Wanda Camargo
Educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil
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É incrivelmente demorado - e complicado - obter qualquer tipo de informação, em qualquer estabelecimento, seja ele público ou privado, de qualquer natureza, salvo as raríssimas exceções que apenas confirmam a regra. Por um lado, é possível atribuir esta realidade ao despreparo de atendentes, num país em que o sistema educacional de boa qualidade é raro - e normalmente disponível tão somente a uma estreita camada populacional.
Por outro, o problema funda-se na cultura de sigilo, arraigada de modo paradoxal em nosso país. Os detentores de informação a tem como sua propriedade, algo precioso que deve ser avaramente resguardado. O objetivo, ainda que inconsciente, possivelmente é obtenção e manutenção de poder, em todos os níveis. O funcionário que sabe, até por ser sua função, os procedimentos necessários para a obtenção de algum serviço, vai revelá-los a conta-gotas - e somente após ser rogado com todo o respeito devido à sua posição.
A maioria de nós já se irritou, por exemplo, até a apoplexia, com o tratamento padrão dispensado pelo pessoal de balcão, quando um voo atrasa em algum aeroporto. Algumas companhias aéreas parecem julgar seus passageiros incapazes de processar informações, como a de que um avião precisou de manutenção inesperada, que houve congestionamento aéreo ou más condições de tempo. Explicadas adultamente, e em tempo, seriam compreendidas por muitos, evitando boa parte dos confrontos.
Acostumados desde a época colonial com estruturas obscuras, destinadas ao máximo proveito de alguns - o que só poderia ocorrer com o mínimo de conhecimento dos muitos -, não estranhamos mesmo quando a desejada transparência de órgãos de serviços comunitários se revela cheia de meandros, segredos e faltas de clareza; e então fica perfeitamente compreensível que uma organização inadimplente, sem recurso nem pessoal qualificado, vença licitações e arrecade muito, sem oferecer nada - ou quase nada - em troca. Trata-se do dinheiro de todos (considerado sem dono) e parte do princípio de que não entendemos o mecanismo que rege o processo.
Disso decorre que nada mais nos surpreende - e mesmo a indignação manifestada nos idos de junho parece já ter se esgotado, morrido de inanição cívica, ou de excesso de corrupção. Perdemos a crença nas instituições - e o aparente renascimento da esperança não passou daquela inevitável melhora que antecede a morte: último alento de um organismo prestes a dar seu último suspiro.
No entanto, não se pode desconhecer que a área educacional viabiliza-se pela esperança, já que o estado de ignorância de hoje só pode ser suportado pela perspectiva futura de conhecimento. Todo estudo necessita renuncia aos prazeres momentâneos, em prol da aquisição de um pouco de sabedoria. Sem a crença na conquista desta habilidade, não se justifica dedicação ou empenho, não há educação no seu sentido amplo. Entendimento sobre os detalhes e funcionamento de todas as entidades, especialmente as públicas, é parte do preparo profissional, mas, acima disso, da atitude cidadã.




