Novas ideias não são dinheiro ou máquinas. São as origens do sucesso e a grande fonte de satisfação pessoal. (John Howkins)A família Cardim está exultante com as comemorações dos 90 anos de fundação do hoje Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo (SP), que envolvem extenso programa de eventos. O amigo e companheiro de muitas lutas Paulo Antonio Gomes Cardim — presidente da Associação Nacional de Centros Universitários (Anaceu), diretor da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e reitor do Centro Universitário Belas Artes — e sua filha Patrícia Cardim, Diretora Geral, incluíram no programa o “I Fórum Belas Artes de Economia Criativa”, pertinente e atual, que vai reunir palestrantes nacionais e internacionais entre os quais o britânico John Howkins, um dos “cardeais” da temática. Howkins é autor do livro “Economia Criativa, como ganhar dinheiro com ideias criativas”— disparou algumas preciosidades em recente artigo publicado pelo jornal Valor Econômico: “a criatividade deve ser estimulada mesmo em tempos bicudos” (...) “não é possível deixar a estratégia de lado até que a economia comece a se recuperar”.[1] Howkins destaca ainda que em uma economia fraca é mais difícil incentivar a criatividade, pois as pessoas têm menos apetite pelo risco. Mas é justamente nesse momento que isso se torna mais importante, diz ele. Setores tradicionais da economia precisam hoje desenvolver a criatividade se quiserem ser competitivos. Para tanto, podem aprender com indústrias criativas como artes e entretenimento. Howkins afirma que em um cenário de crise dominado pelo pessimismo uma das primeiras evidências dentro das empresas é a disposição para assumir riscos. Termos como criatividade e inovação, que por muito tempo tiveram lugar de honra no discurso de executivos, passam a ficar em segundo plano, enquanto as suas empresas promovem ajustes e os seus funcionários temem pelo próprio emprego. Aqueles que nos acompanham em leituras neste espaço sabem que estamos insistindo e até mesmo nos repetindo sobre inovação e criatividade como ferramentas indispensáveis para arejar e incrementar o novo e permitir a transformação. No entanto reafirmamos que em tempos de escassez cada vez maior de recursos naturais é a abundância que dá o tom do futuro na economia criativa. Como? Ao contrário da economia tradicional — que se baseia em fontes esgotáveis, como terra, ouro, água, petróleo entre outros —, a economia criativa está alicerçada em recursos perenes tais como cultura, criatividade e conhecimento, valores que se renovam e se multiplicam com o uso. Segundo a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), a economia criativa está focada no potencial individual e coletivo para produzir bens e serviços, que vão do turismo ao artesanato, passando por atividades culturais, inovações tecnológicas e pela comunicação. Nessa nova economia, os recursos naturais podem ser escassos, mas a capacidade alquímica de transformação é infinita. Numa economia irrigada por conhecimento, informação, criatividade e inovação, segundo Howkins, é possível não só criar novos ativos, vender para novos mercados e desenvolver novas estratégias de preços, mas também, e sobretudo, mudar a forma de pensar e trabalhar. Por isso, a economia criativa vem se firmando cada vez mais como uma alternativa para o desenvolvimento sustentável do mundo atual e tem potencial para gerar bem-estar, autoestima e qualidade de vida em indivíduos e comunidades, por meio de atividades prazerosas e representativas das características de cada localidade. Além disso, esse tipo de atividade tem a capacidade de estimular o crescimento inclusivo e sustentável como defende o “Relatório de economia criativa 2013”, elaborado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Para a paulistana Lala Deheinzelin, mobilizadora sociocultural, consultora em economia criativa e criadora do movimento “Crie Futuros”, o porvir é cada vez menos provável, por isso é necessário sair do reativo e ir para o criativo “onde mora o desejo”. Mas para criar o desejável mundo novo, existem desafios para serem resolvidos em rede, utilizando as dimensões cultural, social, ambiental e financeira. “Não estamos falando de um tipo de economia, mas da união de várias, a saber: economia criativa, economia do compartilhar, economia colaborativa e as multimoedas”, explica Deheinzelin.[2] Nessa nova ordem universal, a educação constitui-se peça-chave porque é capaz de estabelecer um elo entre todas as dimensões do desenvolvimento e, ainda, estimular a criatividade infundindo um desenvolvimento centrado no ser humano. A educação tem como desafio ser o agente de mudança dessa transformação, preparando os jovens para essa nova realidade econômica e social. Nesse contexto, a escola deve imprimir aos estudos uma abordagem multi e transdisciplinar, desenvolver a criatividade na solução de problemas e promover o senso crítico, a atitude empreendedora e a atuação colaborativa. Como a criatividade não pode gerar desenvolvimento por combustão espontânea, o primeiro e mais importante pré-requisito é a educação. Segundo a revista Página 22, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, uma pessoa de alta escolaridade tem 36 vezes mais chances de se envolver em práticas culturais – como ir ao teatro ou simplesmente ler um livro ou uma revista – e, com isso, expandir seu universo e propor soluções cada vez mais criativas. Richard Florida, teórico norte-americano do Urbanismo e professor da Rotman School of Management, da Universidade de Toronto, criou o The Global Creativity Index 2015[3] – um índice global de criatividade para o crescimento econômico avançado e prosperidade sustentável baseado nos “3Ts” do desenvolvimento econômico – talento, tecnologia e tolerância –, que não funcionam separadamente. A tecnologia por si só não será nada se não houver talento e tolerância às diferenças. Estimular e desenvolver talentos,ter uma infraestrutura tecnológica e propiciar a experiência das diferenças devem ser “mantras” nas pelas instituições de ensino superior (IES) para desenvolver um dos ativos mais preciosos do novo milênio – a criatividade. As IES precisam estar atentas a essas possibilidades, a exemplo do Centro Universitário de Belas Artes que, ao comemorar as suas nove décadas de fundação, o faz com um “banho” de criatividade. [1] https://alfredopassos.wordpress.com/2015/09/15/inteligencia-competitiva-visao-criatividade-deve-ser-estimulada-mesmo-em-tempos-bicudos/ [2] http://socialgoodbrasil.org.br/2014/nova-economia-colaborativa-espaco-da-abundancia-e-criatividade [3] http://martinprosperity.org/media/Global-Creativity-Index-2015.pdf 3