As ações sociais oferecidas pelas instituições de ensino superior à comunidade são de extrema relevância não apenas por cumprirem dispositivos legais, mas por desencadearem um processo que reforçará a sua responsabilidade social, contribuindo para a melhor percepção da sua qualidade na formação das pessoas. Enedina Leite Lucena; Izabel Cristina Pereira e Maria José (Universidade Federal do Tocantins)Em um dos meus artigos do ano passado contei a história do catador de lixo Sebastião Pereira Duque, de 72 anos, pelo exemplo extraordinário de sua solidariedade ao construir uma escola para 75 crianças contando com recursos advindos da carroça que puxa pelas ruas de Olinda/PE. Certamente, há centenas de exemplos de ações individuais parecidas, e empresariais de maior vulto, que mostram ações de responsabilidade social pelo Brasil. No cenário mundial contemporâneo há inúmeras transformações de ordem econômica, política, social, tecnológica e cultural que se adaptam aos novos modelos de relações entre instituições e mercados, organizações e sociedade, procurando solucionar questões sociais de forma compartilhada. Há milhares de instituições sem fins lucrativos que prestam serviços a iniciativas de caráter social, tanto de grupos particulares quanto de empresas. Estudo lançado pelo Instituto Akatu mostra que o consumidor brasileiro tem mais interesse e maior conhecimento sobre responsabilidade social empresarial e está mais crítico e exigente sobre as práticas das empresas nessas áreas. Os primeiros estudos que tratam da responsabilidade social tiveram início nos Estados Unidos, na década de 1950, e na Europa nos anos 60. As primeiras manifestações sobre este tema, contudo, surgiram no início do século passado (1906). No entanto, tais manifestações não receberam apoio, pois foram consideradas de cunho socialista. Foi somente em 1953, nos Estados Unidos, que o tema recebeu atenção e ganhou espaço. Na década de 1970 surgiram associações de profissionais interessados em estudar o tema: é a partir daí que a responsabilidade social deixa de ser uma simples curiosidade e se transforma em um novo campo de estudo. A responsabilidade social revela-se, então, um fator decisivo para o desenvolvimento, imagem e crescimento das empresas. No Brasil, diversas empresas e indústrias exercem esse propósito, pode-se dizer, há dezenas de anos: a Gerdau, a Cosipa, a Aliperti, o Bradesco, o Itaú e tantas outras. Quando tivemos a ideia de propor à ABMES que criasse a Campanha da Responsabilidade Social foi com a intenção de demonstrar à sociedade que também as instituições educacionais estavam engajadas neste propósito e contribuíam, haja vista as centenas ou milhares de atividades dedicadas às comunidades, apoiadas nos inúmeros cursos oferecidos, como Medicina, Enfermagem, Direito, Administração, Engenharia, Contabilidade, Pedagogia e por aí vai. As várias edições do evento confirmam que, de fato, as IES (Instituições de Educação Superior) vêm contribuído de forma marcante com suas práticas, propiciando atendimentos nas diversas áreas e com maior envolvimento da comunidade local. Mas, pensamos que este esforço, por ser realizado em cada cidade, não repercute nacionalmente. Por isso, acho que já é hora de a ABMES e das IES constituírem uma força tarefa para estruturarem um grande projeto nacional, sem ficarem atreladas somente ao viés dos cursos que oferecem. Para isso, não é necessário um grande esforço: se todas as IES, de norte a sul do país, criassem uma ou duas turmas voltadas para o ENCCEJA (Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos), atribuindo aos licenciandos a tarefa de prepará-los para a alfabetização, só com isso teremos conquistado uma enormidade de sucesso, sem falar que a proposta fortaleceria a prática de ensino. Os custos para isso são insignificantes. Além disso, por exemplo, as IES que possuem curso de Odontologia poderiam estender a assistência para os familiares (pais, mães, filhos) e, com isso, evitar a crônica sucessão de desdentados. Por igual, na Enfermagem poderia ser disponibilizado um posto de atendimento contínuo para vacinas e, na Engenharia, um escritório de projetos construtivos. Para os estudantes de Direito as propostas de extensão podem ir no sentido de incentivar os jovens às práticas do Direito e da Justiça, fortalecendo a juventude para criar e aumentar os vínculos da civilidade. Também na área de Educação Física há múltiplas propostas possíveis, de extraordinária aplicação. Enfim, já está na hora de as IES pensarem e colocarem em ação planos, campanhas e iniciativas perenes de alcance nacional que possam contar, inclusive, com contribuições de empresas ou pessoas físicas. A simples criação de uma empresa júnior na IES já abre grandes perspectivas de atendimentos sociais. E mais: transfere ao estudante uma chance/oportunidade de ingressar no mercado de trabalho sem depender do mesmo, às vezes avesso a oportunizar um estágio. Por certo, a CPA (Comissão Própria de Avaliação) de cada escola baterá muitas palmas, assim como o grupo responsável pelas atividades complementares. Ambos sairiam irmanados rumo à efetiva responsabilidade social. As ações sociais oferecidas pelas IES à comunidade são de extrema relevância não apenas por cumprirem dispositivos legais do Sinaes (1), mas também para mostrarem a preocupação com a sua responsabilidade social e, acima de tudo, para aferir a qualidade da instituição na formação das pessoas.
(1) Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes)