““Para a sobrevivência da humanidade um novo pacto deverá surgir para promover a passagem do modelo econômico voltado para o mercado, para um que priorize o humano, instituído a partir de um novo pacto social entre os diferentes, capaz de redistribuir riqueza, trabalho, poder, saber, oportunidades e bem-estar”. ( Prof. Domenico de Masi)
Manifestações de personalidades de diversos países salientam que a pandemia da covid-19 mostra que o mundo está fraccionado por suas diferenças econômicas, políticas e sociais, onde uma pequena parte da população tem todas as benesses dos céus e a maior parte tem as mínimas condições de viver, morar e trabalhar. Cientistas sociais e economistas salientam que, para sobrevivência da humanidade, um novo pacto deverá surgir para mudar o atual modelo econômico voltado para o mercado e criar uma nova ordem social capaz de redistribuir riqueza, trabalho, poder, saber e bem-estar.
Em seus livros e palestras o sociólogo italiano Domenico de Masi diz que se deve ao neoliberalismo globalizado a questão da desigualdade entre ricos e pobres, a degradação ambiental, a crise de emprego na Europa, as migrações em massa provenientes de áreas em conflito, o fundamentalismo religioso e o recrudescimento do extremismo político. Ele afirma que “todos estes fatores ilustram o fracasso dos três agentes da formação da sociedade, a família, a escola e a mídia” e as ciências humanas têm falhado naquilo que lhe compete: a construção de modelos para os indivíduos e a sociedade”.
Analisar o papel da família, da educação e da mídia é assunto já debatido e escrito por especialistas das ciências sociais, mas arrisco fazer algumas considerações, a começar dizendo que a família é fundamental para a educação dos filhos desde os valores que a tradição lhes legou, até o que a sociedade lhes impinge como valor.
Toda a família, pobre ou rica, tem como meta que seus filhos tenham educação além daquela que eles receberam numa espécie de sonho adiado e para ser realizado por meio dos filhos.
O Brasil mudou e tanto e a família, quanto a escola e a mídia são totalmente diferentes de setenta anos atrás, quando a industrialização começava a se desenvolver e a migração rural ia ocupando as grandes cidades. Mas um fator será preciso salientar: todas as atividades, acontecimentos e eventos que acontecem no mundo são repercutidos pela mídia, dando a sua visão sobre os fatos de acordo com o pensamento de seus líderes e interesses, que de uma maneira ou outra são transmitidos às famílias e escolas.
Vivemos num mundo volátil, onde os valores familiares foram substituídos por ideários de gerações que se impuseram através do espelhamento com seu modo de ser. Atualmente são os “millennials” que estão aí para mostrar as diferentes “tribos” que se formaram. Quando falam sobre o inusitado, tudo é reportado como se tivesse “leveza, sensibilidade e gosto pelo novo”.
No descolamento que aconteceu na formação do seu contexto inicial, as famílias hoje apresentam características diferentes na sua constituição, porém uma determinante pode ser notada como um elo comum: a necessidade econômico-financeira de seu núcleo inicial. Para que isso aconteça, independente da classe social, a exigência da inserção no mercado de trabalho é fundamental.
É nesse momento que entra a escola, que foi obrigada a passar por transformações pelas quais não estava afeita. Do meio período, com horário e calendário pré-estabelecido e o surgimento da necessidade do período integral, surgiu a escola multifuncional, nos modelos de uma associação esportiva, cultural e de lazer, oferecendo, em um segundo período, atividades próprias da responsabilidade da família, inclusive alimentação. Boa escola tem que ter bons resultados no desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos, porém também o dever de lhes oferecer as áreas acima descritas para facilitar a vida dos pais, que não podem ficar indo e vindo para trazer os filhos (transporte escolar) , buscar na saída , levar às atividades complementares em outros centros voltados para despertar o interesse pelo novo, por estar ampliando o olhar universal de seus filhos, inclusive, para tomarem conhecimento das diferentes maneiras de crescer na adversidade.
Os estudantes de menor poder aquisitivo ficam num universo restrito ao reforço escolar, algumas atividades esportivas, em casos aqui ou ali, com uma outra atividade cultural. Então, a família e a escola apresentam atualmente uma complementaridade desigual.
Entra aqui também um terceiro fator, talvez o mais crítico de todos, que é a fonte midiática, agora acrescida pelas redes sociais, onde cada um divulga o que quiser. Para essas gerações em formação tudo que chega não é verdadeiro e, em grande parte, de qualidade questionável. É só assistir uma série a ser acompanhada por adolescentes entre 12 a 17 anos. Nelas tudo é possível. Tudo é mostrado como normal, tanto faz o que fica subentendido no texto e nas ações. O que é menos enfatizado é o ambiente escolar como um centro de construção de conhecimento.
Nas redes sociais, os MCs, os DJs e outros tantos canais fazem sucesso como os “influenciadores da moda”, por isso, se faz necessário aos pais zelosos bloquearem seu acesso. Isso se aplica à exibição dos adeptos ao punk, ao funk, cujo as letras são de uma agressividade moral às mulheres, que são as maiores seguidoras desse gênero – dá para entender, mas afinal, como despertar o interesse pela escola?
Professores muitas vezes se frustram devido à distração dos alunos em sala de aula. Como fazer a escola ser interessante?
Se os alunos passam horas nas redes sociais, a escola deve ocupar um espaço por ali também. Outros educadores vão além e usam as redes sociais e tecnologias na própria sala de aula com o auxílio de dispositivos móveis, por exemplo. Isso torna o ambiente mais interativo e faz o estudante se identificar mais com o conteúdo.
Aulas mais interativas, mais dinâmicas e que se servem de recursos tecnológicos para promover discussões tendem a despertar mais interesse dos estudantes. Dessa forma é possível sim usar o Google e redes sociais como aliados.
De fato, lidar com as mudanças na educação nem sempre é uma tarefa fácil. No entanto, os educadores devem estar preparados para enfrentá-las, já que transformações são inevitáveis.
Mas as redes sociais têm múltiplos papeis, que nem sempre são aliadas do aluno ou do professor, e se prestam para disseminar informações, conforme o cliente deseja. A mídia é o quarto poder e deve ser respeitada. Porém, todo o cuidado é pouco, pois ela tem face de anjo e face de demônio e vive da controvérsia.
Domenico De Masi tem razão ao dizer que a escola precisa ser reinventada para voltar a ter um papel preponderante para ensinar valores, ética, disciplina, limites, tolerância, respeito, ensinar a conviver sem conflitos, ensinar a compartilhar, a dividir e não apenas esbulhar.
As mídias, com raras exceções, vendem o que lhes d audiência e por isso vem apenas o lado negro das notícias, os exemplos ruins a sociedade, as notícias tristes, as análises mais negativas e isso as mantem com a audiência em alta. Mas há iniciativas incríveis só divulgando fatos e acontecimentos que enaltecem o gênero humano como e o caso do site Só Notícia Boa.
Evocar os princípios da família, da escola e da mídia nesses tempos de globalização onde tudo começa a perder significado é uma tarefa urgente. A sobrevivência da espécie depende de bons princípios. Repensar os papeis, as funções e o modus faciendi de cada ator no processo e um bom começo, caso contrário ficaremos no diagnóstico já feito por Domenico.