“A cultura geradora da criatividade e a pessoa potencialmente criativa são dois componentes necessários para a criatividade acontecer. O indivíduo e a cultura fazem parte de um processo sinérgico extremamente dinâmico. Eles são coexistentes e interdependentes. Nenhuma das duas partes pode coexistir sem a outra”. (Domenico de Masi – Criatividade e grupos criativos)Na nossa tradição cultural, a maioria das pessoas pensa que a criatividade é um dom divino, que alguns predestinados nascem dotados para serem grandes artistas, músicos, arquitetos, escritores, cientistas, inventores ou empresários de sucesso. Pouca gente se dá conta de que criatividade é atividade que pode ser treinada, ensinada e desenvolvida, como acontece com quase tudo na vida e que só surge depois de muito trabalho, capacitação, treinamento e suor. A escola tem um papel fundamental nesse processo. Porém, em vez de atuar como a grande incentivadora de novos projetos a serem desenvolvidos por seus estudantes, muito pelo contrário, cerceiam o novo por estar atavicamente presa ao passado. Desconexão maior não pode haver diante do cenário atual e do mundo competitivo. Vivemos em um momento no qual o maior desafio das empresas é desenvolver novos produtos e serviços para o meio ambiente e o equilíbrio sustentável, de modo que o ser humano consiga ter melhor qualidade de vida. Especialmente no Brasil, estamos carentes de soluções criativas para poder deslanchar. Há também um detalhe pouco percebido: o indivíduo criativo está ligado a uma área específica do conhecimento, embora sua formação ou vivência tenha até origem diversa. Como a inovação tem seu berço na criatividade, aproveitamos as ideias expostas por Lidi Ferreira do Project Hub em “Qual é o segredo da criatividade? 8 líderes em inovação respondem”, em que diretores de inovação e tecnologia de grandes empresas brasileiras foram entrevistados sobre o tema. Vamos analisar por partes. Richard Chaves, diretor de inovação e novas tecnologias da Microsoft Brasil, formado em Computação e pós-graduado em Gestão de Negócios, diz que o profissional de inovação precisa ter com clareza a razão de seu trabalho e o objetivo que o mesmo representa na comunidade. Para atuação criativa é importante estar sempre trocando ideias com pessoas muito diferentes o que lhe permite perceber oportunidades até então invisíveis. Carlos Tadeu da Silva, diretor de Tecnologia de Refrigeração e Ar Condicionado da Whirlpool Latin America, salienta que, para ser um bom profissional de inovação, a pessoa precisa ser organizada e ter método. Ao contrário do que muita gente pensa, criar não é um processo caótico, pelo contrário, é muito racional. “O que não pode é ter medo de errar, ou só propor ideias que ‘fazem sentido’”, diz ele. Outro entrevistado é Rony Sato, gerente de tecnologia e inovação da Basf para a América do Sul, engenheiro químico, pós-graduado em Biotecnologia e Administração Industrial. Com experiência em mediação de workshops de inovação, acredita na importância da diversidade das propostas e das ideias. “É preciso dar oportunidade para que todos se expressem e tragam pontos de vista muitas vezes antagônicos sobre o assunto”. Outra característica importante é que o profissional precisa estar envolvido emocionalmente com a missão do projeto. Na visão de Camila Durlacher, diretora de P&D da 3M do Brasil, química com pós-graduação em Gestão estratégica e inovação, acredita que soluções originais e viáveis dependem sempre de trabalho coletivo. O compartilhamento de opiniões diversas auxiliam a encontrar soluções para as questões que temos de resolver. “Sem colaboração, fica muito difícil ter uma ideia realmente boa”. Segundo Eduardo Canejo, gerente sênior de Inovação da Samsung da América Latina, engenheiro mecânico com pós-graduação em Estratégias de Inovação, a pessoa precisa procurar ter todas as informações que podem dar subsídios à possível solução. “Você precisa ter um amplo leque de referências para fazer associações de ideias”. Ele afirma ainda que “quanto maior o seu repertório, mais facilmente você poderá cruzar áreas do conhecimento e chegar a novas conclusões”. Daniel Rosa, gerente de Desenvolvimento para TV e Mídia da Ericsson, engenheiro Eletricista, pós-graduado em Desenvolvimento de software, acredita que é preciso ter liberdade de expressar ideias e autonomia para agir e não ter medo do fracasso. “Se você só aposta em projetos seguros, não rompe com nenhum paradigma”, explica. “A inovação começa com ideias loucas, absurdas”. Caito Maia, presidente da Chilli Beans Brasil, é formado em Música e criou a maior rede especializada em óculos escuros da América Latina. Ex-líder de banda de rock, diz que a polêmica sobre alternativas diferentes são ingredientes importantes para a inovação e que não tem receio de ideias extravagantes. “Para alimentar o meu espírito inovador, me cerco de gente que respira criatividade, como publicitários, arquitetos e designers". Graciela Tanaka, diretora de Operações do Grupo Netshoes, formada em Ciências da Computação, acredita que a criatividade para elaborar novos produtos e serviços precisa estar antenada com a necessidade de seu consumidor. “É importante apoiar-se nas tecnologias já empregadas e acreditar que sempre é possível melhorá-las”. Resumindo, podemos dizer que criatividade é propor ideias e descobrir relações entre coisas conhecidas, mas que tenham propósitos. As ideias não nascem à toa, elas precisam ser sistematizadas e compartilhadas dentro do repertório das experiências de cada participante de um projeto. Há ainda a necessidade de diversidade. A ideia nunca nasce pronta e, por isso, especialmente nas empresas, é preciso que haja um ambiente de total liberdade para serem expostas e não se pode temer o fracasso. A tecnologia também deve ser um aliado e servir de suporte. Concluímos que a característica essencial do criativo é a curiosidade por tudo que está acontecendo, sempre predisposto a investigar novas áreas e estar apto a correr riscos. A criatividade é um hábito mental que precisa ter constância para poder aflorar. É lógico que a motivação e cultura criativa são importantes, sem esquecer-se da máxima de Thomas Edison que diz que em toda a inovação há 1% de sorte e 99% de transpiração.