Prof. Dr. Sergio Marcus Nogueira Tavares
Controller da Universidade Metodista de São Paulo
***Sua instituição está sob controle? Seus relatórios contábeis e financeiros são fechados e divulgados periodicamente? A organização já sofreu alguma fiscalização por descumprimento de obrigações societárias? Os atos da gestão são monitorados por sua governança? Existem procedimentos de controle interno nas diversas áreas de operação? A instituição conhece os seus riscos e os tem gerenciado? Enfim, é uma organização confiável, transparente e que tem boas práticas de gestão ou não?
Tais indagações fazem sentido numa organização escolar e universitária ou se prestam somente ao universo das indústrias e demais corporações do mundo dos negócios? Qual é o lugar da função controle numa organização com esse papel e natureza?
Estamos no século XXI. Não há espaço para improvisações e amadorismo. Independentemente do tipo societário, do status acadêmico (creche, colégio, faculdade, centro universitário ou universidade), do tamanho ou do volume das operações, a função controle é de vital importância para a vida longa das organizações que operam na educação privada. A segregação de funções de gestão e de controle, a definição e monitoramento de processos, o limite através de alçadas, enfim, um conjunto de boas práticas nesse campo configura a profissionalização da gestão numa organização, o que passa, inevitavelmente, pela criação de áreas específicas voltadas ao desempenho de tão importantes funções no âmbito do controle.
Vale destacar que a Controladoria é muito mais do que a manutenção de uma contabilidade atualizada. Ela tem um papel estratégico na estrutura de governança da Mantenedora, projetando valores, prospectando cenários à organização e conferindo transparência interna e externa, algo fundamental à credibilidade institucional.
Suas atividades se revestem de importância como parte do fornecimento de instrumental para o planejamento estratégico e na simulação das macrotendências da operação. Se a contabilidade registra o passado e fotografa o presente, a Controladoria articula esse cenário com o futuro, lançando luzes, na forma de informação confiável, para a gestão.
Transformar dados em informações estratégicas e daí em inteligência são etapas que podem significar a sobrevivência ou não de uma organização num cenário exigente e competitivo. O desenvolvimento e monitoramento da instituição através de indicadores se tornou uma exigência, até pelas demandas da avaliação institucional a que o sistema vem sendo submetido por força de Lei. Esse é uma das tarefas fundamentais de uma controladoria sintonizada com a contemporaneidade.
Além disso, ressalte-se a importância de uma cultura de controle nas organizações, algo nem sempre valorizado na área educacional. Se as empresas operam com rigor no que se refere ao controle dos seus recursos, assistimos ainda na gestão pública, em diferentes níveis, episódios lamentáveis de corrupção. Operando muitas vezes numa racionalidade que permeia entre o público e o privado, é importante que as instituições educacionais deem exemplo à sociedade de boa gestão e de controle dos recursos que lhes estão disponíveis. A adoção de boas práticas de gestão, a implantação de controles internos e processos sistematizados, bem como o zelo na divulgação de demonstrações é parte dessa cultura. Essas áreas aqui mencionadas tem papel vital nessa direção.
Outro papel importante, articulado entre as áreas de controle e de gestão, é o de gerenciamento dos diferentes riscos existentes na atividade educacional. Conhecer os riscos bem como classificá-los quanto à sua importância e intensidade, esboçar um plano de gerenciamento para acompanhamento e ação efetiva, conforme o caso é algo que os gestores não devem descuidar numa instituição educacional.
Nessa mesma esteira, o papel do trabalho de uma auditoria, seja ela interna ou externa, se reveste de importância para validar e/ou criticar os procedimentos adotados de controle interno e as demonstrações produzidas pela área contábil. A relação da instituição com o governo, os agentes financeiros e demais stakeholders pressupõe que esses agentes terão acesso às demonstrações contábeis e ao balanço social da instituição, para o que sua validação por auditoria independente representa um salto qualitativo sem precedentes.
Vale destacar que existem empresas de auditoria independente capacitadas no conhecimento do setor educacional privado e que, a partir de um acumulado de atuação nessas organizações, somado ao arcabouço próprio de um trabalho na área, muito têm a contribuir na profissionalização do setor, na melhoria dos processos, na otimização dos recursos e na qualidade dos serviços de suporte contábil-financeiro.
O fortalecimento dessas áreas nas organizações educacionais não deve ser encarado como diferencial presente nas organizações de porte e de estrutura mais complexa, mas precisa ser entendido como exigência para a vida longa de qualquer instituição. Diferente disso é visão míope, sem perspectiva, e que em nada ajuda no desenvolvimento requerido de instituições que, além de se apresentarem saudáveis, têm compromisso social relevante com a sociedade brasileira.
Finalmente, vale apontar que o setor educacional muito tem a avançar nessa área e seus dirigentes precisam operar com clareza dessas questões, sem romantismo e falsas ilusões. Reconhecer isso pode ser o primeiro passo nessa direção.




