Entre 2015 e 2019, mais de 500 mil educadores brasileiros foram formados em cursos de educação a distância. Além disso, em 2019, pela primeira vez o número de pedagogos e licenciados na modalidade não-presencial foi superior àquele verificado nos cursos presenciais.
Esses dados do Censo da Educação Superior, publicados entre 2016 e 2020, mostram como a migração dos estudantes dos cursos de pedagogia e licenciaturas para os cursos não-presenciais já era uma tendência antes mesmo da pandemia de Covid-19 impor mudanças significativas ao processo educacional.
Apesar disso, mesmo acostumados aos ambientes virtuais de aprendizagem, a maior parte dos professores teve dificuldades para sair da sala de aula convencional e lecionar nas salas de aula virtuais quando a pandemia exigiu essa nova realidade. A explicação para isso, acredito, está na forma como esses profissionais ainda são formados, seja em cursos presenciais ou a distância.
É bem verdade que a aceleração do processo ocorrida em virtude da pandemia dificultou que essa migração acontecesse de forma mais estruturada, com profissionais devidamente capacitados para tal. Contudo, ela também jogou luz sobre o tipo de docente que está sendo preparado nas instituições de educação superior brasileiras. Um docente ainda pouco conectado com as demandas e com a realidade do século 21.
Não podemos negar que a revolução digital chegou para ficar na educação. Tendências como o ensino híbrido e o uso das novas tecnologias na formação educacional são caminhos sem volta. Não podemos mais imaginar uma sala de aula igual à que tínhamos pré-pandemia. O uso de metodologia mais ativa e o novo papel do docente estão postos e precisam ser incorporados à formação dos novos professores.
Como exigir dos docentes uma educação direcionada para desenvolver nos estudantes as soft skills tão valorizadas nos tempos atuais se eles, sequer, tiveram essas habilidades desenvolvidas ao longo do seu processo de formação? O novo ensino médio que está sendo implementado no país prioriza o desenvolvimento de competências como o pensamento crítico, a capacidade de trabalhar em equipe e de resolver problemas, mas até que ponto os 2,2 milhões de docentes da educação básica estão preparados?
A conjuntura atual demanda urgência na revisão dos currículos dos cursos de pedagogia e licenciaturas de modo a equacioná-los com as necessidades do século 21. Além de desenvolver suas próprias habilidades comportamentais, os graduandos desses cursos precisam aprender como desenvolvê-las nos seus alunos. Também é preciso estar preparado para lidar com aulas cada vez mais dinâmicas e engajar os estudantes no processo de ensino-aprendizagem, algo cada vez mais complexo diante da “concorrência” com os inúmeros fatores externos à sala de aula que disputam essa mesma atenção.
Por fim, a nova formação do docente precisa estar centrada na construção de designers de ambiente de aprendizagem. Como é amplamente sabido, hoje a informação está a um clique de distância. Portanto, o desafio é orientar os estudantes nas suas jornadas para que o emaranhado de informações disponíveis seja transformado em conhecimento, fazendo dos docentes, e cada vez mais, curadores de conhecimento.
Ao contrário de profissões que desapareceram, e de muitas outras que desaparecerão nos próximos anos, o professor não será substituído. A sua inteligência criativa e sua capacidade de estimular as pessoas não é algo que possa ser desempenhado por algoritmos. Contudo, um novo horizonte está posto e precisa ser alcançado. A reinvenção do professor é urgente. O novo mundo tem pressa.
Artigo publicado no Estadão dia 29 de dezembro de 2020: http://bit.ly/3sHsK31
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