Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais... (Rubem Alves)O aprendizado desde trinta mil anos atrás, quando o homem precisou transmitir suas vivências para os mais jovens, sempre foi intermediado por uma tela. Escrita na areia da praia, na terra, na argila, na pedra ou na árvore. Até que entre os séculos XVII e XVIII os educadores lassalistas criaram o maior invento tecnológico escolar que persiste até hoje: o quadro negro. Era, ou ainda é, a maneira do professor ir além de sua fala, registrar o que é importante para os alunos copiarem. O ato de ensinar sempre foi baseado na lousa, no livro, na apostila, mais tarde nos slides e power point. Hoje a sala de aula mudou. A lousa é a tela de um computador, de um tablet, de um smartphone ou de um assistente virtual. Por outro lado, todos dizem que a sala como a conhecíamos está em contínuo e acelerado processo de extinção. A escola como o único "ambiente do saber" já não existe mais. "A escola não vai ser sinônimo de prédio escolar, ela vai dar lugar a uma rede de colaboração, de construção coletiva de um projeto educativo", profetiza o professor português António Nóvoa. Qualquer um de nós certamente registrará a importância que tiveram muito de seus mestres no correr de suas vidas. É o que confirma as experiências feitas nos EUA por Brandon Busteed, diretor-executivo do departamento de educação da Gallup. Pesquisa com mais de milhão de alunos mostrou que os empregadores não dão muito importância a origem da faculdade ser particular ou pública. Também que estudantes bem sucedidos sempre destacaram seus professores ou tutores como modelos para as suas realizações. E os mais comprometidos com o trabalho sempre tiveram professores ou mentores que se importaram com eles como pessoas e os encorajaram quanto a realizarem suas metas e seus sonhos. Os professores atualmente têm que lidar não só com alguns saberes e com a tecnologia, mas também com uma complexidade social crescente: todos vão para a escola, de todos os grupos sociais, dos mais pobres aos mais ricos, de todas as raças e todas as etnias. “A própria sociedade tem, por vezes, dificuldade em saber o que ela para que ela quer a escola”, afirma Nóvoa. Há um excesso de missões dos professores, pede-se demais aos professores, pede-se demais às escolas. Afinal, como imaginar escolas extraordinárias, espetaculares, criativas, onde tudo funciona bem numa sociedade onde nada funciona? Os recentes avanços tecnológicos mudaram muitas áreas de nossas vidas: a maneira como nos comunicamos, colaboramos, aprendemos e, claro, como ensinamos, exigindo também uma expansão na atuação do professor. Nunca antes o aprendizado aconteceu do jeito que é hoje, ou seja, em todos os lugares, o tempo todo, sobre qualquer tema, técnica ou conteúdo, apoiando qualquer estilo ou preferência de aprendizagem. Mas o que realmente significa ser um professor do século 21? Assim como nas redes sociais existem os influenciadores digitais, o professor passou a ser um influenciador de aprendizagens, no sentido de promover estratégias de engajamento e atração aos temas e componentes curriculares numa dimensão que é muito mais participativa, ativa e criativa. Habilidades como as de comunicação, liderança, colaboração e interatividade são fundamentais. E, por mais que isso pareça óbvio, a realidade mostra que encontrar o perfil desses professores ainda é um grande desafio. Não pela falta de vontade de professor, mas pela formação que não o prepara para agir e pensar além dos componentes curriculares, das avaliações e das dimensões que envolvem a sua atuação em sala de aula. Embora muito se fale que os alunos sejam vistos como nativos digitais, muitos estão longe de produzir qualquer conteúdo digital. Que dominem dispositivos tecnológicos com capacidades para produzir blogs, games, vídeos, apenas para citar alguns, em muitas aulas eles ainda são solicitados a trabalhar com o velho e bom caderno de cópias. Sabemos que a tecnologia é somente uma ferramenta, mas como toda a ferramenta é preciso habilidade e atitude para usá-la. Por isso, mudar o propósito do professor deve ser a prioridade número UM que vem bem antes das tecnologias e outras tendências emergentes. A tecnologia permite a colaboração entre professores e alunos. E essa colaboração deve ir além de compartilhar documentos ou criar apresentações. Muitas ideias com potencial para transformar as escolas e comunidades nunca vão além de uma conversa de uma sala de aula ou da cópia em papel, o que é uma grande perda! A colaboração pode mudar toda a experiência educacional que conhecemos hoje no Brasil e colocá-la em um outro patamar. Por isso, o papel do professor como mediador é tão importante. Neste outubro do professor, convido você a expandir sua caixa de ferramentas de ensino e tentar novas formas de realizar seu trabalho, ainda que não tenha tentado antes Não por causa das ferramentas, mas por causa dos estudantes. À medida que novas demandas sociais, contextos e tecnologias continuam a surgir, aprender e adaptar-se é fundamental e essencial para o processo educacional. Aliás o mantra do futuro exige aprendizado contínuo não só para o professor, mas para todos os profissionais que desejam se realizar. Por todas essas competências é que acredito que o professor não é espécie em extinção. O que era via oralidade hoje é por múltiplos meios de comunicação e tecnologia. O leque de atuação profissional desdobou-se em conteudistas, produtores de interfaces gráficas e realidade virtual. Há carência de profissionais da ciência cognitiva e na era do conhecimento todos precisam atualizar-se. Nesse mundo novo onde robôs e inteligência artificial estarão por toda a parte, só a genialidade do professor poderá supera-los, porque para ensinar é preciso ter entusiasmo, percepção, criatividade, sensibilidade e relações humanas. Parabéns a todos os mestres que estão colaborando para a construção de um mundo melhor. Nessa oportunidade, mencionamos a heroína Profa. Heley Silva Batista, que morreu no incêndio da Escola Municipal Gente Inocente, em Janaúba/MG, tentando salvar “suas crianças”.