Gabriel Mario Rodrigues
Presidente do Conselho de Administração da ABMES
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Pierre de Coubertin, o grande promotor das Olimpíadas da época moderna, tinha a crença de que o esporte estava ligado de forma intrínseca à educação. O lema “mens sana in corpore sano”, uma mente sã num corpo sadio, tem o significado de que a prática esportiva e o desenvolvimento educacional deveriam estar sempre juntos para valorizar o ser humano. Esporte e educação sempre formam uma pessoa melhor.
Nas Olimpíadas Rio 2016, o Brasil conquistou sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze, alcançando sua melhor participação na história dos jogos modernos. No total, foram 19 pódios e a 13ª posição no quadro geral. Um avanço expressivo, uma vez que disputamos 50 finais nesta edição, contra 36 em Londres (2012). E além dos pódios, alcançaram-se resultados relevantes em levantamento de peso, esgrima, atletismo, canoagem slalom, marcha atlética, no ciclismo de estrada, entre outros.
Enfim, progredimos. Mas a reflexão que fica é: fora os investimentos realizados que permitiram benefícios urbanísticos e movimento econômico para o Rio de Janeiro, qual o legado para a mocidade? Será que só a possibilidade de acesso social e econômico para alguns dos bem-dotados esportistas, oriundos e moradores das nossas periferias?
Quando vemos os norte-americanos liderarem os rankings de medalhas de ouro, prata e bronze, percebe-se claramente que por trás de tudo existe algum tipo de política. Aliás, numa entrevista veiculada pela Globo News, atletas americanos foram francos em afirmar: “Nós nos preparamos e não é novidade ganhar medalhas, pois é o resultado de nossos investimentos”.
Dá até inveja, pois aqui gastamos sempre de afogadilho e sabemos que isso não funciona e não é suficiente. Somos um celeiro de jovens atletas espalhados pelo Brasil que deveriam ter sustentação econômica para receber educação e treinamento para competição. Mas será que isto é desejo nacional e tem feito parte das propostas das nossas políticas públicas?
Quando olhamos para as grandes universidades americanas, vemos o interesse na procura por talentos no esporte. Os alunos são premiados com bolsas integrais, alojamento e, principalmente, preparação durante anos até se tornarem nos campeões que vemos hoje.
É este o caminho: é nas escolas que podemos fazer a diferença para que o Brasil possa avançar. Temos milhares de alunos a serem observados, selecionados, treinados para que tenhamos capacidade não apenas para competir, mas também de ganhar, de ter sucesso e conseguir, sim, medalhas.
Temos agora no horizonte Tóquio 2020, mas são tímidas as iniciativas para preparação de nossos futuros campeões. Sabemos que um programa bem articulado com o sistema educacional e apoiado financeiramente faria a diferença. Ficamos admirados quando vemos vencedores de cidades que nem sabíamos que estavam no mapa. E quantos deles há espalhados pelo Brasil à espera de que alguém lhes abra as portas para serem preparados e poder competir em igualdade de condições?
Se olharmos o quadro de medalhas das Olimpíadas Rio 2016, vemos exatamente o ranking de quem investe no esporte. Enquanto isso, o Brasil contenta-se em figurar entre os países com maior número de medalhas, quando na realidade deveríamos ser mais ambiciosos. Temos que avistar o topo e trabalhar nesse sentido.
Ninguém está dizendo que não foram feitos investimentos para preparação de atletas para o Rio 2016, mas tudo de modo restrito e para eventos já programados. Muito esforço individual e superação diária. Sabemos que preparação demanda tempo, suor e lágrimas. Ficamos espantados com o jamaicano corredor, mas ninguém pergunta quanto tempo ele treina, quanto sacrifício ele faz, de quantas coisas ele se priva para estar em forma e ainda poder competir alegre, otimista, sabedor de que está colhendo os frutos de longa preparação.
Para termos um Brasil olímpico, precisamos, no mínimo, de uma década de investimentos diretos com convênios e contratos com escolas, universidades, centros universitários, faculdades, clubes, associações e outras organizações. Falo da escola, porque ela pode proporcionar, além do treinamento, educação formal, como o fazem outros países de sucesso. Muitos dos nossos atletas saem do país para buscar melhores condições e ambiente para treinamento. Eis o segredo!
Precisamos construir nossa infraestrutura, pois somos um país jovem e tudo servirá para o futuro. Mas sem uma política agressiva, direcionada para determinados esportes e com metas claras, não avançaremos. Por outro lado, temos ainda uma classe dirigente despreparada para atuar nesse terreno, mas podemos, sim, buscar conhecimento em outros países, como já acontece com alguns treinadores que vêm da Rússia e de outras nações para aprofundar o conhecimento em determinados esportes.
O que quero dizer é que precisamos mudar nossa mentalidade, nossas políticas de esportes, nossas estratégias e nossos investimentos se quisermos, num futuro próximo, colher frutos da preparação. Não adianta apenas apostar no futebol. Nada acontece por acaso e o sucesso de alguns atletas hoje se deve, sim, à sua determinação e ao seu esforço, na maioria das vezes, pessoal e não institucional.
Proponho um programa universitário de preparação com planejamento, com planos concretos, com investimentos em infraestrutura adequada e pontos espalhados por todas as regiões do Brasil. E assim, no médio prazo, podermos competir, talvez ainda não em igualdade de oportunidades com atletas de ponta de países com tradição em pódios, mas ao menos com melhores resultados do que estamos obtendo nas três últimas olimpíadas.
Parece-me que está passando da hora de despertamos nossas consciências para tardiamente começar – antes tarde do que nunca! – um programa efetivo com quem tem mente e coração para isso, que são as Instituições Educacionais, sem descartar as demais associações.
Digo isso porque podemos, pelo menos nesse aspecto, seguir o exemplo de vários países que se notabilizam por seus feitos. E sabemos que tudo isso é resultado de décadas de investimentos.
O que a nova geração espera? Que possam ter apoio para desenvolver suas habilidades e demonstrar ao Brasil e ao mundo que, querendo e podendo se preparar, é possível conquistar o mais alto lugar no pódio.
Falta ao Ministério da Educação; ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação; ao Ministério do Esporte visão de futuro mais ousada, mais agressiva, para que em 2020 possamos estar mais bem preparados para mostrar ao mundo que o Brasil despertou também para os esportes. E o mais importante: quanto mais jovens praticam esportes, menos criminalidade teremos. E sempre valerá o lema: Mens sana in corpore sano.
Alertar para o amanhã é despertar a consciência cidadã de que o Brasil precisa mudar urgentemente para poder figurar entre os países desenvolvidos, também nos esportes de competição. A música de Geraldo Vandré diz: “Vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não espera acontecer”. Sábia observação: precisamos de proatividade para, com criatividade, mudar o jogo na educação e no esporte.




