“Estou convencido de uma coisa: no futuro, o talento, mais do que o capital, representará o fator crítico da produção.” (Klaus Schwab[1])Na medida em que os robôs assumem cada vez mais o trabalho manual, precisamos fomentar o que diferencia o humano da máquina e valorizar o que ela nunca será capaz de fazer: ter ideias, ter curiosidade, criar coisas, escrever histórias, inovar e empreender. O crescimento na primeira revolução industrial foi conduzido pela mecânica; na segunda, pela eletricidade e linhas de produção e, na terceira, pela tecnologia e informação. E a quarta revolução industrial é sustentada pela criatividade. Veja o que criou uma engenheira ao produzir bicicleta que substitui elevador. Ideia simples da ex-aluna do Royal College of Art de Londres que ninguém viu. Assista ao vídeo. Segundo a chinesa Hao Jingfang, de 33 anos, física e escritora de ficção científica, dois dos tópicos mais discutidos atualmente nos meios de comunicação são o fosso crescente entre pobres e ricos (sobretudo na China, um país que, sob Mao Tsé-tung, viveu o desejo da igualdade e da coletivização) e os desafios apresentados pela Inteligência Artificial (IA). Para ela, os países que não se prepararem para esses problemas enfrentarão desafios extremamente difíceis, como o desemprego e as crises sociais. Essa preocupação é partilhada por filósofos, economistas, educadores de todas as partes do mundo, pois os requisitos para empregos na era da IA são bastante diferentes daqueles da era industrial. O trabalho braçal e repetitivo será cada vez mais substituído por robôs e os novos “empregos” que exigirão soluções criativas, ainda não são foco principal dos sistemas educacionais. Para Hao Jingfang, a educação é a chave para resolver o problema da desigualdade que só pode ser estimulada pela criatividade. Segundo ela, há necessidade que um grupo de profissionais lidere a formatação de programas educacionais inovadores (no conteúdo e nos métodos de ensino), que permitam que os alunos aprendam de forma explorativa e criativa, se concentrem na promoção de hábitos de autoaprendizagem e no pensamento independente e que tenham como objetivo mais importante a estratégia criativa para solução de problemas. E o item mais saudável e indispensável desse processo é o compartilhamento. Já disse Warren G. Bennis, psicólogo norte-americanos e um dos profetas de liderança: “Nenhum de nós é tão inteligente quanto todos nós juntos”. Pode ser utopia, mas num sistema de colaboração e cooperação, além da inovação no conteúdo educacional, será possível melhorar os mecanismos de compartilhamento para que todos, independentemente do status social, tenham as mesmas oportunidades. Como orientar as opções de carreira dos jovens? Como prepará-los para esse futuro imponderável? Será que os cursos universitários vão conseguir preparar as novas gerações ou haverá uma ruptura total do secular sistema tradicional de ensino-aprendizado? Como atender a um mercado de trabalho onde os profissionais dormem atualizados e acordam obsoletos? A dica é do headhunter Luiz Carlos Cabrera, professor de gestão de pessoas da FGV-SP, que diz é preciso tomar cuidado para não confundir curso universitário com formação profissional. Cabrera divide as profissões do futuro para atender três vertentes: a tecnologia, a globalização e a demografia. Na área tecnológica, destacam-se o mediador de e-learning, que trabalha na internet, e o facilitador de software, que ficará na fronteira entre o analógico e o digital, para explicar o software ao usuário. "Antes as pessoas trabalhavam para vender o software, agora é para ajudar o usuário", explica o professor. Trata-se de nichos que não contam com uma receita, um caminho estabelecido para ser traçado, já que ninguém está formando essas pessoas, que vêm aprendendo no dia a dia. A universidade não pode ignorar esse desafio. Já a globalização evidenciou a necessidade de melhorar relações comerciais, conhecer geografia, língua e cultura dos compradores. Quanto à demografia, ela se refere principalmente ao envelhecimento da população, que vai gerar uma demanda por serviços especializados. O mercado para esse setor envolve desde profissionais de saúde, como médicos, nutricionistas, psicólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, até aqueles que trabalham em áreas de esporte, turismo e lazer. Acredito que o investimento terá de ser concentrado em conhecimentos fundamentais, como matemática, português, ciências da computação, lógica e modelagem de raciocínio, diretamente relacionada à solução de problemas e todos eles apoiados pelo pensamento criativo. “Muito do que o futuro nos reserva é absolutamente desconhecido hoje. Por isso, o reforço dos aspectos comportamentais – a liderança, a capacidade de construir e manter relacionamentos, a habilidade de perceber e diagnosticar ambientes e de adotar um posicionamento por meio de atitudes adequadas, o hábito de estar antenado ao que sucede no mundo e principalmente a ao treinamento de ideias criativas para ultrapassar desafios problemas é o que fará a diferença, pois mesmo uma evolução traumática no mundo do trabalho, nunca os tornará obsoletos”, resume o professor da FGV Luiz Carlos Cabrera. Concluindo, há única estratégia para não temer a concorrência dos robôs: ser mais humano mais do que eles e fazer o que eles nunca serão capazes de realizar. Ter ideias, ter sentimentos, dar atenção. Ter sensibilidade e percepção ao que está em nosso entorno. Ter paixão pelo que se faz e amor por seu semelhante. Ter compaixão, emocionar-se. E chorar e rezar quando precisar. O robô nunca será capaz de fazer nada disso e nem torcer por um time de futebol.
[1] Fundador do World Economic Forum, organização sem fins lucrativos baseada em Genebra, mais conhecido por suas reuniões anuais em Davos nas quais reúne os principais líderes empresariais e políticos, assim como intelectuais e jornalistas selecionados para discutir as questões mais urgentes enfrentadas mundialmente, incluindo saúde e meio ambiente.