Não perguntem às crianças o que querem ser, mas sim quais problemas querem resolver quando crescerem. Isso muda a conversa – de “para quem vou querer trabalhar” para “o que devo aprender”, visando atingir seus objetivos. (Jaime Casap)[1]“Adams, o Óbvio” é um conto publicado em abril de 1916 no Saturday Evening Post que, três meses depois virou livro com extraordinário sucesso, pois foi considerado a “bíblia” daqueles que trabalham em publicidade. Adams era um jovem simpático, que conversava com todos e prestava uma atenção enorme ao trabalho das duplas de criação. Certa vez, assistiu a uma discussão de horas de diversos publicitários que tinham o desafio de aumentar o consumo de uma famosa pasta dental. Ao ouvir tanta insensatez por parte dos componentes do grupo, não se conteve e pediu licença para dar um palpite: – “porque vocês não aumentam o buraco por onde a pasta sai?” A solução foi tão óbvia que o escolheram para fazer um estágio na firma. Foi uma tacada certa a contratação de Adams, porque ele tinha uma capacidade inata de enxergar o que ninguém via. Em pouco tempo, ficou sendo conhecido por “Adams, o óbvio”. No final, todas as empresas queriam a sua participação e depois de alguns anos era o dono de sua própria agência. Ter ideias é descobrir relações novas entre as coisas conhecidas. Para as pessoas criativas, as ideias mais simples são as melhores. Normalmente complicamos as soluções simples e nos distanciamos do óbvio. Fomos educados para acreditar que soluções criativas são sofisticadas e que o processo criativo é restrito a algumas áreas do conhecimento. Um grande exemplo encontra-se na área tecnológica. As conquistas que envolvem os meios de produção social coexistem com a revolução das tecnologias e estão relacionadas ao modo de vida de um modelo de sociedade que, ao evoluir, cria processos tecnológicos usando sua criatividade e inovação. Valorizamos as tecnologias, incorporando-as em nosso cotidiano, e muitas vezes, subvalorizamos o valor da criatividade humana que as desenvolveram. Vale ainda ressaltar que o processo criativo é de domínio público, ou seja, todos nós nascemos criativos. O que precisamos é aprender a trabalhar tais habilidades e desenvolver o nosso “viver criativo” por meio de hábitos e processos mentais que favoreçam o exercício da criatividade. Socialmente construído e reproduzido nos processos educacionais, combinamos as competências criativas do ser humano ao seu desenvolvimento individual. No entanto, é importante observar que o processo criativo, a capacidade de implementar e realizar projetos, transformar contextos e ideias em ações, é naturalmente um processo também colaborativo. Assim como a criatividade, a colaboração está no cerne da essência humana. O nosso desafio é construir uma cultura social de aprendizagem, capaz de reconhecer que a criatividade deve ser uma das prioridades mais importantes para estimular a colaboração e a participação produtiva das pessoas nas sociedades. Nesse contexto, a motivação se torna uma importante ferramenta de transformação, partindo do individual para o coletivo, proporcionando novas crenças e valores, para uma percepção positiva relação ao nosso futuro. Afinal, todos nós temos sonhos, projetos de vida e desejamos um mundo melhor para viver. Para isso, precisamos acreditar que é possível transformar nossa realidade e que podemos usar a motivação, a criatividade e a colaboração para sermos mais fortes nessa empreitada. É preciso ter consciência de que pela criatividade o homem tem transformado o mundo. A capacidade de ser criativo implica observar o explícito e o implícito ao redor de nós, como um exercício diário, para que a nossa forma de pensar, de resolver problemas e de encontrar soluções inteligentes não se torne mecânica e padronizada. E mais: ser criativo, proativo, confiante e eterno otimista para saber ver sempre o lado bom das coisas. E agora pergunto: Estamos produzindo esses hábitos mentais, estimulando a criatividade e a colaboração em nossos estudantes brasileiros? Em tempos difíceis como os atuais com um cenário econômico e político conturbado, qual é a motivação passada para os alunos nas salas de aula? A criatividade não surge exclusivamente em indivíduos, ou culturalmente em uma sociedade, mas na interação e colaboração entre esses dois aspectos, igualmente importantes, porque as pessoas imaginam, criam e dão origem a novas ideias. A sociedade estimula, usando a cultura e educação para inspirar, estimular e incentivar essa engrenagem cíclica. Assim, a educação, enquanto componente essencial no sentido social e cultural, é fundamental para mudar a vida das pessoas por meio da criatividade e da colaboração. Não me custa citar, ao final deste artigo, com um trecho do criativo Steven Jobs em seu discurso na Universidade de Stanford:
Seu trabalho vai preencher uma grande parte de sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz. Se você não encontrou o paraíso ainda, continua procurando. Não se acomode. Tal como acontece com todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não se contente.Estou certo de que o sistema universitário com determinação, colaboração e criatividade pode transformar a vida dos nossos estudantes, fazendo-os confiar em sua capacidade de construir uma sociedade melhor, acreditando fundamentalmente em seu potencial criativo para mudar suas vidas. [1] https://www.linkedin.com/in/jaimecasap