Fazia mais de um século que uma pandemia não afetava de forma tão global a humanidade. Com o mundo cada vez mais interligado, não demorou muito para o coronavírus se espalhar e, em 6 meses, transformar a vida de todos (Midialab – Estadão)
Resetar o Ensino superior (1) foi sem dúvida alguma a reflexão que o 22º Fenesp nos obriga fazer em relação a tudo que foi exposto pelos palestrantes e comentado pelos congressistas nas mensagens trocadas no transcorrer do evento. Não só o que pode ser feito para enfrentarmos os desafios impostos à educação pelo coronavírus, como também a atitude que devemos ter, com respeito a antecipação de uma realidade tecnológica para a qual nem todos estavam preparados.
Por outro lado, a economia dos países foi travada, os negócios foram reduzidos fortemente e os empregos sensivelmente diminuídos, principalmente nas áreas que envolvem relações interpessoais. Só para se ter ideia, no Brasil, mais de 40 milhões de pessoas não tem trabalho, entre as desempregadas e a que estão fora do mercado e querem trabalhar. Há 522 mil empresas de pequeno porte e do setor de serviços que fecharam por dificuldades de encontrar crédito.
Na maior parte dos países, as desigualdades de todos os tipos ficaram expostas, nos mostrando como vivem, como moram e como é tratada parte considerável da população, nos cuidados da saúde, no saneamento e no atendimento dos demais serviços públicos. Mas o que vamos comentar está baseado em alguns dos chats trocados entre os participantes que passaram pela tela do meu computador e que pelo conteúdo nos instigaram a escrever este artigo.
Pensando bem, diria que concordo praticamente com tudo que foi exposto e com as previsões de como será a escola passada a pandemia. Creio sim que não será mais igual as de hoje, mas as mudanças não acontecerão da noite para o dia, pois tudo leva tempo para se ajustar. Que a escola em todos os graus e segmentos não será a mesma não temos dúvida. É importante pensar nas tecnologias e suas plataformas, que facilitam e oferecem caminhos diferenciados para a aprendizagem e há alguns aspectos que todos concordam:
- A maioria dos alunos vai preferir educação não presencial. Eles vão querer mais autonomia e as instituições, para se manterem no mercado, terão que procurar meios e instrumentos para facilitar o atendimento dos alunos, caso contrário perderão espaço;
- Mesmo os cursos considerados sagrados na presencialidade, agora serão atingidos significativamente e com a proliferação da modalidade educação hibrida que junta – presencialidade com educação on-line. Claro que com as devidas adequações, como já acontece no Brasil com algumas experiências;
- Haverá mais questionamentos quanto ao processo regulatório e certamente o Ministério da Educação perderá espaço e importância formal no universo do conhecimento;
- Com certeza mudarão os sistemas de certificações, isto é, não haverá mais tantos carimbos para validar o conhecimento, as competências e as habilidades. Cada escola será mais um canal para isso, mas ao lado teremos dezenas de outras opções, talvez até melhores que farão com mais propriedade, mais agilidade e competência o mesmo trabalho;
- O professor deverá perceber que, ao mesmo tempo em que no ensino presencial seu papel poderá ser menos valorizado, por outro lado, a sua importância aumenta quanto maior for seu domínio das tecnologias de informação e comunicação. Antes ele tinha o quadro negro para colocar suas palavras, agora ele tem a tela com seus multimeios para exaltar as suas ideias. Aprender vai ser a atividade mais demandada neste mundo, onde o conhecimento é requerido a vida toda. No ensino fundamental e médio é outro mundo, onde ainda há espaço nobre para ele perdurar muito tempo.
Está surgindo com vigor um novo instrumento para a educação que é a projeção de imagens em 3D de forma interativa, o que permitirá reduzir o número de professores e oferecer de forma até mais organizada conteúdos e mesmo experimentos de laboratório que podem ser usados intensamente. E a educação holográfica, imagine o que ela pode fazer no ensino da medicina, das engenharias e outras áreas consideradas sagradas, quando permitirá acessar internamente, por todos os lados pelo 3D? E há centenas de aplicativos que estão surgindo no mercado para aperfeiçoarem a comunicação e o entendimento das aulas. Imaginem o que vem por aí!
Vai mudar, com certeza, o mercado ocupacional e seremos surpreendidos com as experiências do home office, o que diversificará ainda mais o ambiente do trabalho, mandando para a lata do esquecimento, muitas ocupações hoje exercidas por pessoas. Com certeza a economia, o empreendedorismo e novas fontes de negócios, deverão encontrar novos mercados de trabalho para as pessoas sobreviverem, o governo deverá pensar fora da caixa para criar projetos que intensifiquem de todas as formas novos usos para a mão de obra, com atenção redobrada, pois os processos produtivos serão cada vez mais automatizados e, onde eram necessários 10 profissionais, hoje, 2 bastam. Será desemprego a vista?
Isso pode acontecer também no ensino superior com a redução drástica de pessoal, para diminuir custos, para manter as IES no mercado e para oferecer com mais agilidade, mais competência e mais assertividade os mesmos serviços que hoje são mais onerosos.
A era digital apenas começou e já causa espanto e admiração ao mesmo tempo, pois ela projeta infinitas possibilidades de transformação, de inovação, pois uma coisa chama a outra. No Brasil, podemos até projetar, mas nosso compasso ainda será lento, apesar de que uma nova geração está surgindo atropelando tudo com suas startups cada dia mais sofisticadas e criativas. Onde vamos parar?
O atual EAD mudará totalmente e já está se transformando. Quem não se atentar para isso perderá espaço, pois surgiram novos instrumentos, novos aplicativos e novas ferramentas mais poderosas, que pessoalmente vejo com inveja de quem é mais jovem, pois o universo que se descortina é fabuloso. Mas vamos com calma, pois as mudanças virão, porém temos que ter no presente, que toda a ação tem junto uma reação e é aí que entram valores, crenças e ideologias que podem ajudar ou, pior ainda, o que é mais provável, atrapalhar.
Apesar da despreocupação dos governos (não é possível que não haja alguém que não tenha lido os relatórios da OCDE) (2) o processo da mudança é irreversível. Na educação haverá sim, e aí concordo uma revolução sem precedentes, mas sinto que no Brasil, no ensino fundamental e médio público, pode atrasar tudo, a não ser que consigamos fazer uma revolução não mais silenciosa, mas ruidosa para mudar de vez o cenário.
Enquanto não resolvermos o problema crônico das desigualdades, tudo o que falamos fica pelo meio, pois grande parte de nossa população não tem internet, não tem acesso a ferramentas que são fundamentais para o processo dar resultados. Então precisamos resolver isso rapidamente. Olhe como estamos agora: muitos estados foram pegos sem nenhuma tecnologia para oferecer educação remota (nome inventado para a transmissão de aulas presenciais pela TV), o que não resolve, pois os professores não estavam preparados e sem saber como fazer.
Quem já tinha expertise em EAD tirou de letra e nisso nosso segmento particular não ficou para trás, ao contrário, mostrou competência como enfrentar o desafio.
Apesar da maior crise mundial de saúde que abala todas as nações, o nosso país, com todos os seus problemas de sustentabilidade, de econômica e políticos e sociais, encontrará no caminho da criatividade, entendimento, solidariedade e colaboração a solução. Vamos torcer, acreditar e fazer a nossa parte para que isto aconteça. “Quando todos sonham juntos fazem tudo acontecer”.
(1) Prática que faz parte do cotidiano da informática, que é a ação de apagar ou desfazer opções configuradas nos computadores
(2) OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento econômico
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