“O Brasil não voltará a crescer de forma sustentável enquanto não reduzir sua desigualdade e a extrema concentração da renda no topo da pirâmide social.” (Thomas Piketty – Economista)Um renomado economista americano em viagem à China no século passado, convidado a visitar a construção de grande via estadual, ficou estarrecido quando viu que para abri-la operários usavam enxadas, pás e picaretas e a terra era transportada por carroças. Perguntando aos construtores por que não usavam retroescavadeiras e caminhões, a resposta veio seca: é para dar trabalho a toda esta gente. E “o renomado” retrucou jocosamente: então por que não usam colheres? Busca de trabalho entre cidades, regiões e países pelas correntes migratórias foi e ainda é uma constante pela luta do pão de cada dia. Guardada as proporções, o Brasil, um país em desenvolvimento, com enorme extensão territorial, com muitas indústrias e empreendimentos, tem muito ainda a ser construído. Criar empregos e ocupações para toda a população é um desafio monumental para o governo, que precisa ter profissionais estrategistas planejando 24 horas por dia mecanismos para o país enfrentar não só esse problema, mas tantos outros que precisam de solução. E, para isto, vai precisar romper culturas, tradições, tabus e pensar fora da caixa. Um exemplo é construir uma cidade polo de atração internacional de desenvolvimento na Amazônia, como escreveu o jornalista Fernando Gabeira numa de suas crônicas. Mais cedo ou mais tarde, a questão do emprego para todos será um desafio maior do que a questão da saúde que estamos passando agora, porque, além de promover o trabalho, precisamos treinar e retreinar pessoas e dar outros instrumentos para que tenham qualidade de vida. A pandemia foi o gatilho para mostrar ao mundo diversos problemas crônicos. Mas também evidenciou o novo cenário onde muitas formas de trabalho e ocupação deixarão de existir, fora aquelas que já estavam sendo substituídas pelas máquinas, o que muda completamente o mercado das ocupações laborais. Em agosto escrevi o artigo “O desafio do mundo futuro é criar trabalho para todos” e citei a reflexão do escritor israelense Yuval Noha Harari:
“Ha três questões em relação ao futuro do trabalho: - o que fazer para impedir a perda de empregos; - o que fazer para criar empregos novos; - e o que fazer se, apesar dos nossos melhores esforços, a perda de empregos superar consideravelmente a criação de empregos.”Achando que a ajuda do governo seja suficiente com medidas de amparo social e alisando as três hipóteses, profetiza “não sabemos se bilhões de pessoas serão capazes de se reinventar repentinamente, sem perder o equilíbrio mental”. Relato agora de maneira mais enfática as declarações do economista Daniel Susskind, autor dos livros “Futuro das Profissões” (ed. Gradiva 2019) e “Um mundo sem trabalho” (Porto Ed), em entrevista dada ao jornal Folha de São Paulo no sábado (26/09) sobre a distribuição da prosperidade. Ele é professor da Oxford University e diz que
“é papel do Estado distribuir renda e evitar o aumento das desigualdades.”O avanço da tecnologia, com certeza, vai aumentar a produtividade em nossas atividades, mas vai, também, reduzir a oferta de empregos. O trabalho, que era um mecanismo para a distribuição de renda, não é mais. Os robôs, cada vez mais presentes, não vão assumir as empresas de uma hora para a outra, mas serão um fator de substituição de mão de obra humana por tecnologia. Então, o que será feito para reduzir as desocupações o que, por tabela, aumenta as desigualdades? Não conseguir emprego e não ter como trabalhar é um flagelo social que sem dúvida acontecerá e políticas públicas devem se antecipar a essas crises decorrentes. O fato é que o Brasil real e atual, e sem falar do futuro, já tem um problemão de como dar trabalho a cerca de 60 milhões de pessoas desempregadas ou na informalidade, sem proteção trabalhista ou previdenciária. O grande desafio é como planejar o desenvolvimento para o país crescer econômica, social e culturalmente e ter trabalho ou ocupações para todos. Além disso, é preciso criar um sistema educacional capaz de capacitar profissionalmente nesse novo cenário que já está batendo às nossas portas. Uma das decisões do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, do início do ano, advinda da discussão dos executivos das 120 maiores empresas do mundo, foi de que
“deveriam também se preocupar com o meio ambiente, com a realidade social e com a governança dos locais onde estão sediadas.”O Capitalismo responsável, como ideologia, deveria aproveitar a capacidade de criatividade e de inovação do setor privado para colaborar para que todos os cidadãos terem melhor qualidade de vida. Sem falar da falta de oportunidades de trabalho. Está evidente que não temos um sistema educacional capaz e competente para preparar os profissionais para enfrentar os desafios do futuro. Para as instituições educacionais particulares, que são pagas, agora, mais do que nunca, ficaram mais evidentes os grandes desafios que surgem pela frente como o de preparar nossos estudantes para viverem num mundo repleto de transformações radicais e de incertezas. Que tipo de habilidades vão precisar ter para conseguir trabalho e para empreender e, principalmente, como aprender num mundo onde tudo muda a cada instante? Para as classes A e B, as questões do aprendizado se resolvem, mas para as classes C, D e E, com menos recursos e que dependem de escola pública nem sempre bem estruturada, as dificuldades são maiores e, como as políticas públicas não as atingem com eficiência, as oportunidades de aprendizagem não são iguais. O prof. Cristovam Buarque sinaliza que as brechas se ampliaram e precisaremos atuar para igualar:
- A educação dos ricos com a dos pobres;
- A educação do Brasil à dos demais países;
- As crescentes necessidades da educação de um mundo em transformação e o nível da educação oferecida.