“A robótica educacional é muito bem recebida pelos jovens e aceita por todas as classes sociais. Os cenários em que essa área de pesquisa pode ser aplicada são diversos”.[1]O sucesso da Inteligência Artificial assusta muita gente por aí. Alguns até acreditam que um dia as máquinas vão dominar o mundo e acabar com a humanidade, se ela deixar. Será que estamos caminhando para isso? No campo educacional, muito já se tem avançado com sistemas computacionais. Um professor do Instituto de Tecnologia da Geórgia, Ashok Goel, selecionou uma nova assistente para ajudar em seu curso online de ciências da computação. Informou aos alunos que por ela ser octogenária e com dificuldades locomotoras o curso seria online ou, como dizem os brasileiros, a distância. O papel de Jill Watson seria responder a algumas das 10.000 mensagens que os 300 alunos postavam em fóruns relacionados ao programa. A assistente auxiliava os estudantes de todas as formas, sendo ótimo apoiadora para desenhar programas digitais. Os alunos só estranhavam a voz fanhosa da mestre e apenas mais tarde foram descobrir que Watson na verdade era um robô, uma versão avançada do programa Watson, da IBM, conhecido por derrotar campeões de jogo de perguntas. A professora assistente era a própria tecnologia em programa de computador, especialista em compreender questões complexas, analisar dados e apresentar respostas e soluções. Essa computação cognitiva já é usada atualmente na medicina e na administração para apoiar o trabalho diário dos profissionais. Na China, um androide também auxilia alunos em sala de aula. O robô professora chamado de Xiaomei foi testado na Universidade Jiujiang, na província chinesa de Jiangxi, sob a liderança do cientista Zhang Guangshun. Entrar em uma sala de aula e ser recebido por um robô humanoide também é realidade no Brasil. Esse é o foco de diversas pesquisas no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Entre os trabalhos relacionados ao tema está um projeto de mestrado que utilizou o Robô NAO para ensinar geometria a 62 adolescentes entre 13 e 14 anos de escolas públicas e particulares. Em todo o mundo pesquisadores da área da educação estão buscando novas ferramentas de ensino com a inserção de tecnologia em sala de aula. Hoje em dia, a simples exposição de conteúdo em PowerPoint não atrai mais a atenção dos alunos e a robótica, além de outras funções, pode tornar a aula bem mais atrativa. A proposta não é substituir o professor em sala de aula, mas usar o robô como uma ferramenta de apoio ao ensino. Empregar os principais métodos das áreas de pedagogia e tecnologia, que iniciaram sua fusão recentemente, exige domínio e controle em ambos os campos. É essencial que especialistas de cada área estejam sempre presentes. Para o futuro da robótica educacional vislumbra-se uma grande revolução no ensino. À medida que esses robôs forem se tornando cada vez mais amigáveis e inteligentes, teremos grandes mudanças. Hoje em dia, a maioria dos professores prepara suas aulas utilizando computadores, então, por que não pensar, no futuro, em prepará-las utilizando robôs? Na opinião de Daphne Koller, presidente do Coursera, uma das maiores plataformas de ensino online, para aprender é preciso querer. E, para que o aluno queira saber, é necessário despertar nele um input que o leve a se esforçar e ultrapassar a barreira do comodismo. E isso, em sua opinião, dificilmente um robô será capaz de fazer. Koller afirma: “Os robôs não serão capazes de substituir professores, porque eles não podem nos inspirar”. Essa declaração colide com o trabalho de Jill Whatson da IBM. Mas a presidente da Coursera sinaliza que ao analisar o perfil dos alunos da plataforma, conclui-se que há três tarefas que dificilmente serão substituídas pela inteligência artificial: a criação dos conteúdos, a resposta para perguntas que só os humanos poderão suscitar e, sobretudo, a capacidade de inspiração de um bom professor. Acrescento também o papel de um bom comunicador! O que pouca gente está percebendo é que a educação é o ramo mais expressivo da comunicação que, aliada à tecnologia de dados e informação, são as áreas que mais impulsionam o mundo do conhecimento em que entramos. Em priscas eras, como os indivíduos aprendiam? Inicialmente pelos grunhidos e gestos do instrutor, depois pelas suas palavras e riscos feitos no chão de terra e areia. Depois apoiados pelas escritas nas peças de barro, na pedra e na madeira. Depois veio o papiro, o papel, o livro, a apostila, o quadro negro, o projetor de slides, os áudios e agora a tela do computador. Quem sempre ensinou foi a tela, mas sempre haverá alguém à sua frente ou por trás da dela. O que o comunicador/professor vai precisar entender é que o mundo mudou, a sala de aula está agonizante, o aluno nasce com um smartphone na mão e ele tem toda a informação à sua disposição, além de uma nova ferramenta tecnológica a cada momento. E ainda mais: estamos numa época em que é possível conhecer como as pessoas pensam e reconhecer suas carências comportamentais e culturais. Pela transferência involuntária de todos os dados para o “ bigdata” é possível o sistema conhecer os comportamentos das pessoas, suas preferências, tendo como base as emoções sentidas e registradas mediante estímulos. Por exemplo, enquanto a gente lê um livro no Kindle, algoritmos analisam as sensações diante de alguma frase que emociona e grava esse registro para disponibilizar sugestões de outros livros. Vai casar? E tem dúvidas? Pergunte ao Google. Ele lhe dirá que, conhecendo você e a outra parte, a análise dos dados gravados, recolhidos nas mídias sociais indica uma porcentagem de x% de que se poderá ser feliz ou não. Foi John McCarthy, que cunhou o termo em 1956, numa conferência de especialistas no Darmouth Colege, definindo como "a ciência e a engenharia de produzir máquinas inteligentes e fazer a máquina comportar-se de tal forma que seja chamada inteligente caso fosse este o comportamento de um ser humano". A construção de máquinas inteligentes interessa à humanidade há muito tempo, havendo na história tanto um registro significante de autômatos mecânicos (reais) quanto de personagens míticos (fictícios) construídos pelo homem com inteligência própria. Tais relatos, lendas e ficções demonstram expectativas contrastantes do homem, de fascínio e de medo, em relação à Inteligência Artificial. Hoje arriscaria afirmar que é possível se pensar daqui a 5 a 10 anos em uma universidade desenvolvendo suas atividades com apoio total da Inteligência artificial e, se for esperta, não deixará o reitor ser um robô.
[1] Roseli Romero, professora do ICMC e orientadora do projeto do robô NÃO. “Nós optamos por trabalhar conceitos matemáticos utilizando os robôs, mas é possível programá-lo para ensinar física, geografia ou português”, afirma.