A preocupação com o impacto que as mudanças tecnológicas podem causar no processo de ensino-aprendizagem impõe a área da educação a compreender as transformações do mundo, produzir o conhecimento pedagógico para auxiliar o homem a dominar a tecnologia em benefício do progresso. (SAMPAIO e LEITE, 2000, op cit SANTOS, 2012, p. 9).Aspectos e mudanças muitas vezes nos passam despercebidos e isso pode fazer toda a diferença. Para ilustrar a afirmativa, a Suíça era o país que dominava o mundo da relojoaria na década de sessenta, com mais de cem anos de reconhecida experiência. Eles detinham cerca de 65% do mercado mundial. Dez anos depois, a fatia de mercado havia caído para menos de 10% e nos três seguintes tiveram de demitir 50 mil dos seus 65 mil relojoeiros. Hoje, que nação domina a relojoaria no mundo? O Japão, que na década de 1960 não tinha nenhum mercado. Como puderam os suíços ser tão rapidamente derrotados? A resposta é dolorosamente simples: voltaram a zero com a mudança de paradigma. Muitos estão usando esse novo paradigma no pulso agora: relógios de quartzo, totalmente eletrônicos, movidos à bateria, incrivelmente versáteis, mais precisos do que os mecânicos. Eles merecem ser o novo paradigma de marcação do tempo, uma ideia brilhante! Quem inventou o relógio de quartzo? Foram os próprios suíços, em seus laboratórios de pesquisa. Mas quando os pesquisadores apresentaram a ideia aos fabricantes, em 1967, ela foi rejeitada. Afinal, o relógio não tinha engrenagens, não tinha mola mestra, e, portanto, nunca poderia ter futuro. Eles nem patentearam o invento. Mais tarde, aqueles pesquisadores mostraram o relógio ao mundo no congresso anual de relojoaria. A Texas Instruments, dos Estados Unidos, e a Seiko, do Japão, estavam lá, deram uma olhada e o resto é história. Admitamos: no Brasil ainda temos uma agenda educacional que deveria ter sido executada no século passado. Estamos sempre vendo o urgente e não o importante. Pensar no que surgirá nas próximas décadas é um exercício de muitas reflexões, sobretudo sobre quais devem ser as políticas necessárias hoje para garantir a educação que queremos no futuro. E educação implica na exigência de políticas e garantias. O mundo é um desafio de mil faces proposto ao homem, e suas leituras se transmutam – ora podem partir de uma referência histórica, ora do emprego de uma figura de linguagem, ora do diálogo com outros textos. Enfim, o mundo é composto por elementos explícitos e implícitos que atuam simultaneamente, exigindo do homem um olhar sempre apurado. Antes de tudo, então, precisamos perceber e conhecer o mundo à nossa volta, as pessoas, os sinais, as imagens, os sons. Precisamos fazer um reconhecimento do contexto que nos cerca e de tudo o que procuramos compreender e comunicar. Precisamos, portanto, olhar e ver o mundo! É preciso ter consciência de que a transformação do mundo se dá pelo conhecimento e o conhecimento é sempre construído pelo próprio sujeito, com base em suas referências, crenças e valores que moldam sua percepção. Ou seja, só consegue ver o que as estruturas que construímos permitem e com isso apalpar realidades sem vaticinar. Não há bola de cristal na educação. O que devemos é impor um domínio de leituras do mundo. O fato, e a realidade, é que precisamos adotar o urgente e o importante agora, consagrando aos jovens condições que estimulem habilidades e competências para o século 21, que não tem similaridade com nenhum outro na linha temporal. E tudo isso já está esboçado pelo consórcio ATC21S - Collaborative Problem Solving, liderado pela Universidade de Melbourne em colaboração com governos, organizações internacionais, pesquisadores, empresas e instituições de ensino, definindo as competências em quatro categorias:
- maneiras de pensar (criatividade e inovação, pensamento crítico, resolução de problemas, tomada de decisões, capacidade de aprender a aprender e metacognição),
- ferramentas para o trabalho (tecnologia da informação e alfabetização digital),
- formas de trabalhar (comunicação e colaboração) e
- maneiras de viver no mundo atual (cidadania, responsabilidade pela própria vida, desenvolvimento profissional, pessoal e social).