Célia Christina Silva Carvalho*
Diretora acadêmica da Faculdade Nobre
Diretoria.academica@gruponobre.net
***As pequenas e médias IES brasileiras enfrentam um brutal desafio embora representem mais de 60% de Instituições que atendem à demanda do Ensino Superior no Brasil, cuidando de interiorizar esse acesso, cumprindo relevante papel social, especialmente nos municípios marcados por tantas diversidades nos espaços menos privilegiados situados nas Regiões Norte e Nordeste.
Os desafios se apresentam para uma expressiva quantidade dessas faculdades onde as oportunidades são visivelmente melhores por questões históricas e as ameaças expressivamente maiores pelas mesmas questões históricas. Os desafios estão presentes... são prementes!
De modo geral, as PMIES dispõem de credibilidade regional e local, obtendo retorno em reconhecimento e valorização nesse processo. Ninguém atende tão bem à formação demandante como essas PMIES porque conhecem e interagem com os problemas locais/regionais. Nesse contexto, são imbatíveis. Entretanto, no cenário como um todo, vivenciam o enfrentamento à questão de grandes e poderosos grupos e à questão de EaD. Então, o primeiro maior desafio é garantir a sobrevivência das PMIES frente aos atuais confrontos e contrastes de condições favoráveis às grandes IES.
O outro desafio brutal são os impactos dos processos de regulação e de avaliação externa. Como é que as PMIES podem dar dos mesmos indicadores, das mesmas exigências que universidades federais centenárias dão, que os grandes grupos particulares atendem? Como não considerar suas características de porte e de situações socioeconômicas completamente adversas? Em país desigual, precisamos dispor de instrumentos avaliativos apropriados para atender às diversidades regionais.
As exigências vêm sendo atendidas pelas PMIES, sob condições de muito esforço e determinação, visando cumprir o estabelecido. A prática de transformar as fraquezas em forças, as ameaças em oportunidades tem sido a tônica dessa caminhada... e esta merece justo reconhecimento!
Sem dúvida que conquistar maior credibilidade e melhor qualidade é um desejo constante das faculdades - das nossas heroicas faculdades – junto aos órgãos reguladores e avaliadores. A garantia de permanência e sobrevivência delas decorre do fato de serem publicamente reconhecidas como detentoras de condições objetivas, de capacidade instalada, de excelência acadêmica.
Ainda dentro desse contexto avaliativo, existe a questão recorrente do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE). A realização de provas do ENADE, sempre em novembro, quando muitos alunos ainda estão envolvidos com as apresentações de TCCs e precisam se deslocar num domingo muito quente, para fazerem esta prova, que é aplicada em escolas públicas lamentavelmente sucateadas: carteiras desconfortáveis (quando não estão quebradas); sem ventiladores para abrandar a temperatura média de 40 graus, no horário local de 12 horas (13 horas em BSB) sem água potável, sem as mínimas condições favoráveis e tão adversas ao costumeiro conforto das salas das nossas faculdade, equipadas com ar condicionado, cadeiras acolchoadas, bebedouros e sanitários asseados. Há de se admitir o quanto esses fatores comprometem efetivas manifestações de conhecimento das competências e habilidades pretendidas. Como se exigir bom desempenho?
Muitas vezes, é fatal o resultado, lamentavelmente fatal, e este acaba representando um percentual de expressiva negatividade dentro dos indicadores decisivos para o IGC das IES (im)pondo situações de limites até para cumprir-se o PDI quanto às metas de expansão de vagas e de cursos.
Temos necessidade e capacidade de atender às múltiplas demandas sociais e regionais. Os dados estatísticos indicam a demanda contida – na faixa etária de 18 a 24 anos- do Nordeste, onde mais de 85% de jovens ainda não têm acesso ao ensino superior. Estamos tentando contribuir para cumprimento das metas do PNE, mas nos faltam autonomia e agilidade frente às sansões impostas num ciclo desse IGC, tendo em vista, sobretudo, os resultados do ENADE .
Destacamos algumas sugestões para fortalecer e valorizar nossas instituições, lhes oferecendo o justo e merecido reconhecimento e adequadas possibilidades de continuar sobrevivendo:
- instrumentos avaliativos compatíveis com as assimetrias regionais das PMIES;
- composição de segmentos associativos específicos para essas IES, dentro da própria ABMES;
- maior valorização dos investimentos em infraestrutura física, técnica e tecnológica das IES nos processos avaliativos;
- revisão dos indicadores de avaliação CPC, IGC, a partir de outros procedimentos alternativos;
- identificação e reconhecimento da expressiva influência das PMIES nos impactos socioeconômicos locais e regionais, contribuindo como fator estratégico de desenvolvimento;
- e, enfim, reconhecimento do relevante papel social que garante a integralização e a interiorização da Educação Superior no Brasil com qualidade e pertinência.
* Célia Christina Silva Carvalho é uma das autores do ABMES Cadernos 26 que traz o tema "Pequenas e Médias IES – Tendências e Oportunidades". Confira aqui a publicação na íntegra.




