A criatividade é o recurso mais fecundo com que o homem, desde sempre, procura dominar seus inimigos atávicos: a fome, o cansaço, a ignorância, o medo, a feiura, a solidão, a dor e a morte. Em cada esquina do planeta, em cada fase da sua evolução, a criatividade humana consegue atribuir uma forma ao caos e dar um significado as coisas. (Do livro “Criatividade e Grupos Criativos”, de Domenico De Masi)É a segunda vez que repito a epígrafe do Professor De Masi em meus artigos, porque ela representa, em sua essência, a melhor afirmação que conhecemos sobre o valor da Criatividade como promotora da civilização. Somos o que somos porque um dia alguém precisou resolver um desafio para sobreviver. É recente o estudo da criatividade nos diversos países como motivadora do desenvolvimento humano e social. O mundo tem tantos problemas que só mentes treinadas para vencer desafios serão capazes de solucioná-los. Em todas as áreas do planeta terra, quer no plano pessoal, no empresarial, na administração pública, no meio ambiente ou na melhoria da qualidade de vida, o mundo está carente por melhores soluções que privilegiem o bem-estar de todos. Criatividade é uma das características mais mencionadas nas listas de competências desejáveis para um líder ou profissional se destacar de maneira geral. Mas o que significa criatividade? De forma simples: é a capacidade de apresentar soluções alternativas para problemas conhecidos e saídas inovadoras para problemas novos. Enquanto isso, inovação é a criatividade transformada em “produto”, “serviços”, etc. Criatividade é pensar algo novo, enquanto a inovação é fazer esse pensamento se concretizar. Para cada uma das milhares de atividades do ser humano é possível estabelecer competências criativas. Sendo assim, o termo é tão difuso quanto tais iniciativas: na educação, no mundo corporativo, na economia, na lavoura etc. A importância da criatividade começou a ser mundialmente observada desde 2006, por ocasião da cerimônia de abertura do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, Suíça, quando o presidente do evento falou sobre a necessidade de se desenvolver essa competência para se encontrar novas soluções para os desafios seculares que atingem a humanidade. Ele ainda destacou que não haveria mais como resolver as questões problemáticas atuais do mundo tomando-se como referência acontecimentos do passado. Seria preciso, portanto, um novo olhar, o que só poderia acontecer se fosse usada a competência criativa das pessoas. Essa referência provocou a Comunidade Europeia a se mobilizar para em seguida marcar o ano de 2009 como o “Ano da Criatividade e da Inovação”, ocasião em que 35 países europeus se reuniram para discutir e disseminar esse conceito no continente. A partir daí, pode-se afirmar que o real conceito sobre criatividade começou a ficar muito mais conhecido em todo o mundo. Embora de forma discricionária, vários conceitos foram disseminados: desde que a criatividade era importante só para as artes, como que a criatividade servia para tudo, passando a ser referência para qualquer área: escola criativa, desenho criativo, comida criativa, aula criativa e por aí vai. De nada adianta ter bastante conhecimento, ideias e capacidade de avaliação se as atitudes mobilizadoras para o processo criativo não estiverem ativadas. Essas referências são justamente aquelas que fazem com que o indivíduo se motive, participe, intervenha nos mais diferentes processos e cenários da existência. São elas que nos fazem desafiar as adversidades e nos sentirmos úteis, com a nossa vida em contínua expansão. As constantes transformações pelas quais passa o mundo atual com o avanço da tecnologia, com a internet, dentre outras novidades, tem provocado mudanças profundas, permitindo que se estabeleçam novas dinâmicas de relacionamentos, negociação, trocas de experiências e conhecimento. Hoje já não é mais possível olhar para os acontecimentos do passado e buscar soluções para o presente. Por conta disto, é preciso inovar continuamente em todos os cenários, como cultura, educação, tecnologia, negócios. E, para que isso ocorra, é fundamental resgatar a criatividade inerente a todo ser humano e que foi “escondida” face aos modelos educacionais arcaicos e seculares. Resgatar e desenvolver, pois a mesma é a parte inicial do processo que culmina com a nova realidade dos tempos atuais. Por que o debate sobre a criatividade é importante no presente? Quem pergunta é Fernando Viana, presidente da Fundação Brasil Criativo, em artigo publicado no Infonet em 20/5/13, destacando sete aspectos: 1º - Porque a criatividade humana é um talento que não pode ser transferido seja para pessoas, seja para economias em grande escala. 2º - Porque a criatividade ao ser considerada uma competência fundamental para a economia e não uma competência marginalizada poderá ajudar a motivar, reconhecer e fundamentar novos modelos de negócios e processos organizacionais. 3º - Apesar de escrever sobre criatividade em dezenas de artigos aqui publicados, podemos afirmar que o seu conhecimento como uma competência fundamental ainda não está consolidado e, de uma maneira geral, busca-se a inovação sem antes preparar a cultura da instituição, empresa, comunidade ou território para o pensamento criativo (que é a etapa inicial do processo criativo cujo resultado final será a inovação). 4º - Num mundo em constante transformação, a criatividade vem sendo encarada como uma competência para desenvolver estratégias a melhorar o desempenho das empresas, a colaborar para regenerar cidades e territórios através dos resultados que vêm sendo obtidos com a Economia Criativa, favorecendo não só a revitalização da economia local, como a inclusão social, aumento da renda média das pessoas e causando grandes impactos positivos na sociedade. Portanto, a criatividade se tornou uma força propulsora do crescimento econômico e essa transformação baseia-se na inteligência humana, no conhecimento e na criatividade e faz uso de novas matérias primas que englobam informação, propriedade industrial, capital criativo e capital intelectual humano como elementos essenciais para a sobrevivência e crescimento econômico na era da concorrência global. 5º - A criatividade ao ser entendida como a capacidade de produção que se manifesta pela originalidade inventiva e inovadora é a habilidade de ver o mesmo que toda gente, mas pensar de forma diferente. 6º - Embora a criatividade sempre tenha sido considerada uma competência fundamental para os avanços tecnológicos e os descobrimentos, atualmente, a convergência de muitos fatos importantes no planeta fizeram com que a criatividade se tornasse um ativo econômico diferencial. 7º - A criatividade é fundamental não apenas para os setores ligados a intelectualidade, ciência e arte, mas em toda economia e em todos os setores; daí a ideia de que uma classe “criativa” perde o seu efeito, pois todas as pessoas são criativas e a criatividade humana pode ser resgatada e desenvolvida. Justifica-se, então, a necessidade de se discutir intensamente a sua importância e preparar talentos criativos para a realidade contemporânea. É preciso ter consciência de que pela criatividade o homem tem transformado o mundo. Fica então o questionamento: estamos produzindo esses hábitos mentais, estimulando a criatividade e a colaboração em nossos estudantes? Em tempos difíceis como os atuais, no cenário econômico e político, qual é a motivação passada nas salas de aula e percebida pelos gestores educacionais. Para não dizer que nada, em 21 de julho do ano passado, o intelectual e ex-ministro da Educação, Renato Janine, baixou a Portaria 751 instituindo um Grupo de Trabalho (GT) responsável pela orientação e para o acompanhamento da iniciativa da Inovação e Criatividade na Educação Básica brasileira. Com gente nova na área que conhece “o metier” pensamos ser uma grande oportunidade para resgatar a causa e tratar a Criatividade com a relevância necessária. 8