A importância da formação cidadã é tamanha que, a Lei nº 10.861, que instituiu o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior, a destaca especialmente, no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio cultural”.No cenário mundial contemporâneo percebe-se o processar de inúmeras transformações de ordem econômica, política, social e cultural que, por sua vez, se adaptam aos novos modelos de relações entre instituições e mercados, organizações e sociedade. No âmbito das atuais tendências de relacionamento, verifica-se a aproximação dos interesses das organizações e da sociedade resultar em esforços múltiplos para o cumprimento de objetivos de bem-estar comum. As primeiras manifestações de responsabilidade social são do início do século XX, nos Estados Unidos, mas não prosperaram por passarem a imagem de política socialista. Foi somente em 1953 que recebeu atenção e ganhou espaço. Na década de 1970, surgiram estudiosos interessados em analisar o tema. É a partir daí que a responsabilidade social se revela fator decisivo para o desenvolvimento e a imagem das organizações. No Brasil, diversas empresas, há dezenas de anos, exercem esse propósito. São exemplos: a Gerdau, a Cosipa, a Aliperti, o Bradesco, o Itaú, laboratórios farmacêuticos, hospitais e outros. Mesmo assim, o enfoque estava mais ligado à filantropia e não a uma estratégia para, através do trabalho voluntário[1], a empresa ser conhecida e valorizada na comunidade. Quando, há 13 anos, a ABMES desejou aplicar essa estratégia na área educacional, seu propósito era demonstrar à sociedade que também as instituições educacionais exercem uma importante contribuição social nos treinamentos executados pelas faculdades em seus cursos oferecidos pelo Brasil, quer seja na Medicina, na Enfermagem, no Direito, na Administração, na Contabilidade e por aí adiante. E, para se ter ideia, os nossos números da Campanha da Responsabilidade Social são entusiasmantes: em 12 edições, tivemos mais de 70 mil atividades realizadas, sendo 12.785.441 atendimentos à comunidade, contando com a participação de 2,7 milhões de alunos, 217 mil professores e mais de 158 mil técnicos. Nestes dias em que está sendo realizada a Semana da Responsabilidade Social do Ensino Particular, mais de 800 instituições participarão com mais de 7.000 atividades programadas, confirmando que, de fato, a contribuição das IES tem sido exuberante. A Semana é apenas uma pequena amostra do que acontece ao longo de todo o ano no treinamento e nas atividades complementares feitas pelos estudantes, oferecendo aprendizado a eles e oportunidade às pessoas do entorno de cada escola. E aí se aprimora a cidadania, o civismo e a cultura local. O mais relevante de tudo isso é a participação das IES de pequeno porte, que cumprem um papel sócio educacional mais abrangente. Normalmente situadas em cidades menos populosas e distantes de grandes centros, elas oferecem oportunidade de inclusão dos egressos do ensino médio no ensino superior, promovendo a ascensão dos mesmos na pirâmide da capacitação profissional. Além desse importantíssimo fator, outros se somam à essa relevância, pois tornam-se centros de grandes ações sociais dentro desses municípios e nos circunvizinhos. Promovem nos graduandos o despertar para a intervenção na sua região com ações solidárias e trabalhos sociais com atitudes simples, como arrecadação e distribuição de alimentos para a população de baixa renda. O mesmo ocorre na época de inverno em relação à coleta de agasalhos e cobertores. Também em campanhas de doação de sangue para os bancos de sangue da cidade. Iniciativas de lazer com atividades esportivas e acompanhamento escolar para que as crianças menos favorecidas não fiquem pelas ruas sem assistência. Os graduandos também doam parte de seu tempo a pacientes em leitos de hospitais, como é o exemplo do Doutores da Alegria. Passam parte de seus fins de semana em casas comunitárias de idosos, mais para ouvir do que para contar histórias, e auxiliam na montagem e no acompanhamento das atividades sócio-esportivas-culturais da cidade. São celeiros de construção da real cidadania participativa, vetores de mudanças no como olhar a vida e como se conduzir naturalmente mais colaborativo e eficiente em futuros ambientes profissionais. Mas o mais importante de tudo isto é que esta doação é um precioso aprendizado para a vida, porque lidando com pessoas precisam planejar ações, viabiliza-las e divulga-las. Mais ainda, precisam exercitar a liderança para conseguir colaboração e cooperação. Precisarão ter pensamento crítico e utilizar lógica e a razão para a solução de problemas. E, mais do que nunca, colocar a criatividade para buscar soluções para seus desafios, a mais privilegiada das competências sócios emocionais[2]. Acredito que a ABMES deverá fazer uma reflexão sobre este projeto, talvez criando ações nacionais que estejam ligadas a grandes causas educacionais, visando as famílias de baixa renda. É hora de todas as IES nacionais constituírem um grupo de adeptos da temática para organizarem uma força tarefa que, por meio de um trabalho colaborativo, encontre um propósito para mostrar melhor o papel que o ensino particular desempenha. O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, estará em São Paulo/SP no próximo 5 de outubro como principal palestrante do Fórum Cidadão Global, patrocinado pelo Valor Econômico e pelo Banco Santander. Seu tema: Mudar o Mundo? Sim, você pode. Que tal aproveitar a ideia e, sem fugir dos objetivos Campanha, fazer de forma compartilhada com todos associados da ABMES um Programa de Como Consertar o Brasil. Juntos Podemos. É apenas sugestão... [1] Trabalho voluntário pode ser estratégico – Valor Econômico, B2, 14/9. [2] Na reportagem “Uma nova educação”, publicada em 14 de março de 2014 na revista IstoÉ, o infográfico abaixo faz um elenco das competências que, juntas, promovem a diferença na determinação do êxito escolar e profissional, pois no mercado de trabalho as características socioemocionais são recompensadas na forma de maiores salários e menor período de desemprego.