Todo o aprendizado envolve riscos e também fracassos. Isso deve fazer parte do modelo mental de cada profissional. Geoge Hallembeck – Diretor do Center for Creative LeadershipNa semana passada, a mídia em manchetes gritantes divulgou que 4,8 milhões de brasileiros, aptos ao trabalho e desiludidos, desistiram de procurar emprego. É uma notícia bombástica que atinge a todos nós, solteiros ou pais de família. A razão está na crise econômica, sem dúvida, mas também na exigência dos novos empregos que requerem maior nível de competências, criatividade e iniciativa. Temas que na edição de quinta-feira, 16, o jornal Valor Econômico exorbitou em qualidade de conteúdos, com as matérias de Hugo Passarelli; Eduardo Carvalho, Stela Campos, e por fim, em Rumo Certo, de Betânia Tanure. Aos que trabalham com educação, são leituras básicas que muito acrescentam e nos conduzem a reflexões, torcendo para que também as assessorias dos presidenciáveis, e porque não os próprios, se interessem em incorporar em suas plataformas de governo algumas inovações que estão sendo discutidas nos setores educacionais. Sobretudo se é que já estão cientes da existência dos seríssimos problemas a enfrentar. Em relação à primeira matéria, “Escolas precisam mudar abordagem e formar alunos pensantes, diz especialista”, do experiente Hugo Passarelli, destacamos a questão de formar alunos criativos. “Pensar de forma diferente é a saída para conseguir resultados melhores, seja na sala de aula, seja nos ambientes corporativos.” É o que afirma o especialista Michael Patton, considerado o pai da “avaliação focada no uso”. Patton participou em São Paulo do 14º Seminário Internacional de Avaliação, realizado pelo Itaú Social, Fundação Roberto Marinho (FRM), Instituto C&A e o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife). O palestrante deixou recomendações preciosas na sua exposição, como a de que é difícil sair de um espiral de resultados ruins sem mudar a abordagem e trazer alunos e pais para a discussão. Porque não se trata de propor avaliações melhores, mas avaliações diferentes. Não adianta fazer algo melhor que não é exatamente útil e não vai trazer melhores resultados. Aliás, o assunto interessa ao INEP. Para Hugo Barreto, secretário-geral da FRM, mudar as avaliações é uma exigência dos tempos atuais, porque em um mundo mais acelerado e mais competitivo é preciso verificar, de fato, a eficácia das ações. E ele finaliza com outra expressão forte: “Nesses tempos em que vivemos, é preciso muito mais do que um desejo de mudar, é preciso ter a capacidade de mudar”. Sobre o outro assunto, “A excelência educacional deve ser prioridade”, Eduardo Carvalho, com seu artigo, jogou uma bomba nos gabinetes do MEC ao afirmar que a base curricular da educação, há pouco aprovada, já nascerá desatualizada. Para Carvalho, ainda não somos o “lanterninha”, mas breve chegaremos a essa “conquista” com os resultados pífios tanto do Ideb como do Pisa, indicadores nacionais e mundiais que confirmam a precariedade da educação brasileira e seu consequente prejuízo à produtividade e à competitividade do país. No Ideb de 2015, alcançamos a média de 3,7 pontos, índice praticamente estagnado desde 2005 quando o indicador foi 3,4, numa escala de 0-10. Também em 2015 ficamos na 59ª posição entre 66 países participantes do Pisa. Não sem razão, Carvalho chega quase a colocar um epitáfio sobre o assunto educação brasileira quando dispara que todo ano a World Economic Forum (WEF) elabora um relatório de competitividade e na última, entre 137 países pesquisados, a qualidade da nossa educação primária ficou na 127ª posição enquanto o ensino superior amargou a 125ª. E a má notícia ainda não acabou: as universidades acompanham o baixo nível no cenário educacional, pois uma pesquisa da Times Higher Education (2018) aponta que nenhuma das brasileiras foi classificada entre as 200 melhores do mundo. Adicione-se que aqui tais indicadores estão estagnados desde 2007. O ensino superior é um capítulo a parte a se discutir. Ele deve estar inserido também no Ministério de Ciências e Tecnologia porque deve ser tratado de forma diferente dos ensinos básico e técnico. Uma grande prioridade é injetar qualidade ao sistema e importantemente atrair as melhores universidades do mundo e criar “cidades universitárias de excelência”. Outra prioridade, o ensino técnico deve ser reinventado, urgente, pois a que custo mantemos os modelos “S” e das escolas técnicas federais e estaduais? Ultimamente temos ouvido insistentemente que é preciso aprender a aprender e outras expressões derivadas como quem quisesse explicar, justificar uma nova visão didático-pedagógica e nisso entram psicólogos e outros profissionais querendo dar solução no percurso das cognições. A matéria de Stela Campos – “É preciso reconhecer quem é ágil ao aprender” –desafia os “lerdinhos” a saírem na frente porque há enorme falha na hora de reconhecer quem é realmente ágil no aprendizado. E não estamos falando dos superdotados. Ignorar os “apressadinhos” é perder a chance de obter melhores resultados quando são expostos a situações de pressão por inovação e transformações. E a avaliação do quadro é simples: nem todo mundo está disposto a aprender, é uma escolha fática. Isso, conforme o consultor e psicólogo George Hallenbeck, diretor do Center for Creative Leadership durante a palestra que fez no Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas. Para ele há uma diferença entre os chamados “high potencials”, que são aprendizes fortemente direcionados à sua área de atuação e que são interessados em adquirir expertise mais técnica, e os “high professionals”, aprendizes mais ágeis e dispostos a obter conhecimento vindo de todos os lugares. Hellenbeck acredita que a melhor medida para fomentar o aprendizado ágil é direcionar o estudante para situações que exijam o desenvolvimento de determinadas habilidades que serão necessárias para enfrentar um determinado momento. Tarefa da escola, do docente, enfim. Em seu provocativo artigo “O que te mobiliza, o interesse, o medo ou um ideal?”, Betania Tanure, doutora, professora e consultora, abre cortinas que dão bem o tom no comportamento das pessoas nesses predicados. Conforme Betânia, o interesse, e em alguns casos o medo, se organiza rápido, com estratégia, com precisão, com tempo investido. Afinal, o alvo é claro, o benefício é percebido de modo mais fácil e rápido mas paga-se um preço alto, comumente no curto prazo, se a “operação não for realizada”. Neste ponto, bem a propósito das eleições que se avizinham, vale destacar que os interesses que favorecem indivíduos, em detrimento da maioria ou da sociedade, tendem a agregar mais facilmente as pessoas do que aspirações de caráter coletivo ou social, ou seja, ideais. Tais razões merecem profundas reflexões porque vale lembrar sempre que, não raramente, as pessoas se lançam de forma harmoniosa para conquistar seus anseios e, muitas vezes, o interesse e o medo podem ser mais rápidos e ousados do que o ideal. As abordagens desses autores precisam ser analisadas neste momento em que todos esperam um maior protagonismo do setor educacional como âncora nas discussões para o desenvolvimento do Brasil. E foi dentro deste objetivo que o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular está apresentando um conjunto de propostas para servir de subsídios para a elaboração dos planos de governo do setor educacional. Trata-se do documento “Eleições 2018 – 10 proposta relevantes para a educação superior brasileira”. Nesse mesmo sentido, e para debater estes temas tão relevantes, a ABMES realizará um evento no próximo dia 11 de setembro em sua sede com a presença de representantes dos principais candidatos à Presidência da República. Se colocarmos em pauta neste momento o que é necessário para o crescimento do país no que concerne à educação superior, pouco resolverá passarmos mais quatro anos lamuriando porque o governo não dá a atenção necessária à questão. A hora da mudança que queremos é agora!