É fato conhecido que manifestações iniciais sobre responsabilidade social a nível mundial surgiram em meados de 1906, ganharam força em 1953 (Social Responsibilities of the Businessman, de Howard Bowen) e que na década de 1970 nos Estados Unidos associações de profissionais demonstraram interesse na temática (American Accouting Association e American Institute of Certified Public Accountants).
No Brasil há indicações de que a “Carta de princípios dos dirigentes cristãos de empresas”, publicada em 1965 pela Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas do Brasil (ADCE Brasil), seria uma das manifestações iniciais sobre o assunto pela utilização do termo responsabilidade social (no caso referindo-se a empresas).
Observando-se esse fato circunscrito à questão da responsabilidade social na educação superior a nível nacional, muito já tem sido escrito sobre o tema, quer seja no contexto da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) na forma de artigos em suas Revistas e no respectivo Blog, bem como alhures em diferentes veículos de comunicação.
Sob o ângulo da responsabilidade social nas instituições de ensino superior privadas (IESP), estudos e documentos se intensificaram a partir de 2004 em razão da aprovação neste ano (abril) da legislação sobre o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) – inclusive muitas dissertações e teses de mestrado e de doutorado. Em 2008, a ABMES publica a Revista Responsabilidade Social nº 3, um marco importante para o que se tornou até hoje um movimento nacional de enorme envergadura e repercussão denominado Campanha da Responsabilidade Social do Ensino Superior Particular. Mais tarde, em 2018 o Conselho Nacional de Educação (CNE) estabeleceu diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira, o que se tornou um componente importante no conjunto das atribuições das ações de responsabilidade social das IES.
Por uma questão de espaço para estas observações, o foco destas notas caminha na direção das IES com finalidade lucrativa, até porque as sem esta finalidade têm por atribuição precípua pela respectiva institucionalidade (qualquer que seja, assim entendemos) pautar objetivos e atividades, na sua razão de ser, na direção da responsabilidade social.
A revisão da literatura apresenta muitos aspectos exaustivamente analisados no campo em comento. Mesmo assim, o campo de observações da gestão de mantenedoras e mantidas nas IES com sentido de lucro parece ser ainda bastante interessante. Gostaríamos de colocar atenção no papel de dirigentes nas suas respectivas funções. Ao gestor da mantenedora lhe recai, pela natureza de sua função, o que se convencionou denominar Responsabilidade Social Empresarial, atribuindo-lhe agir de maneira ética e transparente, buscando valores para o desenvolvimento humano e à inclusão social, de modo a maximizar a atuação da mantida no meio ambiente e na comunidade por meio de um amplo canal de diálogo com a sociedade local. Também se espera dele buscar formas de cooperação competitiva ao desenvolver o trabalho da sua instituição no ambiente empresarial, lado a lado com instituições congêneres, respeitando-se mutuamente o direito de cada uma.
No caso da mantenedora com administração de um conjunto de instituições sua gestão deve se caracterizar pela Responsabilidade Social Corporativa, o que implica o estabelecimento de medidas que impulsionem o desenvolvimento econômico e social sustentável em todo o ambiente da sociedade onde atua, de modo a preservar bens coletivos para as gerações futuras e promover instrumentos que permitam o respeito à diversidade e a redução das desigualdades sociais .
Ao gestor da mantida se espera uma relação de intimidade com a responsabilidade social, vez que a essência de seu trabalho implica um papel de extrema relevância na orientação da formação acadêmica, na relação aprendizagem – ensino voltada para o aperfeiçoamento da consciência do aluno no campo da cidadania, preparando-o para atuar em atividades laborais de maneira criativa e com qualidade, buscando aprimorar a realidade onde atua bem como para melhor exercer seu papel na sociedade com ética e dignidade.
As IES privadas desenvolvem seu trabalho diuturno com uma enorme gama de atividades concretas que implicam ações de responsabilidade social de variadas formas e amplo espectro. O resultado destas atividades permite medidas de mensuração cujo resultado indica o esforço que está sendo feito na direção do bem comum. As Campanhas de Responsabilidade Social que a ABMES promove caminham nesta direção. Um importante instrumento que pode ser agregado nestas Campanhas, e que já vem sendo realizado por diversas IESP, é o denominado Balanço Social. Trata-se da elaboração, em determinados períodos de tempo (semestral, anual, por exemplo) de documento relevante sobre as atividades socioeconômicas interrelacionadas realizadas pela IES no contexto onde ela atua com a comunidade, com expressão quantitativa e de valor monetário efetivo ou equivalente, apresentando o resultado de sua responsabilidade social, visando sua divulgação perante a sociedade.
Nesse contexto da responsabilidade social observada pela sua interface com a gestão Educacional privada, tomo a liberdade de incluir, exatamente pela importante atividade que desenvolve neste campo, a nossa querida ABMES. Ela busca contribuir para o desenvolvimento global das instituições mantenedoras e mantidas associadas e defende a livre iniciativa, por meio da articulação com o governo e com a sociedade, e pela participação na elaboração de políticas públicas visando a melhoria da educação superior no país através de uma contribuição decisiva nas discussões dos grandes temas pertinentes ao desenvolvimento do setor. Tudo isso realizando suas atividades com transparência, elevado espírito ético e respeito ao conjunto de valores que a sociedade pratica, na direção do bem de todos. Certamente uma referência no exercício da responsabilidade social no seu campo de atuação que merece ser divulgado dada a importância de que se reveste.
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Algumas notas sobre práticas de responsabilidade social:
- Gerir o relacionamento com as comunidades situadas na área de abrangência da IES com base no diálogo contínuo e transparente, contribuindo para a viabilidade das ações e o desenvolvimento local;
- Desenvolver atividades e projetos voltados para as comunidades socialmente em desvantagem do ponto de vista econômico e financeiro, situadas no campo de ação da IES. Essa ação é conhecida como Investimento Social Privado;
- Investir em programas e projetos socioambientais, contribuindo para as comunidades onde se atua e, de forma ampliada, para a sociedade, em alinhamento aos objetivos das atividades da IES e colaborando para a conservação do ambiente e melhoria das condições de vida;
- Integrar as questões relacionadas à Responsabilidade Social na gestão das atividades da IES e nos processos decisórios da mantenedora e da mantida.