Sonhos determinam o que você quer. Ação determina o que você conquista. Aldo NovakNa última semana, os noticiários trouxeram os vencedores do Prêmio Ig Nobel, oferecido para indicar as pesquisas mais engraçadas e absurdas que acontecem no meio científico. O médico e sexólogo egípcio Ahmed Shafik, recentemente falecido, foi o ganhador na categoria “reprodução” por pesquisas nas quais vestiu ratos com roupas de diferentes tecidos - algodão, lã, poliéster - para avaliar o desempenho sexual destes animais. Mas, pensando seriamente sobre pesquisa, não sei por que até hoje nenhuma entidade criou uma premiação anual para os Trabalhos de Conclusão de Curso (os TCCs) que são realizados pelas nossas instituições educacionais. Seria não só uma forma de valorizar os estudantes, mas também um meio de mostrar para a sociedade a qualidade dos trabalhos realizados pelos universitários quando concluem a graduação. Há algumas semanas, escrevi sobre as Paraolimpíadas e comentei sobre a negligente falta de espaços, ambientes e circulação adequados para os deficientes físicos, tanto em suas moradias, com em vias públicas ou em áreas de lazer. Destaquei na ocasião que não conhecia um TCC das nossas instituições que tivesse abordado esta importante questão. Na quinta-feira passada, dia 22 de setembro, presidi no 18º FNESP - evento de sucesso do Semesp - uma mesa sobre o tema “Novos conceitos de organização das Instituições de Ensino Superior”. Invejei o relato de Johann Löhn sobre o modelo do sistema universitário alemão, que consegue intercambiar com as empresas, valorizando o trabalho dos estudantes. Enquanto isso, no Brasil, concluído o curso, os TCCs vão parar na lata do lixo. Para deixar mais claro o que penso sobre os TCCs, salvo as habituais exceções à regra, o esforço de professores e alunos a cada ano em produzirem um trabalho que realmente tenha conteúdo prático é pouco valorizado. Os temas desenvolvidos muitas vezes até são atuais. No entanto, a excessiva exigência pela fundamentação teórica e a engessada metodologia científica tornam essa oportunidade de desenvolvimento do universitário distante do dinamismo das empresas e das necessidades públicas de projetos que poderiam servir para aplicação ativa e significativa da resolução de desafios e problemas reais da vida e do trabalho. É lamentável o desperdício de boas ideias presentes nos projetos de TCCs, que poderiam se tornar inovações de pesquisas, produtos e serviços. Essa avaliação deveria tornar-se uma real oportunidade de desenvolvimento do estudante. Aprendizagem e experiências que poderiam ser mais bem aproveitadas para tornar propostas reais, originadas dos próprios estudantes, em ações voltadas à resolução das questões sociais, humanas, empreendedoras, educacionais e de desenvolvimento sustentável para o país. E, assim, estaríamos construindo uma nova geração de jovens protagonistas para gerar as reais mudanças que tanto necessitamos. Vejam quanto os TCCs poderiam representar uma real perspectiva de mudança e desenvolvimento para todo o sistema universitário. É tão óbvio que ninguém percebe. Minha visão sobre os TCCs é que de fato eles deveriam ser a amostra perfeita do resultado da formação superior de recursos humanos que as instituições particulares, a cada ano, deveriam oferecer ao mundo empresarial, particular ou estatal, e mesmo num projeto de empreendedorismo. Como não há pesquisas sobre os resultados efetivos dos TCCs no sistema universitário, só posso me servir do Google para observar que, ao mesmo tempo em que existem instituições que apresentam de forma organizada sites específicos sobre os temas e teses apresentados por seus egressos, de outro lado aparece a propaganda de “empresas e consultorias” diversas, oferecendo seus préstimos profissionais para executarem os TCCs, o que demonstra que muita gente não leva a sério esta programação. Retomando o processo, como todos sabem, o Trabalho de Conclusão de Curso ou monografia é uma pesquisa científica ou um projeto empresarial apresentado pelo aluno ao final dos cursos de graduação, que representa a síntese de sua formação universitária. É a forma de avaliar conhecimentos, habilidades, valores e atitudes adquiridos no ensino superior; um processo que a maioria das instituições brasileiras utiliza. Geralmente orientado por um professor, o estudante ou uma equipe apresenta o projeto de pesquisa ou de empresa cujo tema deve ser um recorte de um dos assuntos estudados durante a graduação. Deve ser de seu interesse, para que ele possa se mobilizar e levantar um problema de pesquisa ou questionamento empresarial. Na sequência, ele deve ser fundamentado, pesquisado e analisado, para que, então, uma proposta seja elaborada para a solução com um plano de viabilidade e execução. A análise e a discussão dos dados, a demonstração da viabilidade e as considerações finais são as etapas que concluem o TCC. Via de regra, os estudantes o apresentam a uma banca examinadora, composta pelo orientador, professores e, quando possível, profissionais de mercado convidados que avaliam o trabalho e a apresentação. É evento festivo realizado na instituição, com a presença da família, dos amigos e de outras pessoas convidadas. No entanto, poucas instituições guardam os resultados dos trabalhos. Algumas apenas arquivam os projetos com as atas e as notas dos mesmos. Para concluir, sou um adepto incondicional do valor dos TCCs, não só como uma forma do estudante no último ano fazer um trabalho que sintetize tudo que aprendeu e desenvolveu em seu curso, mas também como uma experiência real, um portfolio, que deveria servir para ser mostrado a possível empregador ou investidor. Devem ter dezenas de centenas de exemplos como este que vou relatar e que deveriam servir como um input inicial de inspiração para uma ação de reorganização desse processo, mas voltada às reais demandas de formação universitária no século 21. Segundo ano da faculdade, um estudante vai procurar a coordenadora dizendo que não tinha mais condições de continuar o curso, pois o pai havia perdido o emprego e ele só sabia fazer mágicas. A coordenadora, por acaso, fala com amiga organizadora de eventos infantis e indica o rapaz para praticar suas habilidades nas festas da meninada. E foi fazendo mágicas o tempo todo que o Jorge pagou a faculdade. O último ano de curso chegou e com mais dois colegas sem muita convicção escolheram como TCC o projeto de uma casa de diversões. A apresentação dos três amigos ia bem até que a banca arguiu sobre a viabilidade do negócio. Quando o grupo titubeou, Jorge rapidamente mobiliza suas habilidades de comunicação e arranca as palmas da plateia com o incrível show de mágicas que havia preparado. A equipe foi aprovada às duras penas, mas o inesperado é que, na saída, um dos convidados de outro grupo lhe oferece um estágio na Volkswagen. Foi assim que, começando no departamento de Marketing e depois cursando Pós-graduação na Alemanha, Jorge fez brilhante carreira na empresa. É lógico que a mágica foi só a porta de entrada e o restante foi com muito estudo, trabalho, competência interpessoal e de liderança. Comentei que não existem pesquisas sobre o aproveitamento dos TCCs, mas tenho ciência de que a maioria dos projetos não trata da realidade das pessoas, das empresas e dos problemas do país. Em vez de atuar sobre questões reais, trabalha-se com teorias. Certamente, para os estudantes dedicados, vai servir de experiência, mas, para a grande maioria, a meu ver, pouco vai agregar. É só fazer as contas e avaliar nestes últimos 30 anos, quanta energia foi despendida com pouco retorno. Calculando-se que, neste ano, 500 mil alunos se ocupem duas vezes por semana com a preparação dos seus TCCs, qual o valor de recursos despendidos neste programa? Será que vale a pena todo este esforço? Qual o custo para gerar um processo que realmente tenha benefícios? Não seriam os TCCs uma real oportunidade para criarmos um processo de redes colaborativas no sistema universitário brasileiro? Acredito que já está passando da hora de refletirmos sobre isso e buscarmos novos caminhos dentro de nossas instituições.