Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais. (Rubem Alves)[1]Ano passado, neste mesmo espaço, e pela mesma razão, dediquei um artigo especial aos docentes com o título “Ao professor, menção honrosa!”. Relendo-o hoje, julgo ter sido um tanto saudosista lembrando-me dos meus bons professores, do primário à universidade. Enfatizei, porém, que, além de mim, todos guardamos na memória aqueles cujas personalidades nos marcaram. Finalizei meu artigo conclamando os leitores a reverenciarem no “Dia do Professor” todos os que deixaram marcas nas suas vidas. Assumo, novamente, com alegria, neste 15 de outubro de 2015, a missão de homenagear todos os mestres do país. Ao fazê-lo, não poderia deixar de narrar uma experiência marcante da minha época de diretor da então Faculdade Anhembi Morumbi. Eu tinha como prática coordenar e participar ativamente do planejamento do ano escolar de forma conjunta com os coordenadores e professores, visando encontrar as melhores propostas de ensino para os cursos que a instituição oferecia. No final de uma dessas reuniões, troquei ideias com o professor Piero Fioravante, diretor de marketing da Arno (fábrica de aparelhos elétricos), que lecionava a matéria na Anhembi e era um profissional muito respeitado na área. Fioravante me pegou pelo braço e me aconselhou: “se eu fosse o senhor, não teria todo esse trabalho. Iria todos os dias à sala dos professores, na hora do cafezinho, e aproveitaria para falar diretamente com eles. Pelo fato de estarem diariamente em contato com seus consumidores – os alunos – os professores são os maiores vendedores da escola. É só lhes dar um pouco de atenção para perceber que o trabalho deles renderá muito mais”. Segui o conselho de Fioravante e passei a procurar um contato mais próximo com os docentes para incentivá-los nas suas lides diárias. Com o tempo, porém, e devido aos meus inúmeros compromissos, as visitas foram se tornando esparsas. O café de todo dia tornou-se semanal, depois mensal e, por fim, quando a faculdade cresceu, meus contatos com os professores se institucionalizaram e passaram a ocorrer no início de cada semestre. Isto aconteceu há vinte anos quando o relacionamento entre diretores e professores só poderia ocorrer de forma pessoal. Hoje a tecnologia disponível nos permite ampliar o relacionamento da instituição com os professores, de formas cada vez mais eficientes e prazerosas. Sim, é possível intensificar o contato com os professores, por meio de um sistema que permita desde a troca de cumprimentos (aniversários, datas especiais e outros) até o envio de outros tipos de informações e mensagens, capazes de incentivar e motivar os professores a atuar com brilhantismo e produtividade. Diante de tanta inovação tecnológica – e porque não dizer de metodologias de ensino –, a pergunta que fica é: "Como evoluem as relações do professor com os seus pares, alunos e direção da instituição em um processo de evolução tecnológica?” Ou melhor: "Existe algum ganho nas relações humanas entre a instituição e os professores e destes com os alunos, a partir desta evolução?” Todos nós sabemos que a implantação das inovações tecnológicas para o ensino é de responsabilidade das instituições de ensino superior (IES) que também são as maiores responsáveis pelo estabelecimento das relações humanas com os professores. Em outras palavras, as próprias IES têm a obrigação de zelar pelo bem estar, condições de ensino, recursos e infraestrutura para que os professores possam exercer da melhor maneira possível a sua nobre tarefa de ensinar. No entanto, a inovação tecnológica aplicada ao ensino parece ainda não ter despertado o interesse das IES. Isto pode ser explicado pelo custo considerável que tem a modernidade digital para utilizar a internet, o mobile, os algoritmos e softwares de inteligência artificial que visam implantar uma estratégia de endomarketing no relacionamento com os professores. Um banco de dados com informações quantitativas e qualitativas sobre a formação, hábitos de consumo e de lazer, o perfil psicográfico, preferências acadêmicas, bibliográficas sobre matérias e temas de interesse, por exemplo, poderia oferecer um verdadeiro arsenal de informações para o planejamento de ações de motivação, além de arregimentar exércitos de docentes em favor de mantenedoras que demonstrem conhecer seus desejos e necessidades mais prementes. Enfim, pode ser de grande importância a construção de uma rede ampla de relacionamento da direção de uma IES com os professores, visando integrá-los e receber propostas colaborativas para o desenvolvimento da instituição. Esta ideia é simples de executar, com base nas próprias plataformas tecnológicas disponíveis para a captação de matrículas e estudantes. Na realidade, trata-se de estratégia de endomarketing de relacionamento para fidelização do corpo docente com os propósitos e objetivos do desenvolvimento da IES. Afirmo isso, lembrando dos conselhos de Fioravante , aplicados aos dias de hoje, para quem os professores representam o principal e o mais confiável elo com os estudantes. Com uma rede interna de professores implantada, apoiada na internet, todos poderíamos – sei que muitas IES já assim procedem – disparar neste 15 de outubro mensagens aos professores, tal como a que se segue, que ora fazemos nossa, pela importância de seu conteúdo: Ser professor é professar a fé e a certeza de que tudo terá valido apenas se o aluno sentir-se feliz pelo que aprendeu com você e pelo que ele lhe ensinou... Ser professor é consumir horas e horas pensando em cada detalhe daquela aula que, mesmo ocorrendo todos os dias, a cada dia é única e original... Ser professor é entrar cansado numa sala de aula e, diante da reação da turma, transformar o cansaço numa aventura maravilhosa de ensinar e aprender... Ser professor é importar-se com o outro numa dimensão de quem cultiva uma planta muito rara que necessita de atenção, amor e cuidado. Ser professor é ter a capacidade de "sair de cena, sem sair do espetáculo". Ser professor é apontar caminhos, mas deixar que o aluno caminhe com seus próprios pés[2]. Um feliz “Dia do Professor” para todos! [1] Alegria de Ensinar. Editora Papirus, 2000. [2] http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/ser-professor