“É essa entidade híbrida ‘pessoas-ferramentas-processos’ que produz e altera o que há no mundo. Nada funciona sem as três juntas. Elas agem como um amálgama que chamaremos de ‘tríade’. A ‘tríade’ é que é a verdadeira tecnologia que governa o mundo, não as ferramentas específicas que nos acostumamos ao termo ‘tecnologia’.” (Clemente Nóbrega, autor do livro “A tecnologia que muda o Mundo”)
Um amigo enviou-me uma mensagem pelo WhatsApp destacando uma declaração de Salman Khan, fundador da Khan Academy, que diz em entrevista publicada pela Revista Telos nº 114, da Telefônica, que “Entre a tecnologia e o bom professor, eu escolho o último”, justificando, por ser o mais importante no processo de ensino e aprendizagem:
“A tecnologia é um meio extremamente importante e certamente contribui para que o professor exerça cada vez melhor suas atividades docentes. Entretanto imaginar que as escolas possam prescindir dos professores é um equívoco que poderá custar muito caro para a educação. Ao contrário, a escola deve valorizar o professor, reconhecer suas atividades e motivá-lo continuamente a desempenhar seu bom trabalho”.
Sem discordar em nada da assertiva, gostaria de salientar que, se perguntarmos a um médico, ou a um engenheiro, ou a um empresário, ou a qualquer outro profissional, o que é tecnologia, tenho certeza de que as respostas serão diferentes e até conflitantes. O site Tecmundo traz o conceito descrito no dicionário Houaiss sobre o termo:
“1. Tratado das artes em geral; 2. Conjunto dos processos especiais relativos a uma determinada arte ou indústria; 3. Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou prático. Ou, mais claramente: 4. Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral.”
Com base na explicação e na complementação do site, podemos dizer que:
tecnologia é o uso de técnicas e do conhecimento adquirido para aperfeiçoar ou facilitar um trabalho ou atividade existente, uma resolução de um problema, ou a melhoria de funcionamento de um aparelho qualquer.
Sempre houve mentes criativas que, desde a descoberta do fogo, transformaram blocos de pedras em ferramentas fantásticas e madeiras em armas, dos barcos a remo em transatlânticos, dos balões em aeronaves e supersônicos, e assim por diante.
Todo o desenvolvimento da humanidade nasceu da transformação de ideias em ferramentas, aparelhos e máquinas para o melhor desempenho no trabalho, tendo sempre como impulsionadora a mente humana e tendo como paradigma as Ciências. A tecnologia é o que movimenta a ideia. É o desenvolvimento do cérebro e que revolucionou os sistemas de resolução. Em síntese, é o uso da cabeça como ferramenta ao invés dos músculos e mãos.
A principal invenção da humanidade foi a linguagem. Há oitenta mil anos o homem conseguiu transformar seus pensamentos e, pelas cordas vocais, transmitir sons que significavam palavras, que diziam coisas, e juntas expressavam sentenças, que unidas representavam ideias, que estruturadas viravam conhecimento. A significação faz parte desse início. E, para ensinar, usava a fala, transmitida pelas gerações por um personagem chamado professor. Inicialmente, o aprendizado era retido pela memória do aprendiz. Depois, com a escrita, o professor as colocava no quadro negro e os estudantes copiavam em pequenas lousas. Com o tempo, em cadernos, e depois vieram os livros. Com pequenas modificações, em razão da eletricidade, vieram os mimeógrafos, os gravadores e depois os projetores. Pouco mudou, até entrarmos na era da eletrônica e dos computadores, quando o sistema educacional precisou se adaptar às novas descobertas e ao novo cenário da tecnologia.
Há mais de dois séculos tudo era repetido igualzinho e do mesmo jeito e a toda hora, até que um “viruzinho” danado querendo destruir os humanos, acabou por colocar a educação de ponta cabeça, pois, para evitar a infecção, as pessoas não podiam estar mais juntas numa sala.
Foi aí que o mundo desabou, porque a maioria dos professores só sabia atuar em aula presencial, esquecendo que, há mais de cem anos, já existia aula pelos Correios e há cinquenta as novas mídias começaram a serem usadas para ensinar.
A pandemia veio só adiantar uma realidade já evidenciada pela Tecnologia da Informação, onde, além do presencial, o aprendizado podia ser concretizado por diversos meios, canais e, principalmente, através de uma telinha que cabe na mão e que pode receber qualquer conteúdo e transformá-lo em narrativas interessantes e ilustrativas. Foi decretado: daqui para frente, a tela é a interface que usa todos os recursos tecnológicos para dar informações e ensinar e educar.
Homem e tecnologia constituem uma mesma plataforma, com seus filtros, e deverão ser parceiros e unidos; deverão trabalhar para fazer chegar às pessoas o conhecimento, a realidade, e isso ocorre, principalmente, na área da educação, pois só ela pode plasmar os cérebros que, se bem formados, serão os responsáveis pelo progresso humano.
Portanto, não há o que escolher quem é o melhor, se o professor ou a tecnologia, pois ambos têm de contribuir para a remodelação dos sistemas educacionais. A realidade cruel mostrou que estamos defasados em dezenas anos. E, para o bom entendedor, significa: ultrapassados.
“Os docentes atuais e futuros devem ser os protagonistas de todas essas mudanças”, escrevi em meu último artigo. Não existe mais a figura do transmissor de conceitos e definições e acrescento: agora é com quem está atrás da tela. Ele é o mentor, o mediador, o curador e muito, muito mais do que isso, um educador para orientar os caminhos para uma vida sã, profícua e feliz. E para tal ele deverá se atualizar a vida inteira e, acompanhando o aconselhamento de Debora Noemi, deverá:
- Buscar o aprimoramento constante;
- Dominar a comunicação para ser aplicada às diversas mídias e contextos;
- Entender as demandas de conhecimento do aluno;
- Desenvolver suas habilidades socioemocionais;
- Estar atento à colaboração com outras áreas de conhecimento;
- Lidar e aprimorar sua habilidade em tecnologia educacional;
- Ser um curador de conteúdo;
- Trabalhar o pensamento crítico dos alunos;
- Usar as metodologias ativas de ensino;
- Estimular o empreendedorismo.
Enfim, o professor é o personagem principal que lidera o aprendizado hoje e amanhã.
Como consequência desse novo cenário, das ciências, das tecnologias e do desenvolvimento do conhecimento, o mundo passa por transformações em todos os setores de produção e serviços, requisitando em todos os graus recursos humanos qualificados e preparados para acompanhar o avanço desigual que acontece em toda a parte. E, para responder a esta demanda de mão de obra, os sistemas educacionais estão sendo contestados por estarem obsoletos e ultrapassados, e por não conseguirem acompanhar os novos arranjos do progresso advindo da aplicação das novas tecnologias. Governos são imediatistas e preocupados com sua continuidade, só dão atenção ao que dá repercussão hoje e não se incomodam com a sustentabilidade dos dias do amanhã.
Razão de continuamente escrever que só um plano de estado resolve, onde a educação deva ser entendida como uma questão vital para a nação ser viabilizada e independente. E, para isso, o sistema particular de ensino já cumula experiência para mostrar o que se pode fazer. Unidos, empresa, universidade, governo, sociedade, família e estudantes saberão preparar o Brasil de 2050.