“A crescente substituição do trabalho humano pelas máquinas deverá fazer que metade das ocupações que existem hoje desapareça no prazo de uma ou duas décadas”. (Prof. Erik Brynjolfsson)O economista americano Erik Brynjolfsson, diretor do Centro de Negócios Digitais do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), diz, em entrevista à Revista Veja (edição 2502 – ano 49 – nº 44, 2 de novembro de 2016), que o desenvolvimento da inteligência artificial levará a humanidade a rever totalmente sua maneira de fazer negócios e que nossa forma de viver deverá ser repensada. Partindo de seu ponto de vista, será preciso fortalecer e readequar os sistemas educacionais para uma nova realidade, “pensar na reinvenção que será necessária na educação para esse novo mundo em que profissões serão dizimadas pelas máquinas, e encontrar soluções para o problema da desigualdade, que tende a se acentuar”. Somos céticos em relação à sua afirmação de que as máquinas ultrapassarão os cérebros humanos, porém, há, de fato, a necessidade de nos prevenirmos e nos aprimorarmos. Não somente em relação às máquinas, porque atualmente as diferenças educacionais já são bem extensas, como salienta o último Enem. Os “Resultados do Enem por Escola 2015”, divulgados recentemente pelo Inep/MEC, mostram como a diferente situação econômico e social das famílias ainda é fator discriminante na formação educacional do jovem. Os dados, que se repetem com poucas diferenças, refletem uma realidade em que a desigualdade social produz um cidadão incompleto. Onde há maior pobreza, com raras exceções, há também um baixo desempenho educacional e, onde, ao contrário, a situação socioeconômica é melhor, os índices simplesmente sobem. É gritante a defasagem de desempenho entre famílias que possuem acesso à internet, participação nos meios de comunicação e melhor situação social e as que não possuem. Diante de tal situação, deveríamos ficar envergonhados, pois estamos criando uma geração de órfãos da cidadania. Porém, mais grave ainda é pensar em como tentar recuperar uma criança que nos primeiros anos de vida não teve leite materno, cuidados e alimentação adequados, tendo em vista que o desenvolvimento intelectual pode estar diretamente ligado a uma vida saudável na primeira infância. O mesmo acontece no ensino fundamental. Se o aluno vem de família pobre, e depende da merenda escolar, estamos diante de idêntico problema. Estamos focados para o lado errado e a razão de tudo é uma sociedade cada vez mais egocêntrica, egoísta. E o pior: que se diz democrática, não racista, não discriminadora, quando a realidade mostra totalmente o contrário, como provam os indicadores a OCDE e da UNESCO. A culpa não é de todos, mas de muitos. Do estado, dos ricos, dos altruístas, dos esnobes, dos bem-intencionados. É um compromisso de toda a sociedade. Como adoramos “dourar uma pílula” tentando encontrar desculpas para nossos erros e suas consequências. Erros de um sistema de representatividade inexistente. Erros de uma sociedade dividida, sem dúvida, entre os muito ricos – cerca de 10% que concentram a maioria de nossa riqueza, os ditos remediados que lutam para manter as aparências, para dizer que são de uma classe diferente – e os da classe média mesmo, que conseguiram ter uma casa própria, televisão, forno de micro-ondas, internet e outras facilidades. E temos ainda mais duas classes: a dos que foram empurrados para cima por força dos programas sociais e hoje não conseguem mais ficar no patamar mais alto e sentem-se traídos e a dos pobres e miseráveis, que ainda temos aos montes. Parece que nossa consciência social foi anestesiada há muito tempo por razões diversas e por desculpas que criamos: “ah, eu trabalho demais e os outros não trabalham”; “eles não levantam cedo como eu e não dão duro como eu”; “eles são privilegiados, pois pertencem à classe dos ‘QIs’, dos ‘quem indica’ para ocupar cargos políticos”. Mas, voltando aos dados divulgados do Enem e analisando os resultados de milhares de escolas, há uma constante: os melhores resultados são das particulares, dotadas de todas as ferramentas para um bom aprendizado. As primeiras escolas públicas a aparecerem na lista estão longe e são poucas. Com esses resultados, parece até que faz justiça por meio da política de quotas para a escola pública no acesso às universidades, na certeza de que a mesma jamais terá qualidade. Tudo tem efeito dominó. O aluno entra no ensino fundamental e vai sendo empurrado para frente com todas as deficiências em matemática, língua portuguesa e outras disciplinas e, quando finalmente poucos entra no ensino médio, já traz a carga de atrasos, defasagens, que também vão ter reflexo no ensino superior. Mas, atenção, estamos vendo apenas um lado porque o que está demonstrado é claro:
- Situação socioeconômica como fator lastimável;
- Falta de infraestrutura como fator determinante;
- Falta de equipamentos tecnológicos e internet também;
- Professores desmotivados, pois não têm material didático e nem acesso ao que existe de mais moderno para dinamizar o ensino, sem contar a falta de qualificação.
E aí temos a primeira consequência: evasão e abandono, vindo esses jovens a formar a legião dos “nem, nem” – não mais estudam, por carências, desânimo, desalento, e também não trabalham, porque não foram preparados para qualquer ofício. Fica evidente que o problema do ensino médio, ou de qualquer outro nível de ensino, não está só no currículo. Ele representa parte, mas não é fator determinante, apesar do tema ser controverso e, pior, debatido por profissionais que nunca entraram numa sala de aula. Estamos sim formando uma geração de deserdados e desprovidos das ferramentas básicas para serem cidadãos brasileiros. Essa dívida vai aumentando, dia a dia, e será cobrada pelas novas gerações que dirão que somos cúmplices, pois sabíamos dos problemas e não os resolvemos. Por isso, é uma questão de guerra mesmo resolver as questões fundamentais do sistema educacional onde todos os níveis e graus estão interligados. Separar apenas um para tentar resolver o problema é colocar remendo novo em roupa velha.Em artigo anterior (http://blog.abmes.org.br/?p=11557#comments) fiz um desafio, mas ninguém acertou a resposta. Vamos dar uma segunda chance, com outro desafio. Quem adivinhar, leva um livro sobre criatividade: Um cidadão comprou uma coleção contendo 8 livros completamente iguais e com o mesmo número de páginas. O vendedor disse que um deles saiu com o peso de 1 grama a menos. Em duas pesadas com balança de 2 pratos identifique o livro mais leve. A resposta será dada nos próximos artigos.