Aprender um conteúdo e perceber como aconteceu a compreensão ou aperceber-se do não entendimento deste, são exemplos do fenômeno metacognitivo. Dificilmente mensurável, a ciência cognitiva estuda o processamento da informação buscando respostas para a explicação do fenômeno da aprendizagem. (Mario Vinicius Canfild Grendene)[1]Metacognição é a capacidade que o indivíduo pode desenvolver para pensar sobre seu pensar, expressando como está estruturando o pensamento a respeito de determinado conhecimento e, se necessário, reelaborá-lo, de modo a refletir sobre esse pensar para conhecer ou encontrar soluções aos desafios propostos, diz Maria Elena Roman de Oliveira Toledo[2], doutora em Psicologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP). O processo pelo qual o indivíduo expressa e tem possibilidades de perceber como elabora e controla o pensamento, de modo a organizar, revisar e modificar formas de resolução de situações em função dos resultados que vai conquistando, evidencia aspectos importantes implícitos em atividades que favoreçam processos metacognitivos. Etimologicamente, a palavra metacognição significa para além da cognição, isto é, a faculdade de conhecer o próprio ato de conhecer, ou, por outras palavras, consciencializar-se, analisar e avaliar como se conhece, pensar sobre o próprio pensamento. Por meio da reflexão sobre a maneira como se aprende, pode-se repensar sobre os processos de pensamento individual. Por exemplo, estamos exercendo uma atividade metacognitiva quando assistimos à TV pondo o nosso lado crítico em evidência. A discussão desse enfoque parece ter retornado à atualidade, ainda que as origens datem da década de 1970. É que o setor gosta, para não dizer precisa, de ver e rever princípios e conceitos que nunca ficam claros ou totalmente explorados, como se uma novidade fosse mais importante para o momento e merecesse mais atenção em detrimento de outra surgida anteriormente. É um virar de página, sem acabar a leitura da anterior. Não faltam conceitos, teorias e definições sobre o assunto. Há uma farta bibliografia a respeito tanto em tratados de psicologia educacional quanto nas Wikis. A metacognição é o conjunto de conhecimentos sobre os próprios conhecimentos e de processos de percepção, avaliação, regulação e organização dos próprios processos cognitivos. Ela pode ser pensada como cognições de segunda ordem: pensamentos sobre pensamentos, aprender a aprender, conhecimentos sobre conhecimentos, reflexões sobre ações. É um conceito bastante relacionado ao de funções executivas. A metacognição desempenha um papel importante na aprendizagem por mediar a percepção sobre os próprios erros e dificuldades tanto em relação a tarefas e conteúdos quanto a emoções e motivações, além do monitoramento e avaliação do desempenho na tarefa e das estratégias mais eficientes de realizá-la. Assim, a atenção e a orientação nos processos metacognitivos permitiria ao indivíduo melhorar a sua capacidade de aprender de forma mais geral, por meio de processos de conscientização, monitoramento e controle de seus processos cognitivos e ações. A metacognição parece ser uma habilidade tardia na criança, desenvolvendo-se por volta dos sete aos onze anos, com a contribuição integrada de vários processos. Por um lado a internalização gradual e personalização de atividades metacognitivas observadas, guiadas e/ou reguladas por outros (pais, professores, colegas, etc.) e, por outro, a maturação e a aquisição de aptidões e conhecimentos cognitivos possibilitando também processos metacognitivos mais complexos, além do desenvolvimento como um todo, incluindo seus aspectos biológicos, sociais, afetivos, motivacionais, etc. As perguntas que ficam no ar são: Quando tais faculdades são exercidas e praticadas do Fundamental à Universidade? Quem dentre os docentes teria capacidade indutora do emprego e do aproveitamento dessas faculdades? Ou seja, há proveito, há utilidade, há praticização dessas potencialidades nas crianças e adolescentes nas escolas nacionais? Por requerer que o indivíduo reflita sobre os seus processos mentais, o interesse pelo estudo do papel das estratégias no aprendizado ganhou um importante reforço com uma nova área de investigação psicológica denominada metacognição. O termo foi introduzido por John Flavell, em 1970, para definir o conhecimento sobre os próprios processos e produtos cognitivos. Cognição significa qualquer operação mental: percepção, atenção, memorização, leitura, escrita, compreensão, comunicação etc.; portanto, metacognição é o conhecimento de todas essas operações mentais: o que são, como se realizam, quando se usa uma ou outra, que fatores ajudam ou interferem na sua operabilidade. Para referir-se especificamente a cada um desses aspectos, fala-se de metamemória, meta-atenção, metaleitura, metaescrita, etc. Flavell propõe um modelo de quatro aspectos sobre a monitoração cognitiva, quais sejam: a) conhecimento metacognitivo (que aglutina os componentes sensibilidade e conhecimento das variáveis da pessoa, da tarefa e da estratégia); b) experiências metacognitivas; c) objetivos e, d) ações ou estratégias. A sensibilidade consiste em aprender a identificar em que situações há necessidade de recorrer a determinadas ações ou estratégias e o conhecimento metacognitivo consiste em compreender as crenças a respeito de si próprio, das pessoas, das tarefas e das estratégias, permitindo ao aprendiz reconhecer e representar as situações, ter mais fácil acesso ao reportório das estratégias disponíveis e selecionar aquelas de possível aplicação. O conceito encontra suas origens na psicologia, especificamente em estudos sobre como os sujeitos, em situações como a resolução de problemas, são capazes de monitorar, avaliar e modificar suas estratégias de encontrar as respostas e de descrever esse processo. Para a pedagogia e as escolas, o conceito de metacognição vem se tornando especialmente útil a partir de análises tanto de alunos que se saem extremamente bem, como de alunos com "dificuldades". O conceito de metacognição chama a atenção para vários pontos importantes, entre eles que a dificuldade escolar pode estar mais relacionada a um problema de autoestima e de motivação do que à competência intelectual. Nos próximos anos, esse conceito deverá tornar-se cada vez mais importante para as IES que se preocupam em desenvolver estratégias não apenas para que seus alunos aprendam, mas também aprendam a aprender. À medida que evoluímos nas ciências, mais elementos são agregados às fontes originais e com a metacognição não seria diferente. Vejamos as últimas que a classificam com três componentes: a) conhecimento metacognitivo (também chamado de consciência metacognitiva): é o que as pessoas sabem sobre si mesmas e aos outros como processadores cognitivos; b) regulação metacognitiva: é a regulação da cognição e de experiências de aprendizagem através de um conjunto de atividades que ajudam as pessoas a controlar a sua aprendizagem; c) experiências metacognitivas: aquelas experiências que têm algo a ver com a corrente, esforço cognitivo em curso. Metacognição refere-se, assim, a um nível de pensamento que envolve o controle ativo sobre o processo de pensamento usado em situações de aprendizagem. O planejamento da maneira de abordar uma tarefa de aprendizagem, a compreensão, o acompanhamento e a avaliação do progresso, no sentido da realização de uma tarefa, são habilidades metacognitivas por sua própria natureza. Da mesma forma, manter a motivação para ver a conclusão de uma tarefa é também uma habilidade metacognitiva. A capacidade de tornar-se consciente de estímulos que distraem – internos e externos – e sustentar o esforço ao longo do tempo também envolve funções metacognitivas ou executivas. A teoria de que a metacognição tem um papel crítico a desempenhar na aprendizagem bem-sucedida implica ser demonstrada por alunos e professores. Alunos que evidenciam ampla gama de habilidades metacognitivas têm um desempenho mais eficiente nos exames e nos trabalhos. Resta saber quem e quantos estão interagindo com a metacognição nas IES brasileiras, de modo a propiciar saltos qualitativos e quantitativos extraordinários na aprendizagem, encurtando distâncias e aproximando conclusões em tempos recordes. [1] Professor da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS) [2] Toledo, M.E.R.O. As estratégias metagognitivas de pensamento e o registro matemático de adultos pouco escolarizados. São Paulo. 2003. Tese (Doutorado). Faculdade de Educação. Universidade de São Paulo. 3