“A modernização do sistema de ensino brasileiro é o grande objetivo de iniciativas em curso pensadas em conjunto por educadores, alunos e gestores. Não faltam experiências bem-sucedidas pulverizadas pelo país, mas é preciso reconhecê-las e multiplicá-las.” (Conclusão do debate realizado pela Folha de S.Paulo seminários folha – Adeus, velha escola)Na semana passada, dia 19, o Estadão publicou um especial sobre as Eleições 2018 e levantou a seguinte questão: “Nos últimos anos, o Brasil aumentou três vezes o valor investido por aluno no ensino básico e deu importância a políticas como avaliações, base curricular e financiamento de estudantes em faculdades. No entanto, pouco olhou para a sala de aula. E os resultados da aprendizagem das crianças mostram que se caminha a passos lentos para chegar perto dos países que mudaram o rumo da sua educação. Ao olhar para as melhores experiências no mundo, especialistas garantem que só haverá evolução se o próximo governo investir fortemente no professor.” (Eleições 2018: Investimento em professor é desafio para a Educação) Há 40 anos, os sul-coreanos eram mais pobres do que os brasileiros. O PIB per capita era inferior ao do Brasil. Hoje, não há comparação possível e os números da Coreia do Sul são três vezes maiores: em torno de US$ 27.200 contra US$ 8.600 do Brasil, segundo o Banco Mundial. O salto pode ser em grande parte explicado por uma revolução educacional iniciada décadas antes. E a principal razão é clara: diferentemente do modelo brasileiro, a prioridade no país asiático são investimentos em educação básica. Na Coreia do Sul, por exemplo, os valores gastos com o ensino básico são quase três vezes maiores do que no Brasil: US$ 9,3 mil por aluno ao ano no país asiático contra US$ 3.822 no Brasil, de acordo com dados de 2013 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Outros dados da OCDE mostram que, mesmo desconsideradas as diferenças econômicas entre os dois países, a distância é significativa: na Coreia do Sul, para cada dólar investido no ensino básico, 1,50 é aplicado no ensino superior, naturalmente mais caro. Já no Brasil, o desequilíbrio é muito maior: 4 dólares gastos no ensino superior para cada dólar gasto no ensino básico. Já lemos e ouvimos por dezenas de vezes que formamos muito mal nossos estudantes nas licenciaturas e Pedagogia, mas tal afirmação desconsidera ou ignora a formação deles como egressos do infantil e do fundamental de baixo nível. Pudera, de todos sabido, que sequer temos docentes qualificados satisfatoriamente para as licenciaturas, em qualquer rincão do país, inclusive nas capitais onde seria mais propícia uma ótima formação, com muitas escolas para receberem os licenciandos em estágios, momentos de observação e práticas didatico-pedagógicas. Mas não, tudo parece o mesmo do igual e do semelhante, de norte a sul. Quem sabe em parte seja em razão do que a mídia divulga, não sem motivo, dos baixos e irrisórios salários dos professores; as mazelas em salas de aula quando aluno agride fisicamente o professor, não bastassem as ofensas verbais; o exagerado número de alunos em salas; a inexistência de bibliotecas e laboratórios; o acometimento de estresse aos professores e a consequência de uma profissão solitária, culminando em estados depressivos que retiram esses professores da atividade. Não estariam eles em equívocos de escolhas/vocações profissionais, sem uma acurada seleção cultural e psicológica, indicando capacitação para a árdua tarefa de enfrentar diariamente muitas “ferinhas” humanas? Ao que sabemos, os concursos para o infantil e fundamental são medíocres, o que viabiliza a intenção de trabalho dos jovens licenciandos, mesmo despreparados para o cotidiano. Afora o que parece embuste dos governos quanto a tais concursos que deixam os “aprovados” em espera de alguns anos para a efetivação daí perguntar por que, para que se não serão alocados de imediato? Também sabido que o Estado e o Município amargam grandes porcentagens de docentes assumidos, na ativa, que se afastam pelos mais diversos motivos, desfalcando as classes em quase 25%, seja por causa do dentista, da menstruação, das cefaleias ou dos traumatismos naturais. Ou seja, não comparecem para ministrar suas aulas, por vezes sob as mais esfarrapadas desculpas: um absurdo no universo de 10 mil professores 2.5 deles faltando ao trabalho. Se considerarmos feriados e greves o ano letivo mal começa já acabou, mas pleiteiam-se adicionais salariais de produtividade. A máxima popular “O ovo e a galinha” pressupõe discutir quem nasceu primeiro numa grande escala participativa: o aluno medíocre se deu porque teve professor medíocre que por sua vez foi mediocremente formado (licenciado) por um corpo docente medíocre, e assim sucessiva ou retroativamente. Eis a questão, insólita que temos pela frente, mas, sem dúvida alguma, é preciso repensar as licenciaturas numa tacada só: fechar para balanço, não tem outro jeito, e daí para frente produzir docência de qualidade obtida por mestres de qualidade, aprovados e indicados por uma peneira fina, exclusivamente em Institutos de Educação, sob eficiente regime regulatório. As mudanças na educação em muitos países nos chegam sob a constatação de que a qualidade do docente é fator determinante para o ganho de aprendizagem do aluno. Nenhuma novidade nisso, é o óbvio, mas ainda não aprendemos isso. Para o presidente da Undime Goiás, Marcelo Ferreira da Costa, é preciso, cada vez mais, investir na melhoria das metodologias de ensino, compreender como o professor aprende para, consequentemente, ensinar melhor: “Nós já entendemos a necessidade de formar bem o mestre. O que temos que nos dedicar com afinco, agora, é com as ferramentas e os atores que trabalham nesta preparação.” "Se o Brasil quer dar um salto nos próximos anos, não pode continuar pegando os piores alunos do ensino médio para ensinar as novas gerações", diz o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne, lembrando que no Enem 70% dos estudantes que entram em Pedagogia têm nota abaixo da média. Precisamos, com urgência, encarar o problema da formação docente se queremos realmente “virar a mesa” na educação. Com tais reflexões, impossível deixar no ar algumas perguntas sem respostas como: dá para resolver, quando se dará a solução, quem e qual governo tem a proposta definitiva para finalmente irmos à solução? Um dos assuntos mais tratados nos eventos, congressos e seminários sobre educação, como também relatados tanto na mídia e nas universidades, é a formação do professor, adequada para a atual época de ruptura da sala de aula, onde o aluno quer ser protagonista e usar modernas tecnologias de informação e comunicação. Há muito discurso e propostas para solução, mas efetivamente planos efetivos são raros. Precisamos de maior integração e intercâmbio das experiências que estão dando certo para serem replicadas. A realidade mostra que é necessário inovar, por muita criatividade, desenhar projetos viáveis e exequíveis e, principalmente, criar espaços de articulação e trocas de experiência. Urge escolas de excelência.