"Muitos dos atores se escondem através de opiniões apressadas e na maioria das vezes sem nenhum outro desejo se não da sabotagem, típica de uma hostilidade pueril e de uma ingenuidade grosseira e arrogante. A discussão no encontro cara a cara, nas ruas, praças, botecos onde for, é essa a que vale mais. O enfrentamento honesto e portanto de gente de coragem para se permitir a mudar a opinião do outro e pelo outro ser tão fortemente marcado para que juntos possam mudar a realidade, aí se faz e se fará sempre a política". (Jorge Armando Esper)Escrevi em meu último artigo que os Trabalhos de Conclusão de Curso – os TCCs – poderiam, por meio de seus temas, refletir a demonstração do conhecimento, das pesquisas, das experiências e do aprendizado auferidos no sistema universitário, além de demonstrar como o egresso está preparado para enfrentar os desafios da vida. Relatei também que este esforço de união de cérebros de estudantes e professores poderia servir para instigar a solução dos desafios da nação, em vez de ser desperdiçado pela falta de objetividade das teses apresentadas. Considero não estar só ao pensar assim e, por isso, destaco algumas manifestações que me foram enviadas via e mail por professores de São Paulo e de Minas. Escreve o paulista: “Durante meus 21 anos como professor de curso de administração de universidade de prestígio, incentivo meus orientandos a aplicarem a proposta de seu projeto acadêmico em suas vidas, principalmente para pensarem na criação de negócios próprios, e pensarem num efetivo plano de marketing, nem que seja para futuro muito distante”. Ele conta que, para adequar o projeto às normas acadêmicas exigidas, os estudantes elaboram uma pesquisa bibliográfica e um referencial teórico sobre cada uma das etapas do plano de marketing, descrevendo o caso em estudo (sua proposta de empresa), e nas conclusões apresentam a proposta para o projeto. O professor desabafa que acabou sendo preterido, porque colega da área de marketing proclamava que ele não sabia orientar TCCs e que negócios próprios não deveria ser tema de trabalho acadêmico teórico, como recomendam as normas do Ministério da Educação. Hoje, não é mais responsável por TCCs, mas continua sendo procurado informalmente por estudantes e incentiva-os a levar em conta o empreendedorismo como uma das alternativas de desenvolvimento de carreira. Outras considerações que gostaria de compartilhar são de professor de Minas Gerias que enfatiza que o TCC precisa ser reformulado. “Ele deve ter uma importância fundamental como síntese do amadurecimento intelectual do aluno e não um mero documento de passagem. Frequentemente, ele não passa apenas de ritual, quando deveria efetivamente ser avaliado pela sua importância no contexto”. Para o professor, a abrangência do TCC deveria representar uma síntese do conhecimento adquirido, de modo que o trabalho pudesse ser analisado sob diversos ângulos: pela língua portuguesa, pela metodologia, pela sociologia e psicologia, pela parte técnica e pelas várias formas de viabilidade. Ao ser aprovado, o trabalho deveria ser arquivado como produção intelectual do aluno, dada sua seriedade técnica e científica. “Isto não acontece na grande maioria dos cursos porque os TCCS são encomendados a ‘consultores especializados’. E o mesmo sucede com as Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado. Lamentavelmente, temos uma grande indústria de produção de TCCs, Dissertações e Teses que sobrevive muito bem porque tem clientes. Apesar de estarrecedor, é real”. Em outro sentido, vem agora o senador Eduardo Amorim (PSC-SE) que apresenta projeto para extinguir a obrigatoriedade dos TCCs, contrário à sua validade no conjunto da matriz curricular de um curso. Segundo o senador, “embora o TCC seja importante para avaliar e aprimorar determinadas competências, nem sempre é representativo no percurso acadêmico ou no aprendizado dos estudantes”. Argumenta também que não é raro os TCCs abordarem “problemas estéreis”, que em nada contribuem para o progresso profissional ou acadêmico dos seus realizadores. De uma forma ou outra, ratificaram o que escrevi. Mas o que também está repercutindo assustadoramente na mídia e foi criticado sem base alguma, até no programa do Faustão, é a reforma do Ensino Médio. Inegavelmente, é bom que todos opinem sobre esta questão, porque mostra que a sociedade está sensibilizada para a única trilha certa que leva ao desenvolvimento: a Educação. Por incrível que pareça, retrocedemos nessa questão. Há cinquenta anos, sabíamos que os jovens das classes mais altas podiam ter alternativas distintas: o científico para as ciências exatas, da terra e da saúde e o clássico para os demais cursos das ciências humanas. Tínhamos inclusive curso para formar professores para o ensino primário e secundário. Era o Normal que, vamos reconhecer, exercia um importante papel formativo no processo. Havia ainda uma série de cursos técnicos oferecidos à classe “C”. A reforma que extinguiu esses cursos só piorou a situação e, de lá para cá, fomos caindo sempre, até chegarmos ao ponto em que nos encontramos hoje. Mas a culpa não está só no ensino médio. O problema vem desde o ensino fundamental. Pesquisas mostram que os alunos das últimas séries não sabem responder a 50% das questões propostas, além de não dominarem a língua portuguesa, nem a matemática e a leitura. Então, críticas à parte, se queremos começar a estruturar o ensino médio e seu destino, precisamos melhorar a matéria prima que chega para frequentá-lo. E não vai ser o fato de tirar ou adicionar uma disciplina que vai resolver a questão. Primeiro precisamos saber exatamente o que queremos do nosso ensino médio. E, ao aprofundarmos a reflexão, percebemos que o problema é mais amplo: não existe uma política de formação de recursos humanos para o desenvolvimento do país. Nos enganamos pensando que todos devem cursar uma faculdade. Nos últimos anos, temos promovido essa ideia no Brasil, como se o aluno que não frequentasse o ensino superior nada conseguiria na vida. Esquecemos de olhar o mundo numa época de globalização, de conhecer experiências exitosas. Precisamos levar em consideração exemplos como da Alemanha, França, dos Estados Unidos e da Correia do Sul, para desmistificar esse valor supremo que querem dar ao ensino superior. Pouca gente leva em consideração a revolução que os meios de comunicação estão fazendo com o aprendizado humano e a necessidade de todos precisarem ficar atentos às transformações, pois um dos próximos cenários, como cita o Dicionário do Futuro (Fait Popcorn e Adam Hanft - Ed.Campus), o caminho direto do ensino médio à universidade vai acabar ficando fora de moda, tanto quanto o modelo superado do emprego, de trinta anos atrás. Num mundo em transformação contínua, o que vale é o aprendizado para a vida inteira, o que nenhuma escola é capaz de oferecer. Em todos os dias estamos aprendendo, mas, se não soubermos para onde queremos ir, é certo que não chegaremos a lugar algum. Já é um avanço muito importante termos a pauta da educação presente na sociedade. Isso mostra que temos de despertar para tema e termos conhecimento sobre o que precisamos fazer, como fazer e, de fato, fazer. Não basta apenas criticar, precisamos agir. Implementar qualquer proposta hoje exige uma infraestrutura inexistente na maioria absoluta dos estados brasileiros para ter um ensino em tempo integral. Apesar de conhecermos tecnologias, nossas escolas, em sua maioria, não têm internet, e aquelas que têm não estão com funcionamento adequado. Sem falar nos meios instrucionais inexistentes. Então, fazer uma reforma pensando apenas no currículo sem pensar na formação do professor, elemento fundamental, e na infraestrutura é fugir da realidade. Tal como foram apresentadas, certamente essas propostas não serão aprovadas. Precisamos de reforma sim, mas questionando antes: o que entendemos por ensino médio? Para que serve o ensino médio? Queremos reformá-lo para que tenha qual resultado? Que investimentos serão necessários para implantá-lo em tempo integral? Sem saber responder essas questões, dentre outras importantes, certamente estaremos achando que haverá milagres dos céus.