“O desemprego não desaparece de repente. Para que a situação melhore, não basta haver investimentos, é preciso melhorar as escolas e a formação das pessoas.” (Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República e sociólogo)
Desde abril do corrente ano, cerca de 66 milhões de pessoas receberam o Auxílio Emergencial decorrente da situação motivada pela parada total das atividades por causa do coronavírus. Contando-se o número de pessoas de cada família, o benefício atingiu mais de 126 milhões de pessoas, cerca 60% da população.
Na realidade, assim como fez no resto do mundo, a pandemia atingiu a economia e desestabilizou a maioria dos negócios com as atividades que envolviam áreas de todo os matizes. Daqui para frente, para que este auxílio não se torne definitivo, a sociedade, o estado, os estudiosos e cientistas, os empresários e a universidade deverão buscar entre seus cérebros privilegiados soluções para haver trabalho e emprego e, consequente, desenvolvimento no Brasil. Caso contrário o país quebra!
Consequentemente, a preparação de recursos humanos agora deve ser estratégica, pois a formação profissional tem que estar alinhada também, para atender às transformações tecnológicas de um mundo completamente diverso do atual. Por isso, temos batido sempre na mesma tecla, de que, se o Brasil quiser almejar estar entre as 10 nações mais desenvolvidas e prósperas, seu sistema educacional público também deverá ter este anseio, porque, para crescer ou se desenvolver em qualquer plano que se faça, uma das estratégias será a qualidade da educação.
Em artigo anterior, citei o Prof. Cristovam Buarque que escreveu que a pretensão de ser sempre campeão de futebol é anseio nacional, mas em educação, até hoje ninguém insistiu nisso. E também, que não temos consciência do papel da educação como recurso de progresso nacional. Cada aluno que abandona a escola é um cérebro a menos sem formação. É uma perda para todo o país e não somente para o jovem e sua família.
Provocado sobre a mesma questão, o prof. Eduardo Giannetti da Fonseca mostra a responsabilidade do governo e da sociedade em empreender iniciativas para que a formação do capital humano promova processos de ensino e aprendizagem condizentes com os anseios e necessidades do país. E, falando sobre o futuro, não deixa de citar que a melhoria da qualidade do ensino é um dos pilares de uma nação bem construída (o outro é o cuidado com o meio ambiente).
Ele acredita que as classes alta e média valorizam a educação como uma das portas – talvez a única – para o sucesso pessoal e para o país seguir numa rota de crescimento saudável e expressivo. Porém, dá exemplo dos estudantes descendentes de asiáticos, cuja população corresponde a 3% da população paulista e que obtém 12% das vagas disponibilizadas no Fuvest. As famílias vieram para o Brasil sem nenhuma vantagem ou facilidades e seus filhos sem privilégio algum, fizeram a mesma escola pública dos paulistas e por que então obtiveram melhores resultados?
“A explicação é que as famílias orientais têm a tradição e a cultura de dar todo o suporte no dia a dia: além de acompanhar a aprendizagem e cobrar resultados, elas incutem na criança a necessidade de tirar o melhor proveito da oportunidade que estão tendo de estudar.”
A importância da integração entre a escola e a família é fundamental e crucial para o bom resultado escolar, sendo tema desenvolvido por diversos autores, entre eles, o Prof. Cícero Barboza, doutorando em Educação Escolar pela Unesp de Araraquara. Para contextualizar esta visão, replico trecho de seu artigo.
“Acredita-se que a família é a base principal da criança, fornecendo proteção, amor, conhecimentos e valores. Dessa forma, passa a ser a primeira a estabelecer contanto de interação do indivíduo com o meio social, através das relações, experiências familiares que são responsáveis para a formação do caráter dentro do âmbito familiar, escolar e social, pois é na família a primeira escola da criança, ficando o professor para dá continuidade nos aprimores da vida.
Percebe-se que quanto mais a família participa mais eficaz é o trabalho da escola, pois dessa forma, cada um se dedicará as suas atribuições.”
A pandemia está mostrando todos os problemas que temos em nossas áreas específicas e cada um está procurando dar um jeito de sobreviver em seu negócio e atividade. Mas se não houver alinhamento de objetivos macroeconômicos, sociais e ambientais, no sentido de sermos um país mais harmonioso e igual, nada conseguiremos. E tudo começa com educação pública de qualidade. O grande desafio é criar esta consciência coletiva do valor da educação e como conseguir reunir e motivar gente que pensa da mesma forma.
Estou dialogando com alguns amigos sobre como avançar nesta ideia de conscientização nacional e outro dia um deles me disse “porque você não faz um World Café a respeito?”. É uma boa estratégia de colaboração para intercâmbios de ideias que pretendo desenvolver nas próximas edições. Vamos nos organizar para o Primeiro Word Educacional, que nada mais é do que uma metodologia de conversa em grupo, bastante utilizada em todo o mundo. Criada por Juanita Brown e Davi Isaacs em 19995 na Califórnia/EUA, é uma técnica muito útil para estimular a criatividade, explorar temas relevantes para o grupo e criar espaço para que a inteligência coletiva possa emergir.
Para começar, elenco os principais temas que vão servir para início de discussão:
- O que precisamos fazer para colocar o Brasil entre os dez países com melhor pontuação no Pisa até 2030?
- Qual estratégia a adotar para conscientizar e fazer essa iniciativa criar um impacto na sociedade civil organizada, utilizando ações motivadoras para que isso aconteça?
- Como sensibilizar os poderes constituídos – Congresso Nacional, Poder Executivo e Poder Judiciário – e, principalmente, o sistema educacional para aderir, apoiar e ajudar a implantar a estratégia melhor?
- Como sensibilizar as famílias da importância da educação, para que possamos melhorá-la e formarmos talentos, para não continuarmos dependentes do resto do mundo em tudo?
- Promover um Campeonato Nacional de Educação, onde todos vão lutar para se classificarem nos melhores lugares e conseguirmos com o tempo ganhar o Campeonato Mundial.
- Levantar quanto se gasta em educação, como se gasta e quanto seria o custo para implementar a estratégia e ações selecionadas.
Esses temas podem ser melhor qualificados, melhor definidos e também ser substituídos por outros mais estratégicos, mas sem perder o foco de que precisamos com urgência mudar a educação brasileira para melhor e assim não perdermos o bonde da história.
Todos unidos será mais fácil enfrentar esse desafio! Quem se habilita?