Prof. Antônio de Oliveira Professor universitário e consultor de legislação do ensino superior da ABMES (1996 a 2001) antonioliveira2011@live.com ***

Às vezes, diante de uma criança, fico imaginando como essa criança, homem ou mulher, será amanhã, física, profissional e moralmente. E me lembrando de como Machado de Assis inicia o Capítulo 11 de Memórias póstumas de Brás Cubas: “O menino é pai do homem”. Com efeito, na criança está latente o adulto; no adulto está patente a criança que ele foi, ou melhor, que ainda está nele. Eterna criança. Eterna criança que se manifesta quando o pai vai soltar papagaio com o filho e, em vez de deixar a criança se divertir, ele mesmo faz o brinquedo subir aos ares. E o menino fica ali, parado, a ver como o pai se diverte. Isso também acontece quando o adulto dá um brinquedo eletrônico a uma criança... O escritor belo-horizontino Fernando Sabino deixou seu epitáfio pronto: “Aqui jaz Fernando Sabino. Nasceu homem e morreu menino”. Rimando Sabino com menino. Essa inscrição tumular espelha a alma de um garotão. Às vezes se fala em eterna juventude, mas, antes da juventude, permanece a eterna criança. Diz-se, ou se dizia que aos 7 anos de idade se chega ao uso da razão. Nunca entendi bem essa referência ao tempo para o uso da razão. Na verdade, pode acontecer que “as pessoas, quando chegam a adultos, fecham os corações e abrem as cabeças, onde só passa a existir o racional”, como consta dos Cadernos de Lanzarote, de Saramago. Assim mesmo, um racional às vezes difícil de razoar, haja vista tanta violência praticada pelos adultos. Naquela mesma página Saramago se refere a uma menina que “vem direita a mim com uma flor na mão, dessas sem nome que a Primavera faz nascer entre as pedras, e pergunta-me: – Quer?” Dia da Criança, para o adulto, é uma volta aos seus começos. Depois é que vieram os tropeços. Mas, como é bom pensar no hoje e no ontem, na criança de hoje e de ontem, num mundo que esperamos melhor. Dia de mais ingenuidade e de menos maldade. De simplicidade. De papa Francisco. Eh! Se não vos fizerdes como crianças!...