Vera Lúcia Soares*Mestra em Educação***As transformações que ocorrem na sociedade contemporânea assumem dimensões diversas e determinam grandes desafios, que vão desde o meio ambiente à globalização da economia, às tecnologias de informação e biotecnologias; dos novos métodos de trabalho ao emprego; da regionalização aos mercados sem fronteiras; das novas missões do Estado às responsabilidades participativas da sociedade civil e do cidadão. Nesse sentido, a principal característica deste milênio é o acúmulo da informação e do conhecimento em todos os domínios, com seu potencial de armazenamento e de propagação.
Apesar desse fenômeno ocasionar impactos sobre a sociedade, a economia e a cultura, gerando grandes mudanças no cotidiano das pessoas, é na escola que se concretiza a produção do saber que hipoteticamente deve embasar os indivíduos para ingressar no mercado de trabalho em sintonia com uma sociedade globalizada. Assim, o conhecimento já não se configura em apenas “buscar o sentido para a vida”, desprendendo-se do objetivo humano para tornar-se “produto comercial de circulação”.
É nesse panorama que a ciência e a tecnologia ocupam o principal destaque que surge um novo modelo de cidadania, não mais centrado na valorização do homem, mas voltado para os interesses econômicos. Diante dessa realidade, qual é o verdadeiro papel das instituições de ensino superior (IES) frente à nova conjuntura tecnológica e globalizada?
Entendemos que as IES continuam sendo fundamentais para a produção do saber, com o propósito de repensar a que modelo ou estratégia de desenvolvimento elas servem, no momento em que prestam seus serviços à sociedade. O papel essencial de qualquer instituição educacional é o de exercer a sua função social, ampliando os direitos a todos que almejam progresso e oportunidades de crescimento na vida.
Nesta linha de pensamento, defendemos que o ensino superior deve ressaltar em seus projetos acadêmicos a relevância da conquista de cidadania e a justa harmonia entre a vocação e o desenvolvimento humano.
À medida que a universidade conhece as necessidades da sociedade e as leva em consideração na definição de seu projeto institucional, provavelmente o resultado de sua “função” e “missão” será satisfatório, possibilitando o equilíbrio entre o que a sociedade necessita e o que é relevante para a universidade, ou seja, torna o conhecimento produzido acessível à sociedade, ampliando-lhe o acesso e capacitando os indivíduos para utilizá-lo.
Vale ressaltar que as políticas sociais, operacionalizadas nos mais variados campos, não podem ser substituídas pela universidade, em detrimento dos poderes públicos, ainda que possam e devam com eles contribuir, caso contrário o fazer universitário poderá ser confundido e reduzido a uma mera extensão de serviços públicos de prestação de serviços.
É necessário que se observe o papel da consciência crítica que possui a universidade e que se compreenda o conhecimento por meio de uma visão de mundo, politicamente comprometida com a condução da atividade extensão, em níveis cada vez mais democráticos, produtivos e de eficiência social. Além disso, deve-se buscar um nível de excelência, que se inicia pelo rigoroso planejamento dos projetos de grande porte, de caráter interdisciplinar e institucional.
Porém é preciso que a busca do conhecimento seja um processo prazeroso, no qual a burocracia acadêmica seja rompida e a sala de aula, transformada em espaço de permanente interação com a sociedade, pois é nessa interação cotidiana que a responsabilidade social da universidade se torna concreta, fazendo da teoria e da prática um todo articulado e orgânico.
Cada instituição tem sua proposta consequente de sua história, do papel social que desempenha, dos valores que defende, da estrutura de poder que detém. Essa proposta, que personaliza cada universidade, é que baliza sua ação.
Diretrizes para o fortalecimento do projeto institucional das instituições de educação superior
No mundo contemporâneo, as mudanças propostas para as IES são desafiadoras e o seu papel está sendo questionado e redefinido de diversas maneiras. Uma revisão básica do modelo atual, impactado pela tecnologia da informação e das comunicações, deverá contemplar a/o:
- fortalecimento dos processos de mudança no interior das instituições;
- fortalecimento e aprimoramento da capacidade acadêmica e profissional do corpo técnico e docente;
- atualização e aperfeiçoamento constante dos currículos;
- articulação da formação com as demandas da realidade escolar na sociedade contemporânea;
- articulação da formação com as mudanças em curso na organização pedagógica e curricular da educação básica brasileira;
- melhoria da oferta de recursos bibliográficos e tecnológicos em todas as instituições ou programas de formação;
- estabelecimento de um sistema de desenvolvimento profissional contínuo para a melhoria da formação de professores da educação básica;
- fortalecimento de vínculos entre as instituições e o sistema educacional, escolas e professores;
- promoção do espírito cooperativo e de parceria;
- adoção de padrões éticos de conduta, de consciência solidária e de respeito ao meio ambiente;
- compromisso com a preparação cultural e científica;
- estimulação da capacidade crítica e criativa do ser humano, enquanto sujeito na condução de sua história, inspirada no diálogo e na prática democrática;
- enfrentamento de todas as formas de exclusão social, através do exercício de processos participativos e promoção da cidadania;
- engajamento aos processos de mudanças, no contexto social, político, econômico, tecnológico e ecológico, como forma de alcançar progresso material e moral;
- valorização de uma educação para o mundo do trabalho, considerando a pessoa humana como tema fundamental;
- desenvolvimento do humanismo científico, apoiado em intensa criatividade e na busca da formação da pessoa humana completa;
- conciliação entre o humanismo, como vocação primordial, e o sentido econômico do desempenho eficiente e de maximização de resultados;
- compromisso com a dimensão sustentável do desenvolvimento do país, enquanto paradigma que estabelece processos, ao mesmo tempo, economicamente distributivos, socialmente equitativos e includentes, ecologicamente equilibrados e com clara identidade cultural da região.




