Gabriel Mario Rodrigues
Presidente do Conselho de Administração da ABMES
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Aldo, 28, ex-futuro engenheiro da Universidade Mogi das Cruzes; Ana Carolina, 21; Camila, 24; Damião, outro ex-futuro engenheiro, da Universidade Braz Cubas; Daniel B; Daniel D., 25; Daniela, 24; Gabriela, 22; Guilherme, ex-quase engenheiro, 29; Janaína, ex-futura farmacêutica pela UMC; Lucas, 20; Maria, 22; Natália, 23; Rafael, ex-futuro analista de sistemas pela UMC; Rita de Cassia, ex-futura enfermeira pela UMC; Sonia, 43.
Esses são alguns dos universitários, ex-futuros profissionais, que, lamentavelmente, morreram no terrível acidente de ônibus ocorrido na estrada Mogi-Bertioga no dia 9 de junho passado.
Estudantes como os seus, como os meus, como os de todas as nossas instituições. Tais quais nossos filhos, sobrinhos e netos. Jovens que sonhavam com um futuro melhor e estudavam e trabalhavam para isso. Tragédia maior não podia ser.
Fico pensando em quantos sonhos e projetos de vida foram interrompidos, não apenas por elas e por eles, mas também por suas famílias que colocavam nesses jovens suas esperanças de um futuro e de uma vida melhor. Pedreiros, corretores de imóveis, atendentes de farmácia, funcionários de prefeitura, cabeleireiras, vendedoras de loja, auxiliares de informática, desenhistas e trabalhadores de todos os quadrantes que labutavam em atividades modestas durante o dia e cursavam escolas noturnas na busca de um futuro mais promissor.
O esforço diário de sair depois do trabalho para frequentar a universidade em cidade próxima, ou nem tanto, não é pequeno. Percorrer todas as noites numa ida e volta constante mais de 80 quilômetros de estrada, dos quais pelo menos metade em serra perigosa, com riscos a cada curva, não é tarefa fácil. Não é para qualquer um. É para quem realmente apostava que poderia ter um futuro melhor, para si e para suas famílias, acreditando que, com o conhecimento adquirido e com o esforço de seu trabalho, o porvir exitoso valeria a pena suportar esse trajeto diariamente durante pelo menos 4 anos de suas vidas.
Os jornais trouxeram fotografias e comentaram o acidente e, como era de se esperar, saiu no Fantástico entrevista com os familiares, com os policiais que fizeram o atendimento na noite e com os responsáveis da transportadora. Mas nada vai além disso. Exploram-se os fatos, mas não se aprofundam nas causas e consequências.
Assim como em Mogi, estudantes espalhados por todo este Brasil precisam se deslocar diariamente das cidades onde moram para a localidade onde estão suas escolas e faculdades. Transportados pelos mesmos ônibus de segunda categoria, pelas mesmas estradas esburacadas e serras tortuosas e correndo os mesmos perigos. E, lógico, estão correndo os mesmos riscos de se tornarem notícia fatídica de jornal e apenas isso, se ninguém ousar encontrar solução.
Só que isso não pode acontecer mais!
O que nós, mantenedores, podemos fazer para ajudar as famílias daqueles que partiram? Oferecer nossa solidariedade, nosso apoio incondicional, nosso luto? Nada disso vai servir para mitigar as dores das perdas. Como gestores de instituições educacionais, temos que fazer mais. Precisamos refletir sobre o ocorrido e procurar encontrar uma saída.
E como os departamentos de Marketing das instituições podem contribuir para encontrar soluções de modo que tragédias como essas não ocorram mais? O Marketing de Captação precisa reconhecer que trabalhamos com seres humanos e não apenas com números de alunos matriculados. Faz parte também do bom Marketing pensar no aluno além da sala de aula.
Aliás, no livro Marketing Estratégico para Instituições Educacionais, Phillip Kotler e Karen Fox (editora Atlas) enfatizam que o principal objetivo da área não é só captar estudantes, matriculá-los e evitar que abandonem os cursos, é preciso também que se tornem não apenas profissionais de sucesso, mas, principalmente, que sejam cidadãos e cidadãs plenos em todos os aspectos. Apontam que o estudante deve ser visto como cliente por toda a vida.
É máxima de Marketing que as empresas devem pensar em estratégias que busquem a fidelização do cliente em sua inteira existência, adaptando-se aos diferentes hábitos de consumo, necessidades e desejos, de acordo com o ciclo de vida da família, desde a época de solteiro, chegando até os dias de avós aposentados.
O que fazer com o nosso Marketing que só pensa em números? A realidade dos estudantes brasileiros, o cenário do macroambiente do país e sua desigualdade social fazem de boa parte deles verdadeiros heróis com duplas ou triplas jornadas de trabalho, para conseguirem o tão almejado diploma de ensino superior, às vezes mais desejado do que a sonhada casa própria. O Marketing precisa pensar nessas pessoas.
E o que o Marketing das IES que têm alunos transportados como esses que foram vítimas do acidente devem fazer, sem grandes reservas em seus orçamentos anuais? Proponho aqui algumas ideias para que sejam amadurecidas:
- Exigir que a legislação que controla o transporte de veículos que servem seus alunos seja efetivamente cumprida e que a Prefeitura ou o Estado exerçam com rigor o policiamento das estradas.
- Influir para que os alunos conheçam melhor estes prestadores de serviços.
- Criar manual de orientação sobre os cuidados que os usuários devem ter ao contratarem os serviços e também para não viajarem em ônibus ou vans que não estejam regularizadas nos órgãos competentes.
- Exigir das transportadoras a contratação de seguros para os passageiros.
- Orientar a instituição para acompanhar se de fato todo este processo está acontecendo.
- Para o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular cabe conseguir lei específica para o transporte de universitários.




