Affonso Romano de Sant'anna Estado de Minas, publicado em 18 de setembro de 2011 ***

Ela está na moda. Todo mundo quer agradar à Senhorita Classe C. Quase a chamo de Senhorinha, mais terno e sedutor. Onde estava ela todo esse tempo? Por que só agora está debutando (palavra horrível!). Por que só agora irrompe nos salões, ou melhor, nos aeroportos? Os aeroportos estão cheios do não charme da Senhorita Classe C. Muitos estranham essa aparição. Outro dia, uns amigos diziam: “O aeroporto parece rodoviária”. Lembra aquele poema crudelíssimo de Ledo Ivo sobre os “pobres na rodoviária”, com seus pescoços como gansos procurando informação? Só que a Senhorita Classe C não é mais pobre. Teve acesso à sociedade de consumo e quer usar maquiagem anunciada pela Grazi Massafera e os produtos da Ana Hickmann. Por isso, as moças da fogosa classe C saem da fábrica ou do escritório e começam a frequentar academias, comprando aquelas malhas da moda. A Senhorita Classe C está na moda. E todos querem agradar a essa jovem. Os jornais estão chamando especialistas para se reformularem em função da nova personagem. As TVs estão correndo para os subúrbios e bailes funks à procura dessa nova Gata Borralheira. As editoras lançam algo parecido com livro, com estórias que seduzam a imaginação romântica da jovem emergente. Não importa o conteúdo do que se vende para a Senhorita Classe C, interessa a quantidade. Poder-se-ia dizer que isso chega a ser um desrespeito à própria Senhorita, é fazer pouco de sua sensibilidade e inteligência. Quem é que disse que a Senhorita Classe C só merece produtos de terceira classe? Como ela começou a poder guardar algum dinheirinho na poupança, decidiu fazer uma reforma de sua casa, um puxadinho, botar azulejos nas paredes. Já tem até automóvel e seus filhos têm computador. Sim, a Senhorita Classe C começa a comprar as coisas. Ter o portátil já é trivial. É preciso ter aparelhos elétricos em geral, a casa própria – enfim, a Senhorita Classe C começa a viajar para o exterior. Vai ver a Torre Eiffel e o Tâmisa, mas, claro, volta sempre dizendo que “aqui é muito melhor” e “não há nada como voltar para casa”. Verdade é que a Senhorita Classe C ainda não descobriu os museus, onde os esnobes senhores da Classe B e A passeiam fazendo elucubrações várias. Mas, em compensação, compram todos os best-sellers que a Avon lhes vende. Curtem “cabanas”, “vampiros” e outros arrebatamentos místicos e eróticos. A Senhorita Classe C agora vai a shows de toda espécie, saiu da periferia e canta, ou melhor, cantarola as músicas em inglês de qualquer conjunto de rock estrangeiro. Ela está muito atenta ao que as Senhoritas Classe B fazem. Tenta imitá-las, esforça-se. Os políticos vivem a cortejá-la tanto quanto o mercado de consumo. Afinal, a Senhorita Classe C significa 30 milhões de votos.