O inconveniente das pessoas e dos países é a esperança de encontrar saídas e soluções fáceis. Sem crise não há desafios, sem desafios a vida é uma rotina, uma lenta agonia. Sem crise não há mérito. É na crise que se aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la e calar-se sobre ela é exaltar o conformismo. Em vez disso, trabalhemos duro. Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la. (Albert Einstein)O “IX Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular (Cbesp): soluções para um país que precisa avançar”, realizado em Porto de Galinhas/PE, no período de 14 a 16 de abril, abordou a grave crise brasileira com influências importantes no desenvolvimento do sistema educacional. Por esta razão, a epígrafe deste artigo contém o aforisma de Albert Einstein que exalta os momentos de crise como estímulo para que as pessoas e os países reflitam, discutam e busquem soluções para os seus problemas. Estiveram presentes no IX Cbesp mais de 500 participantes oriundos de todas as regiões brasileiras, a expressar o grande interesse de mantenedores e dirigentes do ensino superior sobre o tema. Em rápidas pinceladas, descreveremos as principais abordagens. A questão que sintetiza o evento contempla a educação como a razão de todo o desenvolvimento de uma nação, pois transmite conhecimentos e, ao mesmo tempo, forma o cidadão consciente sobre a realidade em que vive, tornando-o capaz de contribuir para a melhoria do futuro de seus concidadãos. O Brasil, a exemplo de outros países, tem problemas de toda ordem a ser enfrentados na economia, na política, na estrutura social e, principalmente, no sistema de governança de todas as esferas de poder constituído. Além disso, todos nós sabemos que há enormes lacunas comportamentais no executivo, no legislativo e no judiciário. O modelo de governança do Estado brasileiro exauriu-se porque está ligado a uma cultura em que os dirigentes não estão preocupados com a sustentabilidade do país e com a melhor qualidade de vida de suas populações mas, sim, com a permanência em seus cargos, por tempo indefinido. Eles se veem como donos do poder e não servidores da sociedade. Somente uma cultura que expresse os valores que devem estar acima dos pessoais, poderá influir para que as transformações do país alcancem, por meio da educação, todos os seus extratos sociais. Percebeu-se em todos os painéis que a educação somente será capaz de mudar o país se for considerada a base de transformação de toda a atual política vigente. É preciso fazer com que o nosso sistema transmita, além da formação educacional e profissional, valores perenes tais como cidadania, solidariedade, espírito público e amor à pátria. Transformar culturas e pessoas não se faz da noite para o dia, mas deve ser uma meta nacional para mudar o status quo. É um esforço a ser apoiado por todas as forças da nação. No plano efetivo e o que de fato deve ser o alvo especial para as instituições de ensino superior (IES) é a valorização do processo educacional. O aluno do sistema universitário não é mais o jovem da classe média e, sim, o de menor poder aquisitivo, que precisa ser sensibilizado para valorizar a educação superior, como forma de alcançar melhor qualidade de vida e ascender socialmente. Todos os investimentos de tempo e de esforços para uma vida melhor são compensadores, incluindo o que a escola pode fazer – mas que infelizmente pouco faz – que é aperfeiçoar o seu relacionamento com os estudantes. De maneira geral, as escolas se esqueceram de “seu cliente/aluno” e a maioria delas não percebeu ainda, que ele não é o mesmo de anos atrás. O aluno pertence a uma categoria econômica que, mesmo residindo nos subúrbios e periferias das cidades, tem os mesmos anseios de consumo de qualquer jovem. As escolas ainda pensam que o seu maior competidor é a faculdade da esquina. A realidade mostra, porém, que o aluno jovem tem outros interesses e suas prioridades de gasto fazem com que, o valor da mensalidade escolar não seja o fator principal de sua escolha. Por outro lado, as IES dedicam pouca atenção ao principal elo de ligação com “o cliente” que são os professores. Estes precisam ser preparados tanto para valorizar a autoestima dos alunos quanto para adaptar a sua linguagem e usar a mídia tecnológica já em uso pelos alunos. É lógico que será necessário encontrar mecanismos de financiamento para viabilizar o acesso dos alunos das classes “C” e “D” ao sistema universitário, considerando que o Estado perdeu, com as alterações nas normas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), uma oportunidade de torná-lo mais adaptável às condições econômicas do país. Para tanto, será necessário encontrar soluções mais realistas, onde os bancos, o Estado e as IES possam encontrar meios de financiamento para alunos de baixa renda. Uma das palestras mais apreciadas foi a da especialista mundial em Economia Criativa & Desenvolvimento Sustentável, Lala Deheinzelin, que introduziu uma nova maneira de pensar e de como tratar da crise com estratégias de criatividade e inovação. Segundo Deheinzelin, o mundo trabalha há milênios com o tangível, o quantitativo e o financeiro dento da economia da escassez. A transformação acontece quando se trabalha com o intangível baseado no repertório da mente, da criatividade, da cultura e da arte. Ela mostrou que um mundo será melhor quando priorizar o compartilhamento, a criatividade e a colaboração. Outro problema que as IES enfrentam é a evasão. Experiências, esforços e estratégias para evitar que o universitário abandone a instituição foram também discutidos. As causas da evasão mereceram análises dos conferencistas – desmotivação em relação ao curso, dificuldades de ambientação, carências econômicas, perda do emprego e falta de recursos para locomoção, alimentação e transporte. Intercambiar experiências nessa área foi extremamente válido porque os prejuízos financeiros para a escola com a evasão são expressivos e ninguém tem ainda a “receita salvadora”. O encerramento do IX Cbesp se fez com uma mesa de discussão importante sobre o Conselho Nacional de Educação (CNE), oportunidade em que seus conselheiros analisaram aspectos referentes à história e à atualidade do órgão com os seus problemas e procedimentos e com a sua restruturação. A mesa de trabalhos coordenada pelo reitor da Universidade Estácio de Sá, Ronaldo Mota, contou com a participação do presidente do CNE, Gilberto Gonçalves Garcia, e dos conselheiros Paulo Vieira Braga Barone e Yugo Okida e com ampla presença dos participantes. Finalmente, foi aprovada a “Carta de Porto de Galinhas” que traduz de maneira mais conclusiva os debates e aponta as indicações de soluções para as questões apresentadas. (Anexo 1). No momento especial pelo qual passa o país, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular comprovou, com o IX Cbesp, que o Estado brasileiro precisa cada vez mais assumir, em parceria com as instituições de ensino superior, o seu protagonismo no implementação de políticas e de estratégias para solucionar as questões de desenvolvimento sustentável de um país que precisa avançar.