Prof. Antonio Veronezieducador, chanceler da Universidade Guarulhos (UnG) e membro da Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP)
***Hoje, as instituições de ensino superior brasileiras se constituem na condição de sociedade civil com fins lucrativos. Muito ao contrário dos anos 60, 70 e 80, quando eram obrigadas a se constituírem sem fins lucrativos e não podiam sequer distribuir resultados ou aplicar recursos obtidos em outros fins. Dessa forma, as instituições eram compostas, quase que em sua totalidade, por professores e dirigentes provenientes de escolas de 2.º grau. O que esses profissionais recebiam era um salário compatível com a função de dirigente, que pagariam se tivessem de contratar algum profissional no mercado.
As IES já nasciam com o espírito de promover o melhor nível de educação possível, atendendo apelo pela expansão do então ministro da Educação, Jarbas Passarinho. Professores pós-graduados eram raridade; o que se encontrava, mesmo assim com dificuldade, eram docentes com cursos de especialização ou extensão. Aprovar a criação de cursos era uma verdadeira batalha, tal o rigor com que os órgãos competentes examinavam as condições da mantenedora, assim como a necessidade social do local onde se instalariam os cursos e a estrutura física da instituição.
Com a legislação atual permitindo (quase obrigando) a constituição de instituições com fins lucrativos e facilitando as condições para implantação de faculdades, no afã de atender à demanda cada vez maior, surgiram escolas em locais onde não eram necessárias e com estruturas abaixo do ideal. Não todas, evidentemente, mas muitas. Com essa proliferação, provocada sob o argumento de “formar mais" e "dar mais oportunidades", passou-se a exigir menos no processo de autorização para o funcionamento dessas entidades, o que possibilita que invistam menos em qualidade e pratiquem preços bastante pequenos em suas anuidades. Por outro lado, as instituições mais antigas, com suas estruturas já instaladas, comprometidas com seus custos para manter a qualidade, não podem (e não querem) recuar, uma vez que possuem comprometimento social.
Com o afrouxamento das regras e o consequente (ou inconsequente) declínio da qualidade educacional de algumas IES, o que observamos é a preocupante formação de profissionais cada vez menos preparados para enfrentar os desafios do mercado de trabalho, que se impõe bastante exigente em virtude de uma internacionalização e informatização latentes.
Muitas faculdades e universidades antigas passaram a se render a grupos de investidores nacionais e internacionais, que, com administradores profissionais e competentes, criaram os chamados conglomerados. Esses grupos praticam uma economia de escala, que deu alento e sobrevida a quem buscava novas soluções, como instituições que, já antigas, criadas por grupos familiares, não tinham se profissionalizado.
Como consequência deste cenário, ocorre a fusão do desespero. Faculdades menores que se instalaram no entusiasmo e sem planejamento, que acabaram não gerando o resultado almejado por seus fundadores, e outras mais antigas que não tiveram sucessão nem profissionalização se renderam aos grandes conglomerados, foram vendidas ou transferidas no desespero. O resultado disso pode ser comprometedor ao futuro do País. É necessário que se tomem providências para controlar e ajustar esses movimentos tão arriscados. É muito provável que estejamos diplomando muito mais gente do que no passado, mas formando muito menos.
Que haja lucro na atividade educacional, nada de errado. Mas que não se deixe em segundo plano a qualidade do ensino ministrado aos jovens, que, iludidos por propagandas maravilhosas ou baixíssimos preços dos serviços, acreditam em instituições que nada lhe vão fornecer ao final do curso, além de um diploma sem muito valor para um mercado que, apesar do aumento no número de profissionais nos últimos tempos, vive um período de escassez de mão de obra realmente preparada.




