A primeira parte deste artigo (caso não tenha lido, clique aqui) terminou com uma pergunta: a “inteligência emocional” (Dr. Daniel Colleman), modelo socioemocional mundialmente conhecido e reconhecido, pode ajudar quem passa por desconfortos emocionais durante o isolamento? A resposta certamente é sim. Perceba que estamos falando sobre emoções básicas, como raiva, tristeza e medo, além de estados emocionais comuns, como ansiedade, mal humor, impaciência, solidão e agressividade. Ou seja, uma inteligência emocional bem desenvolvida consegue gerenciar com menor dificuldade essas emoções e estados emocionais, aplicando diversas ações positivas como se fossem antídotos.
Estamos falando de soft skills como paciência, resiliência, compaixão, confiança, abstração, aceitação, gratidão e automotivação, que são competências desenvolvíveis com a devida dedicação e esforço. Então, lidando de uma maneira mais direta, o primeiro passo é tomar consciência sobre o que está de fato acontecendo. É irritação? É mal humor? É medo? É solidão? É carência? É tristeza? É abstinência? Se estou sofrendo com esse isolamento em algum nível, o que de fato está acontecendo comigo? Defina o que está sentindo e porque está sentindo. Além disso, deixe claro qual o resultado a partir desses estados emocionais, que te levam ao “sofrimento”. Exemplo: Brigo com a minha esposa. Não consigo dormir direito. Fico tentando chamar atenção e incomodo as pessoas próximas. Como demais. Fico muito controlador. Falo mais do que deveria. Etc.
Depois que a situação for identificada com mais clareza, procure estabelecer uma estratégia bem definida para lidar com ela. Se for tédio, planeje o seu dia, com todas as atividades que vai desenvolver, de preferência incluindo atividades físicas, entretenimento e meditação. Se for solidão, mesmo não sendo a mesma coisa, procure estabelecer contato com as pessoas mais queridas pelas redes sociais e canais digitais, sem medo de parecer carente, mas com moderação. Lembre-se que esse contato é fundamental para a sua saúde emocional e mental. Se estiver sofrendo com a perda do hábito, será importante a criação de um novo hábito que substitua o anterior, que está impossibilitado. Uma autêntica adaptação, que deve acontecer o mais rápido possível. Ou se for possível para você, pratique o desapego. Além disso, para lidar com a ansiedade e medo desnecessários, evite o exagero no consumo de notícias sobre a pandemia.
Quando acontece uma imersão constante neste assunto a tendência é que esses estados emocionais fiquem bem ativos. Informe-se sim, mas não deixe que isso se torne uma fixação. No caso da dependência afetiva, procure utilizar a tecnologia para manter o contato com essa pessoa, sempre praticando a aceitação e a resiliência. Lembre-se que isso é temporário, e que com os devidos cuidados, certamente vai passar. Felizmente nos dias de hoje a tecnologia está avançada o suficiente para ajudar com isso, então também aproveite para praticar a gratidão. No caso de impaciência e mal humor, a melhor maneira para lidar com esses dois estados emocionais é compreender que eles são sua total responsabilidade.
Quando acreditamos que a nossa impaciência e o nosso mal humor são estados emocionais causados por alguém ou alguma situação externa, deixamos de perceber que de fato eles são o resultado da nossa inabilidade emocional em lidar com esses fatores externos, mesmo quando são negativos. Por isso, a sua impaciência e o seu mal humor são responsabilidade sua, e agir com paciência e bom humor é uma questão de auto-observação e vontade. Mais do que isso, é uma questão de afeto para com o outro.
Enfim, desenvolva a sua estratégia pra lidar com o seu desconforto emocional. O que não deve acontecer é simplesmente deixar para lá e seguir sofrendo, como se algum fator externo precisasse acontecer para que a melhora seja possível. Porque, de fato você pode lidar com ela, se assim quiser, bastando parar para pensar sobre isso e agir de acordo com o plano, se readaptando e procurando praticar soft skills como, gratidão, resiliência, abstração, autocompaixão, paciência e confiança. E ainda, é importante considerar, que as emoções consideradas “negativas”, como raiva, medo, tristeza e ansiedade, estão intimamente relacionadas com a produção de hormônios específicos, que são despejados na corrente sanguínea. Por isso, dependendo da qualidade dessas emoções e dos hormônios produzidos, acontece a baixa no sistema imunológico. Ou seja, a inteligência emocional incide diretamente na saúde do corpo físico. Esse é o princípio da psicossomática.
Como conclusão, se a quarentena está muito desafiadora, acredite que você pode lidar com as baixas emocionais e a sua estratégia certamente surgirá, fazendo a sua inteligência emocional se desenvolver cada vez mais, e consequentemente a sua qualidade de vida, mesmo diante desse cenário sombrio.




