Ronan Delfim Machado
Terapeuta ocupacional, educador, especialista em psicologia da educação (PUCMG) e em desenvolvimento infantil (UFMG)
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O filme Tropa de Elite 2: O Inimigo agora é outro trata da relação entre a segurança pública e a política. Fica claro no enredo que o principal problema não está na polícia, tampouco nos bandidos ou traficantes, mas sim no sistema que a todos envolve. O mesmo ocorre com a educação em nosso país, no tocante ao seu principal algoz.
Afinal, é o próprio sistema que exclui o professor do processo de ensino, alijando-o das decisões e tornando ilegítimas leis e normas, vindas sempre de cima para baixo. De maneira geral, como se isto não bastasse, os salários são péssimos; as condições de trabalho horríveis, falta infraestrutura básica na sala de aula e o método de aprendizagem é frustrante, uma vez que privilegia a simples memorização de conteúdos, em detrimento de sua real compreensão.
De acordo com dados da pesquisa Ensino e Aprendizagem Teaching and Learning Internacional Survey, Talis na sigla em inglês, realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), no Brasil o professor perde 20% do seu tempo acalmando os alunos e colocando a classe em ordem para poder ensinar. Além disso, somos o país onde o professor mais se dedica a questões burocráticas (13%) restando, apenas 67% para a sua atuação em sala de aula.
Já o comportamento e o desempenho típico das crianças são brutalmente afetados pela desmotivação que elas sentem ao encontrar na escola uma realidade bem distinta à do seu dia a dia, a começar pela falta de acesso à tecnologia dos meios eletrônicos, hoje tão presente no seu cotidiano.
Este cenário patrocina há anos um ambiente no qual o professor tenta ensinar; o aluno finge que aprende e o governo exprime sua satisfação com a frieza das metas e números.
Se para os alunos típicos em muitas escolas a realidade não é favorável, imaginem então o que ocorre com os merecedores de cuidados especiais. Embora o Estado lhes permita entrar em aula até acompanhados por uma professora "particular", na maioria das vezes estas crianças permanecem boa parte do tempo no canto da sala, sem a mínima estrutura para a real inclusão. Nem mesmo lhes é garantido o direito de interação com os colegas, de maneira sadia e produtiva.
A inclusão, pelo menos em tese, é um direito de todos e sua plenitude depende da eficiência da educação, e não dos seus alunos. Cabe ao professor, diante disto, lutar por seus direitos e sair da passiva aceitação do que lhe é imposto, exigindo também melhores condições de trabalho, salários e capacitação.
Por fim, é preciso envolver mais a família e aumentar sua participação no processo de aprendizagem, como a própria Constituição prevê, pois não se trata de uma atribuição exclusiva do poder público. Só assim deixaremos de ser coniventes com a perpetuação da Teoria da Reprodução. Todos sabem o caminho a ser seguido, só é preciso dar o primeiro passo. Se cada um fizer sua parte, assim como na fábula da andorinha, certamente conseguiremos apagar o fogo que há muito se alastra em muitas das nossas florestas.




