Paulo Cardim Reitor da Belas Artes e Diretor-Presidente da Febasp Membro do Conselho da Presidência da ABMES Blog da Reitoria, publicado em 18 de fevereiro de 2013 ***

Os cursos universitários são demandados, geralmente, por jovens em busca de qualificação acadêmica para o exercício de profissões e atividades diversas, segundo a vocação ou desejo no momento da opção. Vários profissionais também buscam a formação acadêmica para melhor classificação e remuneração na carreira escolhida. Outros buscam qualificação em áreas afins ou não, desejando mudar de rumo, trilhar por novos caminhos. É muito comum, na faixa dos dezoito anos de idade, o jovem fazer opções de que mais tarde se arrependa. Opções fruto de suas próprias tendências ou de seus pais ou amigos, pessoas que possam influenciar suas decisões. Opta por medicina e descobre que a sua área é artes; caminha para o direito e se vê com anseios para a engenharia. São muitos os exemplos. No passado, a mudança de rumos ao longo da trajetória universitária era quase impossível ou bastante dificultada pelos entraves legais ou burocráticos. A partir da atual lei de diretrizes e bases da educação nacional, a LDB – Lei nº 9.394, de 1996 –, e das tendências da educação deste século, os estudantes passaram a ter a oportunidade de mudar de opções em sua vida acadêmica. A mudança de rumo, na vida pessoal ou na vida profissional, passou a ser algo viável, normal. Assim como a mudança de emprego, de atividade profissional. Os empregos não são mais para a vida toda. Sobre essas questões, o educador Rubem Alves, escritor, pensador cristão e professor emérito da Unicamp, escreve em seu livro Ostra feliz não faz pérola (Planeta, 2008): No passado, o normal era que um jovem escolhesse uma carreira e permanecesse nela até morrer, ainda que ela não lhe desse felicidade, tal como acontecia também com os casamentos. Para sempre, até que a morte os separe. Uma coisa boa dos tempos em que vivemos, a despeito de todas as suas confusões, é que as pessoas descobriram que é possível mudar a direção do voo. Nada as obriga a voar sempre na mesma direção até o fim. Eu mudei minhas direções várias vezes e não me arrependo. (p.69) [...] Albert Schwitzer é uma das pessoas que mais admiro. Teólogo, filósofo, prêmio Goethe de Literatura, concertista de órgão, especialista em Bach, sobre quem escreveu uma obra clássica, prêmio Nobel da Paz, aos trinta anos abandonou tudo. Mudou a direção do seu voo. Profundamente místico, com grande compaixão pelos que sofriam, resolveu estudar medicina e passar o resto de sua vida num lugarejo miserável no coração da África. (p. 223). Mudar a direção do voo é perfeitamente possível na vida universitária contemporânea. Deve, contudo, ser uma decisão tomada após uma séria e duradoura reflexão sobre as consequências e as metas pretendidas para o novo voo, a fim de se evitar desilusões e frustrações.▪