“As grandes mudanças requerem o empenho das massas ou o amadurecimento de muitas décadas e às vezes séculos. Mas na nossa mente terá valor se forem sinceras e, como grãos de sementes de mostarda se espalharem, sem esperar reconhecimento ou consenso, apenas reflexão”. (Do livro "A Era do Imprevisto: A Grande Transição do Século 21", de Sérgio Abranches)Em relação ao meu artigo "Educar para votar conscientemente", publicado na semana passada no Blog da ABMES, propus que, para mudar o perfil da representação política no Congresso Nacional, deveríamos começar pela educação. O objetivo seria mostrar à juventude brasileira a importância de votar bem para construir o grande país que toda a nação almeja e a possibilidade de a ABMES desenvolver o projeto VOTA CERTO BRASIL para viabilizar este propósito. Em resposta à publicação, recebi mensagens proativas de meus amigos Hermes Figueiredo[1]; Raulino Tramontin[2]; Ricardo Zanotta[3] e uma desafiadora de Edson Franco, que reproduzo a seguir e que me obriga a reflexão:
"Hoje, no VOTA CERTO, fiquei perplexo. Como VOTAR CERTO se os candidatos forem os mesmos? Haverá opções? Se todos forem como os que temos, qual será a opção do ELEITOR? Teu artigo, sempre ótimo, precisa ser complementado e não sei como poderá sê-lo."Adicionalmente, circulou nos últimos dias nas redes sociais um desabafo sobre a “República Odebrecht”:
“Hoje é o dia em que você saca que não mora no Brasil, mas habita um País e um Estado oculto chamado Odebrecht. Eu pago impostos para a Odebrecht, eu ando no metrô da Odebrecht, voto nos políticos da Odebrecht, tomo cerveja da Odebrecht. Minha luz é da Odebrecht. Pai e filho compraram presidentes, governadores, senadores, deputados, prefeitos, milicianos!!! Até quando nós vamos aturar isso?”O meu propósito neste artigo vai ser demonstrar a tomada de uma posição. Realmente é um grande desafio sensibilizar a comunidade educacional (estudantes, professores e famílias) de como devemos formar cidadãos completos, íntegros, dentro dos melhores princípios éticos e morais, visando a plenitude da sociabilidade e civilidade, com o objetivo de conscientizar o saber votar. Vale uma campanha socioeducativa em todas as instituições de ensino do país, do fundamental à universidade. Para tal escopo o engajamento precisa e deve ser apoiado por todos os segmentos da sociedade. É uma proposta de imensa profundidade porque nos obriga a pensar o que é saber votar, o que é votar bem, qual a garantia desse voto bem-intencionado e dirigido a este ou àquele. Votamos mal há muito tempo sem ver as consequências que isso traz ao país. É preciso diminuir, para não dizer extinguir, este descompromisso total de votar em oportunistas, malandros e sem caráter que só buscam se locupletar da função oferecendo cobertores de nuvens que se dissipam ao primeiro vento. Mas do que adianta termos eleitores sábios se não temos um sistema político que possibilite o voto sério e inteligente? Um sistema que, para ser organizado, requer mudança constitucional com objetivos mais amplos e com a transformação de toda a estrutura do país? Foi o que me fez refletir sobre o questionamento do Edson. Na realidade é uma provocação imensa para uma associação tocar um projeto como este, mas a execução deve ficar para organismos da comunidade. Sim, dificuldades existem. Mas é bom sabermos que o mesmo está acontecendo também em outros países. É só lermos as manchetes da mídia escrita, TV e internet para sabermos que o mundo todo está alvoraçado. Estamos numa época de transição e ninguém sabe como vai terminar, como explica o sociólogo alemão Ulrich Bechk, pois nos confrontamos com os efeitos e os riscos dessa grande mudança que não podem ser absorvidos, nem resolvidos pelos padrões da sociedade atual. A característica é da incerteza e da imprecisão. Sérgio Abranches escreve em seu livro "A era do imprevisto", que mostra o papel significativo das redes sociais e dos smartphones que “as marcas desses tempos são a velocidade espantosa da mudança e a imprevisibilidade do futuro”. Os tempos não estão fáceis para ninguém. Tempos em que o volume de informações na web se multiplica diariamente e que a mídia dá mais destaque às notícias ruins, que geram mais perplexidade. “Há muito desencanto e desespero”, afirma Abranches. “São tempos líquidos”, cita o sociólogo Zygmunt Bauman. A crise está em todas as partes. O mundo velho está morrendo e o novo ainda não tem condições de se impor. “São tempos de medo, portanto com muita negatividade", aponta. Existe uma propensão natural sobre o que se teme e o que não se sabe como resolver, mostrando dentro de sua visão que as formas de lidar com os desafios da realidade não funcionam mais. As instituições clássicas, nossos sistemas políticos, nossas agremiações partidárias, o modo de organizar a própria vida, as relações com outas pessoas e todas estas formas de sobrevivência no mundo não são mais viáveis. E como diz o politólogo Peter Mair em seu livro "Ruling the Void" (Governando no vácuo), “a era da democracia de partidos passou. Embora permaneçam, eles se tornaram tão desconectados da sociedade mais ampla e buscam uma forma de competição tão sem sentido que não parecem mais capazes de sustentar a democracia presente." Os filmes de horror da "Lava Jacto" que estamos vendo pela TV espelham uma realidade fadada a terminar se tivermos vergonha na cara. E evidentemente vai depender do esforço de cada um e da união de todos. Sem pretender ser sonhador ou utópico e se tiver apoio das instituições educacionais e da sociedade, a ABMES poderia lançar seu VOTA CERTO BRASIL, depois de devidamente planejado e pesquisado como iniciativa válida e com foco nos novos tempos.
[1] Prof. Hermes Figueiredo: Você está certo. Existe só um caminho para restaurarmos o comprometimento de governantes com a coisa pública; restaurar valores, princípios e ética no relacionamento da sociedade com a coisa pública; retomar o bom costume de um respeitar o outro: mudar através do voto consciente para banir a velha oligarquia da política e ao mesmo tempo nos reposicionarmos quanto aos nossos velhos hábitos do jeitinho brasileiro, que não é folclore, é realidade em todos os níveis da sociedade. [2] Prof. Raulino Tramontin: A cultura só se aprende quando se tem cidadania e consciência tanto dos valores naturais, morais e sociais. Quando o egoísmo domina e prevalece o hedonismo, pouco ou nada resta a não ver bater na velha técnica de tentar fazer a cabeça por meio dos meios de comunicação de massa. Vivemos um período turbulento em tudo, inclusive moralmente, pois todos camuflam. Abordaste um tema fundamental. Votar bem pressupõe um sistema que propicie o votar bem. Não temos partidos ideológicos no Brasil, temos agremiações com filiados que nem conhecem a ideologia do partido, o programa do partido e por aí afora. [3] Ricardo Sampaio Zanotta: Eu concordo, mas prefiro ir para a internet e organizar o Movimento da Democracia Digital, o primeiro país no mundo a ser governado pelo povo em rede, e por gestores profissionais, livre de vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governadores ou presidentes da República!!! Chega de PICARETAS para falir o estado e prejudicar a população, vamos todos juntos em rede, por nós mesmos!!!