Gabriel Mario Rodrigues
Presidente da ABMES e Secretário Executivo do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular***Utilizar a inteligência socioemocional é o grande passo evolutivo da empresa humana. O mundo tem mudado. Outrora pensávamos que era plano. Não é. Em tempos, pensávamos que éramos conduzidos por fábricas monolíticas e linhas de montagem construídas para durar. Não o somos. Em tempos, pensávamos que um MBA e a tecnologia wireless assegurariam o futuro. Não o fazem. Um grande número de pesquisas aponta para um bilhete premiado. O passaporte para a viabilidade sustentada é a inteligência socioemocional. (Marco Antônio Lampoglia)[1]
Um pescador vê uma criança se afogando no rio; agarra-a e a coloca no seu barco. Mais à frente encontra outra, e mais outra, e outras mais e as coloca no seu barco também. Assim segue, rio abaixo, colocando crianças no seu barco, até que decide parar. Uma das crianças que salvou diz: “Temos mais espaço no barco para salvar mais crianças”. Ao que ele responde: “Não temos mais tempo, precisamos subir o rio, descobrir quem está jogando as crianças na água e fazer com que pare”. Com essa metáfora, o psicólogo Sam Goldstein, da Universidade de Utah (Estados Unidos), alerta para a necessidade de mudar o jeito como nós estamos educando os jovens para o mundo do novo milênio. Segundo ele, precisamos fazer isso o mais rápido possível e atingir o maior número de indivíduos.
Pesquisas recentes revelam que metade dos benefícios de se ir à escola não é decorrente do desenvolvimento de competências cognitivas – conhecimento adquirido e capacidade de raciocinar –, mas de competências não cognitivas, como as relacionadas à autoestima.
E se as escolas tivessem como meta não apenas ensinar conceitos, regras e equações, mas também ajudar os alunos a melhorarem aspectos como motivação, curiosidade e colaboração? Mesmo já sendo consideradas essenciais para o desempenho educacional e para conquistas no mercado de trabalho, essas características (também chamadas de competências socioemocionais) ainda são pouco trabalhadas no ambiente escolar de forma planejada ou integrada às diretrizes pedagógicas.
Na sociedade do conhecimento, no entanto, o sucesso do nosso trabalho não depende somente da forma como utilizamos a nossa capacidade intelectual, mas também de como controlamos as nossas emoções em benefício próprio e em prol da organização em que atuamos. Noventa por cento do tempo de um executivo é destinado a tarefas que o obrigam ao relacionamento com outras pessoas. Essa necessidade aumenta à medida que ascendemos no organograma de qualquer empresa.
Atitudes e competências intrapessoais e interpessoais são fundamentais nesse processo. Nas competências intrapessoais se agrupam o autoconhecimento, o autocontrole emocional e a automotivação; nas competências interpessoais, a empatia e as relações sociais. Todas elas relacionadas com habilidades emocionais e sociais. Hoje não basta dominar um assunto, mas sim fazer a empresa andar para frente, inovar, ter consciência, sentir-se motivado e se automotivar, trazer os colegas consigo e, acima de tudo, controlar as emoções para não causar problemas interpessoais dentro e fora da instituição em que atua. Ou seja, as competências socioemocionais têm um papel de destaque na nova economia.
Hoje os recursos humanos representam a vantagem competitiva por excelência e a fonte de sucesso das organizações. Estas, à proporção que se modernizam em termos de gestão e tecnologia, devem buscar se igualar ou superar os seus adversários na qualidade dos recursos humanos e do desempenho. Assim, caracterizam a competência socioemocional a capacidade de colocar em prática as melhores atitudes, habilidades e conhecimentos para controlar emoções, alcançar objetivos, demonstrar empatia, manter relações sociais positivas e tomar decisões de maneira responsável.
Nas últimas décadas, pesquisas conduzidas por economistas, psicólogos e educadores revelam que as habilidades socioemocionais têm impacto significativo sobre o desempenho positivo dos indivíduos na escola e fora dela. Nesse sentido, são igualmente importantes quanto às habilidades cognitivas para a obtenção de bons resultados em diversas esferas do bem-estar individual e coletivo, como grau de escolaridade, emprego e saúde. Tão ou mais importante que o "saber fazer" nas organizações do futuro é o "saber estar" e o "saber ser" dos seus funcionários.
Segundo Brian Waniewski[2], uma das habilidades mais importantes é aprender a aprender. Ele observou em entrevista, à BBC Brasil: “a curiosidade não é algo que seja muito estimulado pelos sistemas educacionais atuais. O mercado de trabalho se move mais rápido do que o educacional”. Para enfrentar o problema, Waniewski criou métodos de ensino baseados em jogos de tabuleiro e videogames, que envolvem superação de desafios, pensamento crítico e colaboração. Ele acredita que, debates sobre estudos de casos reais e práticos estimulam o questionamento sobre a utilidade do conteúdo aprendido, desenvolvendo a criatividade, o espírito colaborativo, o pensamento crítico, a resiliência e as habilidades de comunicação.
Na reportagem “Uma nova educação”, de 14 de março de 2014, da Isto É Independe, o infográfico que se segue, muito elucidativo, contém um elenco das competências que, juntas, promovem a diferença na determinação do êxito escolar e profissional, pois no mercado de trabalho as características socioemocionais são recompensadas na forma de maiores salários e menor período de desemprego.
O grande desafio das instituições educacionais é desenvolver, também e, sobretudo, as habilidades socioemocionais – chamadas também de soft skills ou habilidades não cognitivas. Estas são sempre citadas por todas as empresas quando questionadas sobre o que querem para os seus funcionários, como evidenciam pesquisas feitas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) na cidade do Rio de Janeiro.
Para Carmen Migueles, especialista em educação e desenvolvimento organizacional da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE/FGV), parte das novas gerações – crescidas na internet – "perdeu o contato com o sacrifício e a capacidade de vencer obstáculos”. "Eles entram no mercado de trabalho achando que serão recebidos em um palco iluminado pronto para eles", opina a professora à BBC Brasil. "Mas o sucesso é algo que se consegue em meio às dificuldades." Segundo ela, essas habilidades socioemocionais – chamadas também de "soft skills" ou habilidades não cognitivas – foram citadas por todas as empresas quando questionadas sobre o que queriam em seus funcionários, em pesquisas feitas pelo MBA da FGV no Rio. Segundo ela, será preciso “cultivar de virtudes tais como paciência, solidariedade e entendimento de diferenças em uma sociedade multicultural".
Isso ajuda, por exemplo – e concordamos plenamente com ela – a lidar com o choque de culturas quando uma empresa é comprada por uma [similar] estrangeira.
Temos que cuidar dos nossos jovens e não simplesmente colocá-los no nosso barco. Se eles estão a se “afogar”, a culpa não é deles e sim da escola, da família e da sociedade que não têm sabido formar nem educar, nem fazer melhor. Em outras palavras, precisamos subir o rio e ensinar aos nossos jovens a se posicionar, a se defender e a ter sucesso como profissionais por meio das competências cognitivas e socioemocionais.
[1] Diretor da Active, psicólogo, analista do comportamento humano, mestre em Filosofia Social especializado em Administração, doutorando em Administração. Consultor especialista em mudanças do comportamento humano e organizacional.
[2] Brian Waniewski é diretor do Institute of Play. A organização foi a responsável pela elaboração do currículo da Quest to Learn (Q2L), colégio público de Nova York conhecido como a primeira instituição de ensino do mundo a ter seu currículo 100% baseado em games.




