Temos observado com atenção e preocupação algumas mudanças substanciais que se apresentam no comportamento dos jovens, como consequência, entre outros fatores, das privações reais impostas pela pandemia e do uso excessivo das ferramentas tecnológicas, daí advindo.
O isolamento social, que atingiu os idosos em cheio, não foi menos incisivo para os jovens universitários. Ele provocou um aumento significativo de casos de depressão, diagnosticado maciçamente nesta faixa etária. O aumento dos relatos de insônia, ansiedade, síndromes do pânico e distúrbios alimentares também nos fazem ligar o sinal de alerta.
Estes fenômenos foram ilustrados pela matéria do Jornal O Globo (e também Globo.com) publicada em 29/1/2021:
A pandemia trouxe a obrigatoriedade do uso dos dispositivos digitais para a manutenção de um mínimo e fundamental contato com o mundo, socialização esta que sempre foi garantida, entre outros modos, pelo convívio dos jovens nas Universidades. Com esse mecanismo tão importante de socialização suspenso, a tecnologia, que despontou na última década como uma chance de inclusão, acabou enveredando para um mecanismo ainda mais potente de exclusão: o isolamento do próprio sujeito, muitas vezes enfurnado exclusivamente nos dispositivos digitais, apartando-se de sua relação com a cultura e de seus laços sociais cujo papel é preponderante na manutenção da saúde mental.
Preocupados com esse quadro, o retorno às aulas se torna um especial desafio para os professores. Estes, por sua vez, também sofreram pessoalmente incisivos efeitos, como consequência das circunstâncias impostas pela pandemia, por terem que conciliar as tarefas familiares e sociais com o trabalho online.
Os professores universitários já vinham sentindo o impacto, nos alunos, do uso excessivo dos dispositivos digitais, de modo a trazer reais desafios para a educação em sala de aula. A dificuldade de concentração e desinteresse pela transmissão dos conteúdos oferecidos são os principais efeitos, cada vez mais frequentemente relatados pelos profissionais. O TDAH foi o transtorno psíquico mais diagnosticado na última década, entre jovens entre 17 e 23 anos.
Nos trabalhos que realizo em instituições de ensino do Rio de Janeiro, tanto na rede pública quanto na rede privada, tenho observado o enorme contingente de professores solicitando ajuda para lidarem melhor com essa tensão, seja pelo excesso de tarefas imposto recentemente pela pandemia, seja pelo esforço extra para capturar o interesse e atenção dos alunos. A demanda é cada vez maior para que haja um espaço onde possam trazer suas questões, dúvidas, onde possam elaborar sua angústias. Se isso já se apresentava antes mesmo da pandemia, ganhou ainda mais força agora. É preciso, urgentemente, oferecer um lugar de palavra, um espaço de escuta para esses profissionais que estão na linha de frente da educação.
Vivemos num tempo em que é preciso uma elaboração acerca dos novos laços sociais, constituídos com a presença excessiva das telas e fundamentados num jogo de espelhos onde predomina o imaginário, e inseridos numa dinâmica hiperativa que tende a excluir a separação e o limite - conceitos fundamentais da psicanálise, e clinicamente imprescindíveis para garantir a saúde mental de cada sujeito.
Essa falta de limite, observada entre os jovens universitários, foi abordada no livro que publiquei em 2020 (Jovens em Tempos Digitais), pelos efeitos tão evidentes nas salas de aula.
Como manter a atenção dos alunos, diante de tantas opções acessíveis a um clique, na palma das mãos? Como lidar com a hiperatividade crônica, acentuada pela hiperconectividade compulsória desses tempos modernos?
São questões atuais, contudo recolhidas após trinta anos de experiência com jovens e educadores, e que demandam uma elaboração imprescindível em prol da saúde da nossa cultura como um todo
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