“A pandemia do coronavírus pode criar uma situação crítica em matéria de informação sobre como lidar com a nossa saúde. Estamos sendo obrigados a reconhecer que nosso bem-estar não depende mais apenas de remédios e tratamentos. Depende também, e muito, do tipo de informação que temos e sobre a qual baseamos nossas decisões. Os cientistas podem até descobrir a cura do coronavírus, mas se o contágio do medo for mais rápido, o esforço dos pesquisadores será incapaz de salvar a vida de todos os infectados física e informativamente.” Carlos Castilho[1]A Folha de S.Paulo, dia 3 último, estampou um horror de chamada de capa: Coronavírus pode gerar nova recessão global, afirma OCDE. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o surto está causando forte desaceleração na economia, e estima 2,4% de crescimento global neste ano, o mais baixo desde 2009. Se a doença se espalhar por Ásia, Europa e EUA, a projeção recuaria a 1,5%. Ao rigor das informações, o Fórum Econômico Mundial já se preparava para uma pandemia de coronavírus desde 18 de outubro de 2019, mediante uma reunião realizada em Nova York, na qual se tratou, explicitamente, de planejar a reação de empresas transnacionais e de governos a uma epidemia mundial. Participaram do exercício 15 líderes mundiais, entre os quais os dois responsáveis oficiais chinês e norte-americano de luta contra as epidemias. O americano mais preocupado, pois nos EUA, em 2018, morreram 80 mil pessoas por causa de gripe, conforme o Centro de Controle e Prevenção a Doença (CDC). Informou ainda que foram 900 mil hospitalizados. Vale ressaltar que, dois meses após o Fórum de Davos, no início de dezembro de 2019, em Wuhan (China), instalou-se a epidemia que foi precedida por aquele exercício com a ajuda do Johns Hopkins Center for Health Security e da Fundação Bill & Melinda Gates. Ou seja, as trombetas soaram quase sessenta dias antes da eclosão. O coronavírus não pode ser subestimado e as regras preventivas devem ser seguidas, mas uma outra, fundamental, deve ser adotada: impedir a disseminação do vírus do pavor. Ele é transmitido principalmente pela televisão, que dedica os telejornais quase inteiramente à epidemia. Assim, mais potente do que o corona, o vírus do pavor entra em todas as casas, através da televisão e rádio, bem como pelas redes sociais. Está circulando na internet um vídeo combatendo o que eles chamam de “uma vacina contra a histeria”: [embed]https://www.youtube.com/watch?v=rE2IaR2TuzI&feature=youtu.be[/embed] A teoria do Agenda Setting[2] cai como uma luva para o que estamos vivendo. O destaque dado nos vários meios de comunicação à epidemia, não só no Brasil, mostra uma mesmice insuportável. É claro que informação sobre o avanço da epidemia é importante, mas com o foco que os meios de comunicação têm dado, é de se perguntar por que todos têm medo do vírus e não se apavoram com o resto que pode acontecer no Brasil, resultado das prospecções e trabalhos em Davos? Males, talvez até maiores, de que poucos se dão conta, que já assombram a humanidade e foram agora denunciados e debatidos em Davos. Por exemplo, o sumiço de empregos, o capitalismo sem freios, o aumento da desigualdade social, o descontrole da ação humana e desastres ambientais, a falta de entendimento e cooperação entre governos e pessoas. Tudo mostrando que, se a educação (formal e informal) não mudar e se agigantar, o mundo pode sofrer um colapso. É a única saída. Aos finalmente, hoje, o mundo contabiliza perto de quatro mil mortes, alcançando quatro dos cinco continentes e as biofarmacêuticas, é claro, a todo vapor, menos para salvar vidas do que para buscar o lucro. Todos precisamos tirar muitas lições na vida, de tudo, sobretudo diante de uma epidemia como a que enfrentamos agora e que poderá ser pior, maior, com razoável grau de letalidade, senão também por mutações e novos vírus decorrentes do desastre que perpetramos ao meio ambiente, ao planeta, à natureza, ao mundo animal, aos rios e mares, à transgenia coletiva. A transdisciplinaridade sugerida por Davos tem caráter terminal em virtude da ação do homem sobre o meio ambiente, já que o tema transversal foi sustentabilidade. A economia discutida em Davos influencia e é influenciada por tudo o que está acontecendo agora. A interrupção de aulas em vários países, a queda nas bolsas e um pré-colapso da economia global provam que tudo está interligado e que esforços coletivos e colaborativos, sem fronteiras, são o antídoto para a situação. Importação e exportação estão travadas, bolsa despenca e dólar vai às alturas. Tudo indica que estamos mais preocupados com a epidemia, que pode ter solução rápida, mas não com as recomendações de Davos, quando, em última análise, é a epidemia absoluta, completa, irreversível e inexorável de um mundo em desespero, asfixiado pelos próprios colarinhos que nenhum laboratório poderá microscopar. Há outros e muitos vírus mais letais do que o chikungunya, o aedes, o H1M1, o corona e eles estão ao nosso redor sem ninguém estar cogitando usar máscaras ou luvas. Quem está pensando nos desabamentos de morros da baixada santista e nas “comunidades” quando as mortes diárias são triviais? A grande realidade é que o homem só “acorda” quando o pé da cama estiver pegando fogo. Antes disso, deixe-me dormir um pouco mais. Uma rápida leitura no decálogo de Davos nos põe em alerta contra dez vírus (vide artigo anterior) e para nossa defesa não será preciso usar quaisquer preventivos, mas uma dose cavalar de prudências e antídotos de sensatez, para não permitir as contaminações de desigualdades. Enquanto a realidade virótica conta com centenas de cientistas mundo afora, tentando encontrar razões da instalação, propagação e a descoberta de uma vacina, o novíssimo vírus do Fórum Econômico pode atingir bilhões de pessoas, despreparadas totalmente para enfrentar o fantasma da fome, do desemprego, das ruínas climáticas (secas, chuvas, terremotos, ciclones, etc.), da perda de privacidade, da tecnologia não inclusiva, que alija contingentes populacionais de seus direitos fundamentais e promove mais desigualdades. Tudo clamando a emergência planetária de uma distribuição mais equitativa de renda, oportunidades e acesso ao conhecimento. A crueldade dos tempos é que, se tais mazelas não extinguem a humanidade, deixam, entretanto, seríssimas feridas com direito a recidiva como tantas outras pelas quais já passamos. Como certo é que a economia tratada em Davos influencia tudo que está acontecendo dos desvarios nos cenários industriais cujo foco é o lucro a qualquer preço. Todos os “recados de Davos” deveriam ser incorporados de forma incisiva, pois independentemente de vírus, com mais ou menos letalidade, todos os dez sintomas que relatei em artigo anterior prevalecerão num mundo de perto de oito bilhões de pessoas. Até aqui, salvo engano, não sei de vírus tão mortal quanto a vida valendo nada, o dinheiro não comprando e vendendo nada, senão a mentira. Pensemos mais uma vez no papel da educação como catalisadora de todos esses problemas e, com auxílio das novas tecnologias digitais e da mudança de comportamento proporcionada por elas, como capaz de mudar o curso da história. ________________________________ [1] Carlos Castilho é jornalista profissional, graduado em mídias eletrônicas, com mestrado e doutorado em Jornalismo Digital e pós-doutorado em Jornalismo Local. Sua ótima matéria “A infodemia ameaça mais do que o coronavírus” está disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/desinformacao/a-infodemia-ameaca-mais-do-que-o-coronavirus/ [2] A Hipótese do Agendamento ou Agenda- theory ou Agenda Setting, no original, em inglês, foi formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw na década de 1970. Essa hipótese propõe a ideia de que os consumidores de notícias tendem a considerar mais importantes os assuntos que são veiculados com maior destaque na cobertura jornalística (incluindo tanto meios impressos quanto eletrônicos). Assim, no Agenda-setting, as notícias veiculadas na imprensa, se não necessariamente determinam o que as pessoas pensam sobre algum assunto, são bem-sucedidas em fazer com que o público pense e fale sobre um assunto em especial, e não sobre outros. (Wikipedia)