“Vivemos um tempo promissor, embora a visão de mundo materialista prevaleça. O século XXI abre para um novo paradigma baseado na física quântica e na primazia da consciência sobre a matéria. E um dos aspectos centrais dessa mudança é a criatividade.” Amit Goswami – PHD em Física Nuclear pela universidade de CalcutáEm dois artigos anteriores que escrevi para o blog ABMESeduca, tratei da visão que alguns empresários têm sobre o tema inovação. Citei exemplos de profissionais de prestígio das empresas Microsoft, 3M Brasil, Whirlpool, Basf, Ericsson, Chilli Beans e Samsung, que estão inovando em suas áreas de atuação (Saiba mais: Você também pode ser criativo). Mostrei também a pesquisa publicada no especial Valor Inovação Brasil, do Valor Econômico, que traz a lista das 10 empresas brasileiras mais inovadoras, na qual a Embraer é a primeira, seguida por 3M, Natura, Whirlpool, Itaú, Unibanco, Grupo Boticário, Weg, Bradesco, Embraco e Ambev (Saiba mais: Os caminhos da inovação). Contextualizei que a inovação é setorizada e que a criatividade a precede, ou seja, não há inovação sem antes ter havido criação, questionamento e imaginação. Antes vem a ideia para a solução e depois a ação. Foi sempre assim desde os primórdios da civilização, quando o homem, há milhões anos, começou a pensar em como sobreviver, como se comunicar e usar a força dos braços e da mente para vencer os tremendos desafios da natureza. Recorro ao que escreveu De Masi em seu livro “Criatividade e Grupos criativos” (Ed. Sextante), citando que Deus, depois de ter criado o dia e a noite, o mar e as estrelas, o sol e as montanhas e após moldar do barro o primeiro casal, os chamou e disse: “o mundo está feito, porém, para lhe dar continuidade, vocês vão precisar construir tudo o que ainda falta.” E o homem fez o fogo para aquecer os alimentos e a ele próprio nas intempéries. Criou as ferramentas para auxiliá-lo no trabalho, a roda para o transporte e as máquinas para a produção de massa. E tudo que existe no mundo até hoje começou com um desafio resolvido por pensamento criativo. A primeira demonstração civilizatória foi a agricultura. A segunda, a revolução de 1870, trouxe a divisão do trabalho, a eletricidade e a produção em massa. A terceira, de 1969, moveu o homem para as ferramentas eletrônicas com a tecnologia da informação e a produção automatizada com destaque para os voos espaciais. A quarta revolução, que vivemos agora, na opinião de Klaus Schwab, chairman do Fórum Mundial de Davos, une mudanças socioeconômicas e demográficas e terá impactos mundiais nos modelos e formas de fazer negócios e no mercado de trabalho. Para ele, as mudanças são tão profundas que o mercado de trabalho será afetado dramaticamente. Porém, a grande ameaça aos empregos não está mais na indústria, como nas revoluções passadas, os softwares inteligentes estão chegando ao setor de serviços. Eles são capazes de dirigir veículos, atender clientes em serviços de telemarketing, preencher formulários de Imposto de Renda, etc. Hoje o maior capital que todos precisam adquirir é o capital criativo, porque as mentes mais lúcidas de todos os países já perceberam que a criatividade é o maior investimento que as nações precisam fazer para erradicar a pobreza, superar as crises de escassez dos recursos naturais e, principalmente, atuar de modo que a administração pública encontre caminhos para uma gestão mais transparente sem “petrolões” e sem trapaças. À luz desta nova realidade, o físico indiano Amit Goswami demonstra claramente de onde vêm as ideias criativas (Criatividade para o Século 21, Ed. Goya), como elas se manifestam, qual a origem de nossas motivações e como podemos ampliar nossa propensão para a criatividade. Ele fornece um verdadeiro manual que integra ciência e criatividade, explicando o papel fundamental da intuição, do livre-arbítrio e das inúmeras possibilidades de escolhas criativas no desenvolvimento humano, apontando caminhos para que tenhamos uma vida mais íntegra e plena. A inovação é específica para um setor, produto ou serviço. No ensino, por exemplo, pode-se ter em sala de aula, em corpo docente, tecnologia educacional, transporte aeroespacial e medicina etc. No entanto, a base de qualquer inovação é sempre a criatividade, porque ninguém soluciona algo se não tiver mente criativa. E mente criativa não é só dom de artista, é possível adquirir com metodologia e treinamento. Lamentavelmente, a inovação não está nada consolidada na educação universitária. Se o segmento particular quiser ocupar algum lugar de destaque para promover inovação, deverá ir atrás de parcerias, de alianças, unir esforços e procurar empresas para dialogar, ver o que precisam e encontrar o melhor caminho para atuarem em conjunto. Há uma excelente tese realizada pela Profa. Marta Sorelia Felix de Castro¹ que aborda a inserção da criatividade na educação. Ela cita a pouca preocupação da universidade com a questão e mostra que os professores pesquisados salientam que a criatividade deveria ser desenvolvida no processo educacional. Porém não há diretriz alguma em estimular e nem em valorizar a formação de estudantes criativos. As instituições de ensino, em sua maioria, não estão preocupadas com esta questão e nem preparadas para desenvolver o pensamento criativo dos alunos. Já que, paradoxalmente, esse tipo de capacidade envolve características que a educação tradicional não conseguiu ainda eliminar, como divergir, arriscar, pensar no novo, intuir, dar liberdade para agir e experimentar novos caminhos. A criatividade no ensino superior tem papel relevante na obtenção de um futuro sustentável, porque promove capacidades fundamentais para uma cultura emancipadora e de responsabilidade social. As 10 competências necessárias para viver na 4ª revolução são apontadas no relatório The Future of Jobs, desenvolvido pelo Fórum Econômico Mundial. A publicação evidencia que a criatividade passa a ter uma importância maior na atualidade consolidando-se entre as competências mais valorizadas para os próximos anos. O relatório ainda aponta para a necessidade de inovar rapidamente os sistemas educacionais, preparando as pessoas para um cenário mundial de trabalho com profundas transformações num mundo de extrema competitividade, onde a bagagem maior de cada pessoa está atrelada a solucionar os problemas que a realidade da vida apresenta a cada instante. E, para isto, o pensamento criativo tem papel preponderante, porque sem criatividade não há inovação.
¹ Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior pela Universidade Federal do Ceará (UFC), publicou o artigo "Desenvolvimento da criatividade no ensino superior: percepções da criatividade docente e discente na formação acadêmica".