Édson Franco Advogado, jornalista e professor universitário Diretor-Geral da Faculdade de Estudos Avançado do Pará Membro do Conselho da Presidência da ABMES ***

A maioria das instituições de ensino superior particulares funciona prevalentemente no período noturno. É verdade que alguns cursos são ministrados em período diurno, mas grande número deles não o é. Duas grandes dificuldades alcançam os alunos nessa situação. A primeira é que o período de estudos nas salas de aula acontece após um dia inteiro de trabalho dos alunos. A segunda é que o tempo de deslocamento deles entre o final do trabalho e o início das aulas nas escolas é cada vez maior devido às dificuldades dos transportes e aos espaços literalmente ocupados nas vias de trânsito. Nessas circunstâncias, os professores chegam aos alunos nas salas e os encontram visivelmente cansados depois do dia de trabalho e do sofrimento do tempo de deslocamento. Conheço um professor, meu grande amigo, que dizia que professor de horário noturno, além de ter de oferecer uma aula viva, gostosa e atraente, tem de ser “artista de sessão-mistério”, ou seja, tem de ministrar uma aula diferente que atraia a atenção dos alunos e não os deixe dormir... Se ela for monótona, enfadonha, é pior do que o tempo de espera nas cadeiras das salas dos consultórios públicos. Muitos são os professores que exigem das escolas uma parafernália de instrumentos de comunicação de maneira que suas aulas sejam alegres, interessantes. Quando penso nisto, me vem à lembrança os evangelhos que asseveram que Jesus Cristo não tinha computadores, data-shows, retroprojetores, salas climatizadas, microfones e quadros magnéticos. Que fazia ele então para que suas aulas, além de serem inquietantes, reflexíveis, fizessem os ouvintes pensar? Como conseguiu que seus ensinamentos continuassem vivos mais de vinte séculos depois? O recurso às parábolas foi a chave da pregação do Mestre. Ele contava histórias ou estórias, não importa, todas muito apropriadas para responder às inquietações dos apóstolos ou dos fariseus. Elas é que sobreviveram ao tempo e que continuam a valer por inesgotáveis ensinamentos. Será que ser “artista de sessão-mistério” não é uma maneira de enunciar parábolas para que penetrem na mente dos nossos alunos e sirvam de permanente reflexão para os mesmos? Será que histórias ou estórias não fazem os alunos aprender a pensar? Reconheço que os professores, além de terem de ter uma recompensa salarial ministrando aulas no período noturno, não podem, de maneira alguma, repetir a mesma metodologia do período diurno. Nunca podem perguntar aos alunos onde foi que pararam no último encontro! Os alunos, quando se deparam com professores que não sabem ser “artistas de sessão-mistério”, já na metade das aulas começam a ensaiar baixinho um coro tradicional que na minha terra é mais ou menos assim: “por hoje, por hoje, por hoje...” Esta é uma forma de mandar parar o que não agrada. Parabéns aos professores de “sessão-mistério”! Eles merecem o nosso maior aplauso e suas aulas vivas e atraentes serão inesquecíveis.