“É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade.” (Emmanuel Kant 1724-1804)Em 1980, o PIB brasileiro era maior do que a soma dos PIBs da China, da Coreia do Sul, da Malásia, de Cingapura e do Vietnã e hoje só o da China é quase sete vezes maior do que o do Brasil. Não é por acaso. Estes países investiram em educação e conseguiram transformar e aperfeiçoar sua pujança econômica. No Brasil, desde o célebre “Manifesto dos pioneiros pela Educação Nova”, de 1932, que defendia a educação como uma função essencialmente pública e sem privilégios econômicos de uma minoria, estamos ainda muitos distantes de fazer pela educação uma ação estratégica para o desenvolvimento econômico e social nacional. A epígrafe deste artigo é do século 18, mas sua atualidade é incontestável. E, por enfatizar as transformações educacionais em curso, trazemos à reflexão o especial da Folha de S.Paulo, publicado como encarte na edição de 29 de abril. Trata-se da plataforma “Educar para o novo”, apresentada pelo SAS Plataforma de Educação[1], que aborda os desafios emergentes atuais: a Base Nacional Comum Curricular; as Competências Socioemocionais; o Corpo docente inovador e a Tecnologia como referencial de apoio. O tema inicial é a Base Nacional Comum Curricular – BNCC – que pretende alterar o rumo da educação no Brasil, promovendo significativas transformações na comunidade escolar. Legislação aprovada no final de 2017, define um conjunto de diretrizes essenciais e indispensáveis à educação infantil e a fundamental. Elas deverão orientar os currículos de todas as escolas do país até 2020, com o objetivo de promover equidade no ensino e diminuir desigualdades educacionais. As diretrizes referentes ao ensino médio ainda estão em discussão. Educadores experientes alertam que gestores e professores precisam desde já estudar o documento e iniciar o processo de adaptação em suas escolas. A BNCC propõe uma nova visão sobre o protagonismo dos alunos e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais essenciais para o enfrentamento das questões do século 21. Será preciso rever currículos e metodologias, adequar materiais didáticos e investir na formação de educadores e na tecnologia – alguns dos desafios a serem superados para que a base transforme, de fato, a educação do país. Entretanto, para o saber chegar ao aluno, o desafio será o novo professor. A importância da formação nas licenciaturas e pedagogia, licenciados/profissionais que exercerão a liderança na oferta do conhecimento, sobretudo voltado para a formação de recursos humanos para a nação. Da mesma forma que ocorreu nos países líderes em educação (Canadá, França e Finlândia), com currículos e conteúdos revistos, levando o aprendiz rapidamente ao exercício profissional. O professor deverá se reinventar e pensar de forma diferente. O ensino enciclopédico, à base de muito conteúdo para ser decorado tende a acabar, uma vez que muito pouco acrescenta ao desenvolvimento e à inserção do educando no século 21. Essa mudança pede a adoção de novas ferramentas pedagógicas. Nem todos os docentes do país, porém, estão preparados para o desafio. Por isso, a escola será fundamental para auxiliá-los. De acordo com o projeto, “o sucesso da base depende da formação adequada dos docentes”. Os professores não têm sido preparados adequadamente para a realidade da sala de aula. Essa é uma grande preocupação dos especialistas e também do governo federal, que lançou, em 2017, a Política Nacional de Formação de Professores, com o objetivo de melhorar a formação dos educadores e para a criação de uma Base Nacional Docente, com conteúdos curriculares comuns aos cursos de licenciatura. Assim, aplicando-se a nova BNCC como fundamento para educação complementar no Ensino Médio e, para frente, o que se espera é que em todos os quadrantes nacionais seja ela promissora muito além do que já vimos, desde a colônia, objetivando um salto com a complementação das competências socioemocionais, com o uso de tecnologias que efetivamente potencializem o ensino. Evidentemente, neste novo momento educacional, a tecnologia digital é a grande aliada do professor, porque vai ser a ferramenta apoiadora no diagnóstico do perfil do aluno, nas atividades online, nos recursos multimídias e no portal de conteúdos. Essas ferramentas ajudam aluno, professor e gestor a tornarem a escola um espaço dinâmico e alinhado ao presente e ao futuro com conhecimento, curiosidade intelectual, senso estético, comunicação e compartilhamento, cultura digital, autogestão e projeto de vida, argumentação, conhecimento e cuidado de si, diálogo e cooperação, além de autonomia e responsabilidade. Conseguiremos trabalhar todo esse cenário? A proposta é a de uma transformação na atuação do educador: sai de cena o detentor único do conhecimento (que hoje permeia toda a sociedade nas mais diferentes estruturas e nos mais diferentes aparatos tecnológicos) e entra o mediador, o tutor, devidamente formado, preparado para isso. O professor vai precisar reinventar-se e, na perspectiva da educação continuada – exigência da sociedade pós-capitalista –, atualizar-se constantemente. No ensino particular e no público dos grandes centros urbanos não vai ser fácil, mas com o interesse das comunidades este grande desafio poderá se tornar viável. Porém, nas escolas das pequenas cidades, se não houver apoio das famílias locais e das comunidades próximas, vai ser mais uma expectativa frustrada e uma meta inconclusa. Tudo será possível só quando a educação for alavanca de desenvolvimento sustentável e objetivo de estado.
[1] Fundado em 2004, o SAS é uma plataforma de educação que desenvolve conteúdo, tecnologia e serviços de excelência para mais de 700 escolas e 230 mil alunos em todo o país. Da educação infantil ao ensino médio, o SAS oferece às suas escolas parceiras soluções educacionais. Disponível em: http://novo.portalsas.com.br.