"É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado..." (Clarice Zeitel Vianna Silva)Neste dia 15 de novembro, quando comemoramos o Dia da Proclamação da República, vale uma reflexão sobre a nossa república, sobre a nossa democracia, sobre a nossa pátria. A partir do ano de 1889, com o fim da monarquia e a implantação de um novo regime político, o brasileiro passaria a poder escolher o chefe do governo: o presidente da República - embora as eleições diretas de fato só tenham mesmo acontecido 100 anos depois. Foi, de todo modo, um marco importante para o nosso país e para a população, com a promessa de que passaria a ter mais liberdade, mais voz e o direito de participar das decisões mais importantes do país. Em 2000, o Brasil estava entre os 189 países que aprovaram os "Oito objetivos para o desenvolvimento do milênio". O pacto tinha como uma das metas mais importantes a eliminação da extrema pobreza e da fome existente no planeta até o ano de 2015. O tema foi abordado na quarta edição do concurso de redação para universitários brasileiros promovido pela Unesco Brasil e o jornal Folha Dirigida, em 2006. Concorreram 41.329 textos e entre 100 vencedores estava Clarice Zeitel Vianna Silva, então estudante da UFRJ. A publicação pode ser acessada aqui e o texto encontra-se na página 126. O que avançamos ao longo de todos esses anos? Compartilho com vocês esse material tão atual e que, ao mesmo tempo, retrata uma realidade que transpassa séculos.
Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada – e friamente sistematizada – de contradições. Há quem diga que "dos filhos deste solo és mãe gentil.", mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil. A minha mãe não "tapa o sol com a peneira". Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro PACote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão. Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta – tão confortavelmente situadas na pirâmide social – terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso? Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos... Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho? 2