“A saída para os problemas da democracia é mais democracia. Educação com igualdade de oportunidades e a boa distribuição de renda são o corolário de um programa de ação e método para exitoso comportamento. A democracia exige trabalho, esforço e desenvolvimento de cada um de nós”. (Barack Obama, presidente dos EUA)O presidente Barack Obama, personalidade principal do evento Cidadão Global, promovido pelo jornal Valor Econômico, Banco Santander e AAdvantage Cartão, registrou sua marca como expositor admirado e persuasivo. A plateia ouviu-o atenta e silenciosamente e, ao fim, entre perguntas selecionadas, o Diretor do jornal O Globo, Frederic Kachar, o indagou sobre qual conselho daria a um país imerso numa crise política e econômica sem precedentes como este que o recepciona. Astuto, com clareza e raciocínios invejáveis e sem fazer referência à nossa realidade, voltando-se à plateia de empresários, banqueiros, profissionais liberais e artistas, disse: “em muitos países, as pessoas dizem que odeiam os políticos e o governo, mas os políticos e o governo são reflexos de nós mesmos. Se uma sociedade é saudável, a política também será. Se uma sociedade está doente, a política também será.” Foi aplaudido. Vivemos um momento de mudanças extraordinárias, mas também de incertezas. Pessoas em todo o mundo clamam por lideranças que lhes resolverem os problemas existenciais. Estão numa crescente esperança de que todos se levantem e se juntem para construir o futuro que desejam para a sociedade. É esta a mensagem que o presidente quer passar para a necessidade de fortalecimento da cidadania. O propósito é iniciar um diálogo sobre a responsabilidade de cada um na construção de um futuro melhor. O presidente Obama tem sido um líder global no avanço do envolvimento cívico e vem incentivando e inspirando os cidadãos a se envolverem em sua comunidade. Recentemente declarou:
“Precisamos que vocês se mantenham conectados, trabalhem juntos, aprendam uns com os outros, para que possamos construir uma próxima geração de líderes que sejam capazes de enfrentar problemas como o aquecimento global, a pobreza, ajudar no crescimento econômico e garantir que as mulheres tenham oportunidade iguais aos homens. E também propiciar a toda criança, onde quer que ela viva, tenha a chance de almejar ter uma vida melhor.”É preciso envolver os jovens na política e garantir a inclusão social para evitar a xenofobia e radicalismos. E a educação é a arma contra a intolerância, além do forte engajamento dos cidadãos, sobretudo dos jovens, para reconstruir e renovar arranjos políticos e sociais, de modo que as mudanças funcionem para todos. Logo no início de sua fala, Obama deixou a plateia um tanto desconcertada ao afirmar que, de certa maneira, vivemos o melhor dos momentos e o pior dos momentos. O mundo está mais próspero do que nunca, devido a globalização, mas isso veio com uma ruptura industrial e estagnação de salários em muitas economias avançadas, o que deixou muitos trabalhadores e muitas comunidades com medo das perspectivas para eles e para seus filhos, pensando que terão poucas oportunidades e não melhores no futuro. Apesar dos desafios, o presidente mostrou uma visão otimista do futuro. Não obstante todos os problemas que enfrentamos, o mundo é mais seguro, mais bem instruído, mais tolerante do em que qualquer outro momento na história da humanidade. Dono de uma convicção incomum, Obama, referindo-se à educação, disse que, se chamado a aconselhar qualquer nação, o primeiro trabalho que indicaria seria o de garantir que seja estabelecido um sistema educacional que atinja a todos, que busque alcançar toda criança e que seja adaptado às realidades de uma economia em rápida evolução tecnológica. Disse que os investimentos em educação deveriam privilegiar a primeira infância, quando o cérebro funciona como uma esponja. Enfatizou o fato de o mundo estar muito mais conectado e, assim, da mesma maneira que a internet tem a oportunidade de espalhar conhecimento e oportunidades, dá poder àqueles que disseminam ódio, sendo a internet também um instrumento que tem contribuído para dividir as pessoas. Não sem razão, nesta era de informação instantânea, onde tudo nos dá uma ladainha sem interrupção de más notícias, é natural que as pessoas procurem algum sentido de certeza e de controle nas suas vidas. Vemos grandes choques entre culturas, as pessoas preocupadas com os valores tradicionais, suas ideias e raízes sendo esfaceladas. Portanto, é inevitável que nossas políticas e arranjos sociais também tenham essa ruptura, da mesma maneira que ocorrem essas rupturas tecnológicas. Obama falou também de suas filhas, que perdem muito temo na internet. Sinalizou o quanto seria melhor se estes encontros pudessem ser presenciais e que as questões pudessem ser resolvidas pelo intercâmbio de ideias. Provocou a reflexão sobre a internet, os serviços sob demanda, o carro sem motorista, as entregas por drones, se tudo isso vai ajudar a economia para todos e não só para os poucos que estão no topo. Conforme Obama, “Estamos mais conectados do que nunca, mas isso faz com que, em alguns casos, seja mais fácil recuarmos a nossas próprias tribos, nossas próprias comunidades, onde só escutamos pessoas que pensam da mesma maneira como nós. E nunca desafiamos as nossas próprias presunções, porque tudo o que lemos, tudo o que vemos é simplesmente o que um algoritmo nos disse que deveríamos ver.” A principal mensagem que fica, é que o mundo se transforma em velocidade exponencial. Está praticamente todo conectado, porém não podemos esperar que outros resolvam os problemas por nós. Só nós mesmos, pela discussão e intercâmbios de ideias, poderemos almejar um futuro feliz. Mas o principal, salientou Obama, é que a melhor maneira de curar a democracia é aumentar a participação política e renovar o poder que se ressente, quando é ocupado pelas mesmas pessoas por muito tempo, sem paixão pelo que se faz e sem ideias novas. Para termos um mundo melhor, temos que ter atitudes melhores. Para termos uma política saudável, temos que ter uma sociedade saudável. Afinal, como diz Obama em seu mantra preferido: “a política é um reflexo da sociedade”.