem esse processo de mudança.
Em cada nível essa inovação tem iniciativas diferentes. No nível pedagógico, temos exemplos como a adoção de novas metodologias e estratégias pedagógicas por parte de nossos professores, a elaboração de novos critérios de avaliação mais alinhados com nossos objetivos, o uso de tecnologias em sala de aula, a curadoria de conteúdos digitais e o redesenho dos planos de ensino e aprendizagem. No nível gerencial, a reestruturação dos ambientes de aprendizagem, a implantação de tecnologias educacionais, capacitação docente e o re-design curricular. No nível estratégico, a gestão de mudança, a reorganização do modelo de negócios da instituição e a criação e gestão de indicadores que meçam o impacto dessas inovações nos índices de retenção e captação de estudantes.
Tenho ouvido no relato de muitos colegas os conflitos gerados pela falta de alinhamento entre esses níveis. Que as iniciativas pedagógicas, como a adoção da aprendizagem baseada em projetos, estão gerando problemas para os níveis gerenciais, como a falta de um currículo interdisciplinar que apoie os projetos. Ou que o nível estratégico, por falta de um processo de gestão de mudança, não tem dado o apoio necessário aos outros níveis, que estão investindo em inovações e lidando com a resistência institucional da cultura estabelecida.
Em resumo, precisamos gerir esse processo de inovação. Se no nível pedagógico temos professores sendo capacitados para trabalhar com metodologias inovadoras de aprendizagem, temos que ter no nível gerencial coordenadores e diretores dispostos a redesenhar os currículos dos cursos, propor novos ambientes de aprendizagem e implantar tecnologias educacionais. No nível estratégico, diretores, reitores e mantenedores precisam estar dispostos a construir uma nova cultura organizacional, desenhar novas modalidades de ensino e novos cursos, e adotar novas estratégias de captação e retenção baseadas na inovação acadêmica.
Mas como colocamos tudo isso em prática?
Sem dúvida começa respondendo a pergunta de: aonde queremos chegar com toda essa inovação? Inovações são processos que melhoram ou mantém a competitividade e o impacto dos negócios, sendo a competitividade a nossa capacidade de nos destacarmos no mercado e o impacto a nossa razão de existir como instituição, qual é melhoria que queremos nesses dois níveis ao implementar essas inovações? E por fim, quais são as iniciativas, então, que devo investir agora e no futuro para atingir esses objetivos?
* Será moderador no GEduc 15 anos durante o VI Fórum de Inovação Acadêmica




